De Poa
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12 de outubro de 2023
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13:28

Maria do Rosário: Meu nome está colocado para disputar a Prefeitura, mas não como imposição

Por
Luís Gomes
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Deputada Maria do Rosário | Foto: Reprodução/De Poa
Deputada Maria do Rosário | Foto: Reprodução/De Poa

O episódio desta semana do De Poa recebe a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Ela conversa com Luís Eduardo Gomes sobre o primeiro ano do governo Lula, as disputas em andamento no Congresso Nacional e as eleições municipais de 2024, incluindo sua possível participação no pleito de Porto Alegre.

Cotada como uma das possíveis candidatas à Prefeitura, Rosário admite na conversa que colocou o seu nome à disposição do PT para a disputa, mas pontua que o mais importante é a unidade de partidos de esquerda para o enfrentamento com o prefeito Sebastião Melo (MDB).

“Eu realmente me coloquei, me coloquei para o PT. Estou conversando, não como imposição, mas como quem coloca à disposição sua vida, seu trabalho, já são tantos mandatos. Eu fui vereadora, deputada estadual, deputada federal, fui ministra, estudo políticas públicas, os temas da educação, os temas da política. Olha, me colocar à disposição é até uma responsabilidade que eu tenho nessa hora. Agora, fazer escolha, tem que ser de um jeito muito legal. Ou seja, eu acho que, nessas eleições, a escolha do nosso campo político tem que ser uma escolha pactuada, não pode o PT chegar para o outro partido e dizer: ‘É isso aqui, é a Maria, ou é João ou é Pedro’. Então, a gente está vendo qual é o caminho pelo qual nós vamos decidir, com o campo político, quem estará nessa chapa e representará o conjunto”, afirmou.

 

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O De Poa, parceria do Sul21 com a Cubo Play, é um programa de entrevistas sobre temas que envolvem ou se relacionam com a cidade de Porto Alegre. Todas as quintas-feiras, conversamos com personagens ilustres ou que desenvolvem trabalhos importantes para a cidade. Semanalmente disponível nas plataformas da Cubo Play e do Sul21.

Confira a seguir alguns trechos da conversa com a deputada federal Maria do Rosário.

Luís Gomes: Deputada, o seu nome está colocado, não sei se oficialmente, não sei se pela senhora ou pelo partido, como possível candidata à Prefeitura de Porto Alegre. O que tem de oficial nisso?

Maria do Rosário: Antes de tudo, quando uma pessoa vai se colocar ou vai conversar com seu partido, com um conjunto de partidos, como eu acho que a primeira coisa que a gente tem que fazer para Porto Alegre é criarmos um projeto popular, da esquerda, dos setores da democracia. Não dá para ver a cidade ser levada para homenagear o 8 de Janeiro, como se não fosse nada o golpismo, o terrorismo, e a extrema-direita, que tenta mobilizar a política nacional, estar aqui encrustada na administração municipal, ocupando espaços e disputando com os aspectos mais retrógrados e preconceituosos, através da gestão pública, a formação da cidade. Então, não dá para separar tanto o que está acontecendo. Quando eu avalio que a gente pode formar uma frente de esquerda, popular, dos movimentos, por uma cidade democrática, eu penso em todos os partidos que compõem a Frente o Brasil da Esperança, no PT, no PCdoB, no PV, mas penso no PSOL, na Rede. Penso que a gente tem um diálogo importante para resgatar com trabalhismo gaúcho, porque o Brizola sempre foi uma figura também contra qualquer ditadura, seja na comunicação, seja na política, em qualquer espaço, e essa tradição também tá aqui. Com o PSB. Nós temos que abrir esse diálogo a partir desses setores do campo democrático e de esquerda com a cidade como um todo, com os partidos, e olhar os movimentos sociais que a cidade tem.

E tem uma coisa que eu sempre acho que eu tenho com Porto Alegre. Outro dia eu estava falando isso para o Raul Point, que eu vejo assim uma pessoa muito com a cara da gente, porque conhece e se dedica, eu acho que eu tenho também uma dívida de vida, porque toda minha trajetória de atravessar o caminho até em direção a Cachoeirinha, Alvorada, Canoas, mas de ir para Brasília, de ir para o mundo, tratar da política com as coisas que eu acredito, tem a ver com estar aqui, com primeiro ser daqui. Então, eu quero também me dedicar, com tudo que eu aprendi, com tudo que eu também não sei, porque a gente está sempre aprendendo, eu quero me dedicar a aprender o máximo sobre essa coisa do território, da cidade real, de como as pessoas vivem, para construir qualidade de vida para as pessoas que vivem na Capital.

