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19 de janeiro de 2024
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17:49

Uso de geradores para manter abastecimento após queda de luz é inviável, diz diretor do DMAE

Por
Felipe Prestes
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Pagamento de horas extras será feito apenas para as áreas finalísticas do Dmae. Foto: Alex Rocha/PMPA
Pagamento de horas extras será feito apenas para as áreas finalísticas do Dmae. Foto: Alex Rocha/PMPA

O diretor-geral do DMAE, Maurício Loss, classifica o uso de geradores para manter as estações do departamento funcionando como inviável “tecnicamente e economicamente”. O Sul21 ouviu o diretor nesta quinta-feira (18), enquanto milhares de porto-alegrenses ainda sofriam com falta d’água e de luz após o temporal da última terça (16).

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Loss exemplifica os custos econômicos do uso de geradores com os investimentos recentes feitos na Estação Belém Novo. Em dezembro, uma interrupção de energia de quatro horas, aliada ao alto consumo devido ao calor, fez com que moradores da Lomba do Pinheiro ficassem cerca de dez dias sem água. Para evitar que isso ocorra novamente, o DMAE alugou um conjunto de seis geradores e três transformadores elevadores de tensão por 90 dias, e o custo foi de R$ 2,1 milhões.

O órgão não tem um levantamento de quantos geradores seriam necessários para garantir o funcionamento de toda a rede, nem o custo disso. “Se a gente começa a falar de todo o sistema do DMAE, de seis estações de tratamento de água e 87 estações de bombeamento, que ajudam a impulsionar água tanto para partes mais altas, quanto para partes mais distantes, a gente está falando, talvez de 100 geradores, 150 geradores”, afirma Loss.

De acordo com o diretor, os custos teriam que ser repassados à população. “É um equipamento que seria usado duas, três vezes no ano, e precisaria também de um contrato robusto de manutenção, porque naquele momento que tu precisares ele vai ter que funcionar. Então custaria muito ao DMAE, e, inevitavelmente, a gente teria que passar esse custo para a população e a gente não quer isso. A gente quer que a CEEE Equatorial preste um bom serviço, com agilidade, com equipes exclusivas”.

Outra alternativa seriam placas solares nas estações do DMAE, mas, segundo Loss, também teriam um alto custo. “A gente precisaria de uma imensidão de placas solares também, para que se produzisse energia suficiente”.

O diretor-geral conta que algumas unidades do DMAE já contam com dupla alimentação, ou seja, quando cai a luz, se recebe por outra transmissão, mas isso não garante o funcionamento em eventos extremos, como o da última terça-feira (16). “Os danos foram tantos em Porto Alegre, que muitos caíram as duas (alimentadoras), tanto a principal quanto a secundária. Então, a gente teria que trabalhar com linhas exclusivas, postes exclusivos pro DMAE, com redes mais altas, bem longe de árvores. Tudo isso gera custo, mas tem que se debruçar nisso”.

O professor Mauricio Dai Prá, coordenador do Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica no Saneamento (LENHS) da UFRGS, afirma que, em linhas gerais, é recomendável o uso de geradores no abastecimento de água. “Mas cada situação precisa ser avaliada cuidadosamente levando-se em conta o porte e quantidade de equipamentos envolvidos (bombas hidráulicas e motores elétricos), o que depende, por exemplo, do volume de água a ser bombeado, da altura a que esta água deve ser elevada, das dimensões da rede, entre outros. A questão de fazer um investimento deste porte (equipar os sistemas e subsistemas do DMAE com geradores) passa, inevitavelmente, por estudo de viabilidade técnica e econômica”, explica.

Além do uso de geradores, Dai Prá não vislumbra outra fonte de energia possível para as companhias de abastecimento evitarem a interrupção de seus serviços. “Não tenho conhecimento de práticas ou exemplos no sentido de uso de uma fonte alternativa de energia que tenha sido adotada por companhias de saneamento para utilização em situações atípicas provocadas por eventos extremos”, diz.

Do ponto de vista das empresas de distribuição de energia elétrica, o coordenador do LENHS/UFRGS diz que há medidas que podem ser tomadas. “Olhando para a realidade brasileira em geral (e não estou falando especificamente de Porto Alegre), do ponto de vista de distribuição de energia elétrica em áreas urbanas, somos bastante frágeis quanto aos efeitos decorrentes de eventos extremos. Talvez pudessem ser pensadas algumas práticas visando ampliar a proteção do sistema de distribuição de energia elétrica principalmente em trechos de rede que abastecessem as instalações do DMAE. Ações de menor custo como intensificação das atividades de poda de vegetação ou de maior custo e complexidade como por exemplo cabeamento elétrico subterrâneo, a verificar a viabilidade, por óbvio, poderiam ser avaliadas”.

Dai Prá pontua que após eventos atípicos como o desta semana sempre deve haver uma avaliação e possíveis correções de rumo. “Entendo que todas as companhias de energia elétrica têm planos de contingência traçados para situações deste tipo. Em qualquer situação, após eventos atípicos, são recomendadas revisões e atualizações destes planos a partir da experiência adquirida, visando melhoria nos processos internos da companhia para melhoria das condições de atuação em situações futuras”.


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