Meio Ambiente
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18 de setembro de 2023
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18:57

Estudo da UFRGS e da Univates mapeia áreas inundadas no Vale do Taquari

Por
Luciano Velleda
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 Mancha da cheia em Lajeado. Foto: Divulgação Univates e UFRGS
Mancha da cheia em Lajeado. Foto: Divulgação Univates e UFRGS

Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) entregaram, nesta segunda-feira (18), para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), o relatório preliminar das áreas urbanas inundadas durante a cheia do Rio Taquari-Antas, na região do Vale do Taquari, no início do mês de setembro, elaborado em conjunto com a Universidade do Vale do Taquari (Univates).

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Os pesquisadores apresentaram uma estimativa das áreas urbanas que foram inundadas durante a enchente ocorrida nos dias 4 e 5 de setembro. O mapeamento abrangeu as cidades de Santa Tereza, Muçum, Encantado, Roca Sales, Lajeado e Estrela.

Para os municípios de Santa Tereza, Muçum, Encantado e Roca Sales, a metodologia utilizada consistiu na interpretação de imagens de satélite. Nos municípios de Lajeado e Estrela, foram utilizados pontos levantados em campo pela equipe técnica, além de processamentos utilizando um modelo digital de elevação (MDE).

“Não é de hoje que estudamos o Vale do Taquari, já temos um outro estudo bastante extenso, efetuado em 2014-2015. O produto entregue hoje é um levantamento preliminar, que iremos aprimorar. É necessário desenvolver uma cultura da prevenção para a região e esse estudo servirá de modelo para outras pesquisas futuras”, afirmou Joel Goldenfum, diretor do IPH.

Docentes da Área de Ciências Exatas e Engenharias (CEE) da Univates explicam que o mapeamento das áreas de inundação foi desenvolvido após a realização de atividades de reconhecimento em campo em parte das áreas afetadas, na interpretação visual por especialistas em hidrologia em imagens de satélite de alta resolução e informações topográficas e modelos digitais de elevação.

1) Mancha da cheia em Roca Sales. Foto: Divulgação Univates e UFRGS

Os pesquisadores informam que, em se tratando de um mapeamento preliminar, há um determinado nível de incerteza na localização dos limites das áreas impactadas, que podem ser da ordem de centenas de metros. Por isso, eles explicam, essa estimativa das áreas inundadas é adequada para avaliações regionais e da área total impactada, não sendo adequada e não sendo recomendável o uso das informações disponibilizadas para estudos na escala de lotes.

O grupo ainda recomenda que a estimativa seja validada e revisada com base em estudos mais detalhados utilizando medições em campo. E destaca que esta é uma estimativa da área inundada do evento específico de 4 e 5 de setembro de 2023, não sendo associado a um grau específico de risco, probabilidade de ocorrência ou tempo de retorno.

Secretária Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann disse que o estudo ajudará o governo estadual a planejar políticas públicas para áreas de risco.  “Esse evento foi extraordinário, porém essas regiões já contam com registros históricos de enchentes. Enxergar as manchas de inundação e as pessoas impactadas auxiliará na construção de políticas públicas para o planejamento e adequações das áreas de risco. Os municípios do Vale do Taquari poderão servir de piloto para esse projeto que envolve governo e universidade”, explicou Marjorie.

O encontro também serviu para debater a proposta de parceria entre o governo estadual e a UFRGS, por meio de um termo de cooperação, que poderá ser assinado nos próximos dias. Segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), uma vez formalizada a parceria, será possível concretizar uma proposta mais detalhada das ações a serem elaboradas de forma conjunta.

Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Guilherme Marques participou, na última sexta-feira (15), de audiência pública na Assembleia Legislativa proposta pela Frente das Águas, liderada pelo deputado estadual Miguel Rossetto (PT).

Na ocasião, o professor destacou a necessidade dos municípios se preparem para os  eventos climáticos extremos por meio de planos de adaptação, que não necessariamente envolvem grande obras de engenharia. Para ele, é preciso que cada município se engaje no seu planejamento urbano e plano diretor, reconhecendo que os atuais planos diretores e zoneamentos não estão sendo capazes de proteger as cidades da mudança do clima.

“A gente sabe o que tem que ser feito. O zoneamento, a identificação de zonas de cheia… a lacuna é o ‘como’?, ponderou, reconhecendo a falta de recursos financeiros de muitos municípios para agir nesse sentido. “Não tem uma única resposta pronta, mas temos que pensar.”

Marques ainda ressaltou que a tragédia ocorrida no Vale do Taquari aponta para o momento de refletir sobre as escolhas hídricas dos municípios. E alertou que outros municípios não castigados nas atuais chuvas também estão sob risco. “Não podemos perder essa oportunidade de pensar diferentes estratégias de reordenamento do solo”, defendeu.


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