Política
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1 de janeiro de 2023
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18:41

Lula recebe a faixa de representantes do povo e chora ao falar de desigualdade e racismo

Por
Flávio Ilha
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, emocionado durante cerimônia de posse, no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, emocionado durante cerimônia de posse, no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foi ao som de Trenzinho Caipira, clássico do compositor Villa-Lobos, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu pela terceira vez a rampa do Palácio do Planalto para assumir o cargo mais importante do país. Diferentemente das outras duas vezes, entretanto, a cena simbólica da entrega da faixa presidencial não foi feita pelo seu antecessor: estavam lá o cacique Raoni, um menino negro chamado Francisco, a catadora Aline Sousa, o metalúrgico Weslley Rodrigues, o professor Murilo de Quadros Jesus, a cozinheira Jucimara dos Santos, o artesão Flávio Pereira e o jovem Ivan Baron, que teve paralisia cerebral aos 3 anos.

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Lula, acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin e de sua esposa, Lu, subiu a rampa às 16h53 de uma tarde quente e ensolarada de Brasília – a previsão indicava chuva forte para o horário da posse, o que não ocorreu. Na ala dos convidados, muitos choravam e entoavam palavras de ordem que embalaram a campanha. A cadelinha Resistência, adotada por Janja e Lula durante a vigília da prisão em Curitiba, subiu a rampa no colo da primeira-dama. Ela subiu a rampa aos prantos.

Aline Sousa coloca a faixa em Lula. Foto: Ricardo Stuckert

No seu discurso, Lula chorou três vezes. As duas primeiras quando citou o aumento da desigualdade no país. “Não pode mais haver espaço para a desigualdade neste país. O Brasil é grande. Mas a real grandeza de um país é a felicidade de seu povo. E ninguém é feliz de fato com tanta desigualdade. Há muito tempo não víamos tamanho abandono nas ruas. Mães garimpando lixo em busca de alimento para seus filhos, famílias inteiras dormindo ao relento, crianças pedindo esmolas quando deveriam estar na escola vivendo plenamente a infância. Trabalhadores e trabalhadoras desempregadas, exibindo nos semáforos um papelão com a frase: por favor, me ajude”, disse Lula.

Depois, quando mencionou a desigualdade racial. “Somos um povo de muitas cores. E todas elas têm os mesmos direitos e oportunidades. Ninguém será cidadão ou cidadã de segunda classe, ninguém terá mais ou menos amparo do estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais ou menos obstáculos apenas pela cor da sua pele. Por isso estamos recriando o Ministério da Igualdade Racial, para enterrar de vez a trágica herança de nosso passado escravista”, discursou.

Uma multidão de 40 mil pessoas enfrentou horas e horas de sol para assistir a cerimônia de entrega da faixa e o discurso no Parlatório. As filas para ingresso na área, que foram limitados pela organização, começaram ainda na noite de Réveillon; às 6h, milhares de pessoas já se espremiam no portão de acesso à espera da abertura. O ingresso foi permitido até por volta de 14h. Quem não entrou teve de se contentar em assistir pelos telões, espalhados nos palcos da Esplanada dos Ministérios.

Marisol viajou 30 horas para mostrar que há apoiadores de Lula em Santa Catarina. Foto: Flávio Ilha/Sul21

Foi o caso da cabelereira Marisol Gonçalves de Aragão, que veio de Joinville (SC) numa viagem de 30 horas. O grupo passou a virada de ano na estrada, na cidade goiana de Cristalina. “Tenho fé que vou entrar”, disse ele, que estava há três horas na fila e ainda muito longe da área de revista. Ela e seus amigos não conseguiram. Mesmo assim, não desanimaram. “Vamos ver os shows e celebrar. Viemos aqui para mostrar que há petistas em Joinville”, completou Marisol – a cidade catarinense é uma das mais bolsonaristas do estado.

No discurso, Lula também mencionou o acampamento de Curitiba durante sua prisão e disse que o “bom dia” diário dos militantes o ajudou a sobreviver ao período mais difícil de sua vida. “Por isso, só posso iniciar este discurso dizendo boa tarde, povo brasileiro”, bradou Lula. A massa que se comprimia a cerca de 50 metros de distância foi ao delírio. O presidente também agradeceu aos eleitores “que tomaram as ruas, com chuva, sol ou vento, em busca muitas vezes de um único e precioso voto”. E que enfrentou “uma minoria violenta e anti-democrática”.

Além disso, repetiu a fala da transmissão oficial de posse ao dizer que recebeu um país muito pior do que na sua primeira gestão, a partir de 2003. Segundo ele, a equipe de transição detectou um “desastre orçamentário” deixado de herança pela administração anterior. Lula também reafirmou a necessidade de pacificar o país e reatar os laços familiares, destruídos “por tanto ódio e tanta mentira”. O presidente também elogiou os profissionais do SUS. “Quero aproveitar para fazer um agradecimento especial aos profissionais do SUS (Sistema Único de Saúde) pela grandiosidade do trabalho durante a pandemia, enfrentado bravamente um vírus, um vírus letal e um governo irresponsável e desumano”.

Foto: Luiza Castro/Sul21

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