De Poa
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4 de maio de 2023
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11:35

Renato Dornelles: ‘A sociedade odeia o crime masculino, mas admite. Agora, o feminino não’

Por
Luís Gomes
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Renato Dornelles é o entrevistado do segundo episódio do De Poa | Foto: Reprodução
Renato Dornelles é o entrevistado do segundo episódio do De Poa | Foto: Reprodução

O segundo episódio da nova temporada do podcast De Poa, que vai ao ar nesta quinta-feira (4), recebe o jornalista, escritor e cineasta Renato Dornelles, que está lançando em maio, em parceria com Tatiana Sager, o filme ‘Olha pra Elas’. Ele bate-papo com os jornalistas Luís Eduardo Gomes e Luciano Velleda, do Sul21, em programa gravado na sede da Cubo Play.

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Há décadas acompanhando a cobertura policial, primeiro nas páginas de jornais e agora nas telas de cinema, ele fala sobre os principais casos que acompanhou na carreira, o surgimento e crescimento das facções no Rio Grande do Sul e a diferença entre o encarceramento masculino e feminino, tema do filme ‘Olha para Elas’.

Renato também fala sobre outro tema que acompanhou de perto em sua carreira, o Carnaval das escolas de samba de Porto Alegre, destacando o descaso com o qual o evento foi tratado no final da década passada e a retomada que ocorre nos últimos anos.

Confira a seguir trechos do episódio com Renato Dornelles.

Luís Gomes: Como tu foi parar na editoria de segurança pública?

Renato Dornelles: Eu acho muito interessante essa pergunta e para mim é muito importante pessoalmente, porque tem uma curiosidade. Quando, eu fiz a faculdade na Famecos, na PUCRS, eu sempre repetia que o único setor que eu não queria trabalhar era o de polícia.

Luciano Velleda: Ficar fazendo plantão em delegacia.

Renato: Exato. É que eu tinha uma visão crítica, porque a minha infância e a minha adolescência foram marcadas quando existia o jornalismo sensacionalista nessa área, com raras exceções.

Luís: Tu morava aonde?

Renato: Eu morava na Cavalhada. Mas eu via nos jornais, e até nos grandes — tirando o Correio do Povo e a Folha da Manhã –, a gente tinha a Zero Hora e a Folha da Tarde que davam notícias bem sensacionalizadas. Eram os jornais que eram pendurados nas bancas, chamavam a atenção com futebol e polícia. Aparecia fotos de cadáveres, então eu tinha na cabeça que não queria trabalhar com esse tipo de sensacionalismo. Não eram todos os colegas, mas muitos daqueles que trabalhavam na década 1970 eram bem sensacionalistas. Eu não queria por causa disso, mas, quando eu me formei, comecei a trabalha na Rádio Gaúcha.

Luís: Em que ano?

Renato: 1986. Logo veio um convite justamente para a editoria de polícia da Zero Hora. Primeiro, eu fui assim meio despretensioso, mas aí o editor pediu que eu fizesse uma reportagem um dia. Eu fiz. No outro dia, ele disse: ‘se tu quiser, a vaga é tua’. Eu fiquei paralelamente. Mas aí eu senti que havia naquele momento, de parte principalmente de alguns colegas (…), um novo tipo de reportagem policial. O que acontecia? Em 1986, fazia um ano que havia acabado o regime militar e fazia menos de 10 anos da anistia, da abertura política. Os órgãos policiais, até porque ainda não tínhamos a Constituição Cidadã de 1988, continuavam agindo como antigamente. Havia tortura, havia prisões ilegais, havia uma série de coisas que decorriam ainda do período anterior. E os movimentos de direitos humanos, como não tinham mais presos políticos, começaram a migrar para controlar a questão do chamado preso comum. E parte do jornalismo, e aqui faço um elogio aos colegas do Diário do Sul, pena que o jornal durou pouco, mas lá tinha o Humberto Trezzi, Ricardo Stefanelli, bons jornalistas que estavam para essa linha dos direitos humanos na editoria de polícia.