Então, eu realmente me coloquei, me coloquei para o PT. Estou conversando, não como imposição, mas como quem coloca à disposição sua vida, seu trabalho, já são tantos mandatos. Eu fui vereadora, deputada estadual, deputada federal, fui ministra, estudo políticas públicas, os temas da educação, os temas da política. Olha, me colocar à disposição é até uma responsabilidade que eu tenho nessa hora. Agora, fazer escolha, tem que ser de um jeito muito legal. Ou seja, eu acho que, nessas eleições, a escolha do nosso campo político tem que ser uma escolha pactuada, não pode o PT chegar para o outro partido e dizer: ‘É isso aqui, é a Maria, ou é João ou é Pedro’. Então, a gente está vendo qual é o caminho pelo qual nós vamos decidir com o campo político quem estará nessa chapa e representará o conjunto.

Luís Gomes: Mas já não está tarde para definir como será feita a escolha do nome dessa unidade?

Maria do Rosário: Eu acho que não está tarde, porque, na construção desse projeto e deste nome, eu acredito que nós estamos também construindo a relação com a cidade e mostrando a diferença. Ou seja, esses partidos que eu citei, movimentos sociais que vivem a cidade, movimentos novos, que se renovaram, movimentos culturais, ambientalistas, dos bairros, das comunidades, comitês populares de luta, tudo que vive e pulsa nessa cidade valoriza muito a democracia. Então, não é de cima para baixo, é muito dialogado. Agora, ao mesmo tempo, um projeto coletivo se faz com todas essas etapas. Nós vamos chegar muito mais fortes no momento da eleição construindo juntos e juntas este processo.

Luís Gomes: Mas a senhora acha que está bem encaminhado?

Maria do Rosário: Eu acho que tá bem encaminhado, eu estou contente em participar de um processo, de não ser uma imposição de forma alguma, mas de entender também que, ao mesmo tempo que eu quero aprender muito e sempre, eu me coloco à disposição quase que pedindo a oportunidade para a cidade de poder servir, de poder me dedicar a ela. Eu fui candidata à vice-prefeita na chapa do Raul Pont, em 2004. Fui candidata em 2008 a prefeita.

Luís Gomes: O que mudou entre aquelas candidaturas e agora, não necessariamente só com a senhora, mas em relação a Porto Alegre?

Maria do Rosário: Nós enfrentamos uma batalha eleitoral naquele momento que dizia ‘fica o que tá bom, muda o que não tá ‘ e um candidato, José Fogaça, que era uma figura querida da vida da cidade. Só que tem 20 anos que esse projeto, que começou com Fogaça, muito se distanciou do Fogaça, muito se distanciou de ‘fica o que tá bom’. Hoje é um projeto privatista, é um projeto que perdeu qualidade no transporte coletivo, que deixa as pessoas mais tempo num ônibus quebrado ou até com a vontade sempre que possível de optar não pelo ônibus, de optar por qualquer outra forma de transporte. Perdeu qualidade, portanto, no ir e vir. Não sonhou, não projetou novas coisas. Em termos de habitação, eu lembro que, e aí eu acho que não dá para enfrentar a batalha do hoje com saudosismo de ontem, mas tem coisas que a gente aprende com o Raul, que aprende com o Olívio, com Tarso, que era o diálogo com os empreendimentos que se colocavam na cidade e que, na verdade, cada um dos empreendimentos tinha uma série de medidas mitigatórias, que tinham toda uma dimensão ambiental e de qualidade de vida para as pessoas, o que depois isso foi se perdendo. Fazer as coisas com as pessoas, fazer com a comunidade, fazer saúde pública, fazer SUS como sistema, ouvindo as comunidades, mapeando, conhecendo, entendendo, é muito diferente do que acontece atualmente na cidade que desvaloriza o Conselho Municipal de Saúde, cidade que tem fechado hospitais, que não abriu, nesse tempo todo, novas unidades básicas de saúde, a não ser as unidades federais do período ainda que o Lula governava, que Dilma governava, antes, portanto, do golpe que aconteceu contra a Dilma. Então, a cidade perdeu a potência em termos de política pública e qualidade de vida. Nós perdemos qualidade de vida, perdemos qualidade de vida em termos de meio ambiente, de preservação de parques, perdemos qualidade de vida em termos de acesso à habitação popular, acesso ao transporte coletivo, às escolas. Não tem escolas novas, não tem novas unidades de educação infantil. Então, eu vejo que a cidade foi perdendo, para ela e na sua relação com o mundo.

Agora, eu também mudei, e aí eu quero dizer ‘que bom’. Mudar é um jeito de estar vivo, a gente está vivendo. Nesse tempo, eu fui ministra, eu assumi diferentes mandatos, fui relatora de projetos importantes, sou a autora de leis estruturantes para as políticas públicas do Brasil, de proteção à infância, de garantias de direitos de vida às mulheres, que dialoga com pessoas com deficiência, com envelhecimento humano, que é uma das pautas que mais me preocupam em relação a Porto Alegre, porque não é ao acaso que a cidade também perdeu população ao longo dos últimos anos. Entre o censo de 2010 e esse que nós agora estamos ainda aferindo e analisando os números, nós tivemos uma perda populacional, pessoas que se mudaram da cidade, que foram para outras cidades.


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