Ali, eu percebi uma mudança e uma esperança de que a editoria de polícia poderia ser diferente daquela ideia que eu tinha. Eu entrei em 86, em 87 nós tivemos o caso do homem errado, que um foi operário negro confundindo com assaltantes e se comprovou, através do jornalismo (…), de fotos, que um operário havia sido executado pela Brigada Militar. Naquele tempo, ainda estávamos com resquícios da ditatura. Esse foi um fato e, no mesmo ano de 1987, houve um motim no Presídio Central e me chamou a atenção quando um dos líderes gritou na janela que a gente ia ver que (palavrão) quadrilha ia sair dali.

De 1986 para 1987, eu comecei a ler sobre o crime e já havia estudado bastante sobre a criação da Falange Vermelha, no Rio de Janeiro, e sabia que era a reunião de assaltantes de banco com traficantes que resultou na primeira facção criminal do País. Nesse motim de 1987, me chamou a atenção que assaltantes de banco conhecidos haviam puxado para esse motim o Carioca, que era o principal líder do tráfico de drogas de Porto Alegre. Ali, então, dava para perceber que estava havendo o mesmo processo que tinha acontecido no Rio.

Luís: É o nascimento do crime organizado em Porto Alegre?

Renato: Exato. A partir dali, eu comecei incessantemente a pesquisar, recebia negativa de autoridades, recebia negativa da maioria dos delegados.

Luís: No sentido de que não estava acontecendo?

Renato: Exato, de que era fantasia e tal. Mas presos ou criminosos me diziam que sim, que tinha um livro-caixa, que estava assim e assado. Antes disso, os assaltantes de banco viviam só uma aventura. Assaltavam um banco, percorriam o País gastando o dinheiro, voltavam, assaltavam outro banco e iam assim. A partir daquele momento, eles começaram a pensar em acumular capital, adquirir patrimônio para a lavagem de dinheiro. Ou seja, começaram a ver de outra maneira o crime, como lucrativo, não só o crime como um dinheiro momentâneo para se gastar.

Luís: Começaram a se organizar?

Renato: Sim. Deixando a modéstia de lado, eu fui o primeiro a apostar nisso. Tanto que resultou depois no livro Falange Gaúcha. E, vejam só, foi lançado só em 2008, as pesquisas começaram em 1987. Saiu só 21 anos depois.

Luciano: O crime mudou muito desde então?

Renato: O crime se expandiu muito, justamente porque, quando houve a criação dos grupos, isso possibilitou uma expansão. Primeiro surgiu a facção lá do Rio de Janeiro, que começou com o nome de Falange Vermelha. Depois, no próprio Rio de Janeiro, surgiram outras. Mas eu digo, o crime no Brasil ainda é pré-organizado, pode estar num caminho de organização, mas ainda não é um crime organizado. Ele não consegue uma unificação e, ao mesmo tempo, não consegue fazer com que os grupos existentes façam, como as máfias fizeram, com que os territórios sejam loteados a fim de que acabe a guerra entre eles.

Depois, nos anos 1990, decorrente do Massacre do Carandiru, onde 111 presos foram mortos, surgiu o PCC, que é o grupo paulista e a maior herança do massacre. Muita gente diz: ‘tinha mais é que fazer’. Bom, está aí o PCC se expandindo pelo Brasil inteiro. Essa expansão das facções do Rio e de São Paulo acabou, de certa forma, motivando a criação de outros grupos em vários outros estados.

Luís: Qual seria a solução? Passa por descriminalizar ou legalizar as drogas? Isso tiraria o poder dessas facções ou elas dariam um jeito de manter o poder?

Renato: Não é uma solução mágica, descriminalizou, acabou. O problema é que não se aceita nem uma discussão em torno disso. Eu acho que poderia, sim, enfraquecer. ‘Ah, mas vai continuar existindo o tráfico, tem gente que não vai querer comprar do Estado, se ele estiver controlando as drogas’. Mas, mesmo assim, creio que perderia a força. A guerra às drogas começou no início do século passado nos EUA e o Brasil sempre copiou. Tanto que, estudando, eu vi que lá na origem o Brasil tinha participado de tratados e feito leis contra o ópio, só que o ópio não vinha para cá.

Luís: E é curioso que o Brasil não copia, por exemplo, a legalização que tem em muitos estados americanos.

Renato: Claro, vai copiar só o que interessa. Por quê? Porque a guerra às drogas é altamente lucrativa, principalmente nos EUA.

Luciano: Lucrativa para quem?

Renato: Para o país como um todo, um país que comercializa armas…

Luís: Comercializa prisões também.

Renato: Agora, está havendo uma reversão, mas tem as prisões privadas nos EUA. Recomendo, para quem não assistiu, a 12ª emenda, um documentário sensacional que explica o quanto se lucra com o encarceramento em massa.

Luciano: Prisões privadas que estão chegando ao Brasil.

Renato: Eu sou totalmente contra, sempre me manifestei. Até pode haver uma PPP, mas desde que as principais funções das prisões não saiam das mãos do Estado. Qual é o objetivo de qualquer empresa privada? É o lucro. Qual é a empresa que vai ter interesse em eliminar aquilo que é a razão do seu lucro? Se o aprisionamento e o encarceramento geram lucro para uma empresa, ela não vai querer que os presos se recuperem e deixem o crime, porque ela vai acabar falindo. Uma situação hipotética, absurda, claro, mas, se acabasse o crime, essas empresas estariam falidas. E, nos EUA, se viu que, nas prisões privadas, havia muito mais punições internas e as penas eram cumpridas durante muito mais tempo do que nas prisões públicas.

Luciano: Nos últimos anos, as penitenciárias têm sido o foco do teu trabalho por meio de curtas, filmes, séries. Agora em maio, vai estrear em Porto Alegre o teu último filme: ‘Olhe para Elas’. Eu achei interessante essa perspectiva do encarceramento feminino. Conversando com a Tatiana Sager [coautora do filme], em outra ocasião, ela contou que as escutas nos presídios masculinos pegam os homens sempre falando de negócios e do crime. E, nos presídios femininos, a preocupação das detentas é a família e os filhos. O que tem sido para ti se aproximar essa realidade dos presídios brasileiros e especificamente das mulheres?

Renato: Começando pelo masculino, eu acho que, com o documentário Central — o poder das fações no maior presídio do Brasil, a gente quebrou alguns paradigmas, porque as pessoas tinham uma ideia falsa de que o sistema está bom quando não está dando problema. Não tem fuga, não tem motim, está bom. E a gente mostrou que, quando ele está calmo, é porque lá de dentro os líderes estão comandando a lucratividade lá dentro e aqui fora.

No feminino, a gente vê que mesmo as mulheres presas por crimes relacionados ao tráfico de drogas, e isso é mais da metade delas e um percentual até maior do que os homens, a gente vê que as mulheres não desempenham função de liderança. Muitas vezes, elas são usadas pelo crime.

Luciano: Pelo namorado, pelo marido?

Renato: Às vezes, pelo filho. São presas muito em função de uma figura masculina. E quando ela atua em alguma quadrilha, a função dela é extremamente subalterna. Temos o caso de uma mãe, com seis filhos, abandonada, ofereceram e ela aceitou traficar drogas na casa dela. Houve um homicídio e acabou caindo para ela como se fosse líder. Mas só de ver o jeito dela falar, a situação de miserabilidade da família, a gente vê que não tinha a mínima possibilidade dela ser uma líder. Mesmo assim foi condenada como tal, pegou 30 anos, 18 pelo homicídio e 12 pelo tráfico.

E as situações das mulheres acabam gerando uma crise na família. Porque quando o homem é preso, ele tem a mulher lá fora. Na verdade, muitas vezes ele não está nem morando com os filhos, nem ajudando em casa, quem está sustentando, segurando, é a mulher. Agora, quando essa mulher é presa, a família desestrutura, os filhos têm que ser espalhados, às vezes até são abandonados, ficam em situação muito mais vulnerável. E a mulher paga uma pena maior, como eu sempre falo nas palestras para as mães: ‘imagina vocês ficaram três meses, seis meses, dois anos sem notícias dos filhos, como vocês estariam?’ Esse é o maior sofrimento que a gente percebe dentro dos presídios femininos, porque mais da metade é mãe.

E mulher não recebe visita nos presídios, ao contrário dos homens.

Luís: Por que não recebem visitas?

Renato: Por uma série de situações. Principalmente, eu colocaria a questão de um pensamento machista da sociedade. O homem, quando ele é preso, eu vou usar uma expressão que eles usam muito, ele é apoiado pela companheira, que é fiel, vai toda semana levar itens de higiene e de alimentação, vai levar sacola no Presídio Central. Terça, quarta, sábado e domingo são dias de visita. Nós filmamos mais de 70 dias, todos os dias de visitas sempre teve gente. Nós nunca encontramos uma fila no presídio feminino, porque os poucos visitantes entram direto.

Luciano: Nem uma mãe ou um pai?

Renato: Tu falaste em mãe. O machismo está tão incutido na sociedade que tu vê várias mães nos presídios masculinos e pouquíssimas no presídio feminino. A sociedade odeia o crime masculino, mas de alguma forma admite. Agora, o feminino ela não admite. À mulher, não é permitido cometer crime. Tem mães que visitam o filho no presídio masculino e não visitam no feminino. Durante as filmagens, eu entrevistei uma deficiente visual, que lá dentro contava com a ajuda das outras presas. Eu perguntei para ela se recebia visita. Ela disse que não. ‘Ué, mas tu não tem familiar?’ ‘Eu tenho a minha mãe’. ‘Mas ela não vem te visitar?’ ‘Não, ela disse que, se eu fiz, tenho que pagar e o problema é meu’. Então, a própria mãe, que é mulher, foi incutido nela o pensamento de que à mulher não é aceitável que se envolva em qualquer tipo de delito. Sendo que muitas estão lá sem ter cometido qualquer delito. Tem vários casos de mulheres que estão presas porque a polícia deu batida na casa de um traficante, que é companheiro dela, e mesmo sem nunca ter traficado, por estar com aquele companheiro, ela foi presa.

Luciano: E o teu envolvimento com o Carnaval. Ele teve a função de aliviar um pouco o peso da cobertura policial? Tu sempre gostou desde criança de Carnaval ou, durante a carreira, teve o sentido de transitar numa área mais light?

Renato: As duas coisas. A minha família foi da Colônia Africana e, dos dois lados, foram ligados ao Carnaval. As minhas origens sempre foram ligadas, eu sempre gostei. E, claro, também tem isso [do alívio]. O Carnaval é alegria, ele faz um balanço, um equilíbrio, porque realmente é pesado tu trabalhar temas como o sistema penitenciário, o crime organizado. Por outro lado, tem o lado alegre, festivo, do Carnaval, por isso que eu digo que as duas coisas. Sempre gostei e me ajuda bastante, me dá bastante força, por fazer esse equilíbrio dos temas que eu trabalho.

Luís: E como tu vê o momento do Carnaval das escolas de samba de Porto Alegre, que sofreu com a perda de recursos antes da pandemia, ficou paralisado. Quando retornou, retornou fora de época, na Semana de Porto Alegre, fora do Carnaval. Agora está numa fase de retomada. Como tu viu esse descaso do poder público e essa retomada?

Renato: O Carnaval de Porto Alegre vai como uma onda, tem épocas de dificuldades, mas sempre resistiu. Mas os piores momentos foram agora, com o governo Marchezan na cidade, quando ele cortou totalmente o auxílio ao Carnaval. Já houve um problema anterior que agravou e vai fazer 20 anos agora, que foi a saída do centro para um dos extremos da cidade, para o Porto Seco. Isso foi um problema grave e eu inclusive conheço pessoas que todo ano iam ao Carnaval, religiosamente, e nunca foram ao Porto Seco. Junta com outras coisas, corte de verbas e teve um ano que nem tivemos Carnaval, antes da pandemia. Junta com a pandemia, para piorar a situação, e aí teve mais um ano sem desfile. Mas agora tem uma retomada e eu incluo a retomada da Cubo Play no Carnaval, que tem dado uma grande visibilidade. Não só para a autoestima do carnavalesco, aquele que desfila, aquele que participa, mas também como forma de atrair até pessoas de outros estados.

Eu participei da transmissão da Cubo Play em 2022. Nós estávamos transmitindo e o humorista Marcelo Adnet estava zapeando, em casa, ele é louco por Carnaval e viu que tinha um Carnaval acontecendo. Ele viu uma escola de samba, que é a Realeza, com um desfile sobre o Massacre de Porongos, cujo o título do tema era maravilhoso: ‘Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer’. Ele se apaixonou à primeira vista, pegou um avião e veio para Porto Alegre para o outro dia de desfiles. Esse ano, ele compôs o samba da Realeza e desfilou.

Nós estávamos perdendo, Porto Alegre, para Uruguaiana, que foi a primeira cidade a marcar um Carnaval fora de época. Nós íamos todos os anos ao Rio de Janeiro cobrir o Carnaval, e o pessoal dizia: ‘ó, tô indo lá’. Mas eles não estavam se referindo a Porto Alegre, estavam se referindo a Uruguaiana. E agora Porto Alegre já está fazendo parte do circuito. Muita gente, inclusive puxadores de escola de samba, mestre-salas e porta bandeiras e outras pessoas que gostam de Carnaval e tem disponibilidade têm feito um circuito. Eles desfilam no Rio de Janeiro, no final de semana seguinte tem o desfile das campeãs. No outro final de semana, é Porto Alegre, eles descem. Aí no outro final de semana é Uruguaiana e no outro é Cruz Alta. Esse ano, eu fui a Cruz Alta e vi pessoas que foram a esses quatro lugares. Por isso a importância de termos a divulgação do Carnaval para ter um fortalecimento. Eu acredito que estejamos num caminho de retomada, apesar de todas as dificuldades. Ano passado voltou o apoio da Prefeitura, temos que registrar isso também.

Luciano: E qual a importância desse apoio do poder público?

Renato: Nesse momento, é [importante]. Primeiro, eu entendo que o Carnaval é cultura e uma das funções do Estado é fomentar a cultura.

Luís: E é a chamada economia criativa que tanto se fala.

Renato: Exatamente, cadeia criativa e produtiva do Carnaval. Então, acho que tem que haver. E as escolas, no momento, têm pouco investimento, mas com essa visibilidade que está sendo dada já fica mais fácil também atrair investimentos. Mas enquanto não existir um aporte firme do setor privado, acho que a Prefeitura tem [que apoiar]. Outro problema também foi que, quando mandaram para o Porto Seco, prometeram toda uma estrutura que não existe até hoje. Isso requer que, todo os anos, se contrate uma produtora para montar a estrutura, aí foi um problema do poder público que ele tem que pagar por isso. Mas, por exemplo, o Rio de Janeiro gera um superávit de bilhões com o Carnaval, contando a quantidade de turistas que lotam os hotéis, que consomem em restaurantes, lojas, bares, passeios. Fora as pessoas que vão para desfilar e a própria cadeia produtiva do Carnaval. Cada escola de samba tem 3.500 pessoas, aí tu multiplica isso, quantas fantasias estão aí, quanto se movimento o comércio comprando tecido, pagando costureira, mais os aderecistas dos carros alegóricos, mais as 70 mil pessoas que vão ver o desfile do grupo especial, vão lá e consomem também. E o Carnaval do Rio não é só escolas de samba, os blocos movimentam muito mais gente até do que o desfile da Sapucaí. (…) Tem blocos 24 horas no Rio, em vários pontos da cidade, que estão recebendo turistas, que estão consumindo cerveja, refrigerante, adereço para as fantasias. Então, acho que Porto Alegre, que está investindo na questão turística, ok, tem que também começar a dar estrutura e condições para que o Carnaval também volte. Ele já foi considerado o segundo do País, nos anos 1960, 1970, e eu lembro, quando criança nos anos 1970, de estar nas arquibancadas da João Pessoa, que lotavam com 30 mil pessoas, e ouvia o o sotaque espanhol e portunhol do lado. Vinham muitos argentinos e uruguaios assistir ao desfile aqui, porque era mais perto, mais fácil. Se Porto Alegre, que está se modernizando, tiver atrativos turísticos e mais um Carnaval organizado, de repente muita gente não vai usar aqui só como passagem para Santa Catarina, para o Rio de Janeiro e para o Nordeste, vai chegar aqui e vai parar.


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