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26 de abril de 2024
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17:05

Rede de pousadas onde 10 morreram em incêndio se espalha pela Capital com aluguel a R$ 550

Por
Ana Ávila
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Unidade da rede Garoa na Sete de Setembro, centro de Porto Alegre. Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Unidade da rede Garoa na Sete de Setembro, centro de Porto Alegre. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Morar em Porto Alegre é barato. Venha morar na Pousada Garoa e economize seu dinheiro.

A mensagem acima está no site da rede de pousadas Garoa, da qual faz parte a unidade na avenida Farrapos onde dez pessoas morreram em um incêndio na madrugada desta sexta-feira (26).

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As pousadas Garoa têm um diferencial atraente para quem tem poucos recursos: o aluguel mensal de R$ 550. Além disso, a maioria delas fica na região central de Porto Alegre, com fácil acesso a transporte público e outros serviços. Das mais de dez unidades espalhadas pela Capital, pelo menos cinco ficam no Centro e Cidade Baixa.

No site da rede Garoa, uma das vantagens mais repetidas é o “excelente custo x benefício”. A página informa que as unidades possuem, além de quartos mobiliados, cozinha, máquina de lavar e wi-fi. Pousadas como a da rua Sete de Setembro têm ainda segurança e recepção 24 horas, de acordo com o anúncio.

As mensagens variam de acordo com o endereço: “Ideal para solteiro que quer economizar!”, diz logo abaixo da unidade da rua Jerônimo Coelho, também no Centro. A unidade, “no coração de Porto Alegre”, como diz o anúncio, também registrou um incêndio, em 2022, que deixou um morto e 11 feridos. O prédio chegou a ser interditado pela Defesa Civil, mas já funciona normalmente.

Na manhã desta sexta, a reportagem do Sul21 esteve no local do incêndio na avenida Farrapos e colheu relatos de diversos hóspedes da Garoa. Em comum, condições bem diferentes daquelas anunciadas. “A única pousada que eles dão condição para morar é na Benjamin Constant, que é a matriz da Garoa. É o único lugar que tem um quarto adequado, não tem barata, não tem rato, não tem bicho. O restante das pousadas, só muda o endereço, são todas iguais. A fiação é toda enjambrada, uns fiozinhos finos. Eu já trabalhei com elétrica, como é que tu vai uma colocar uma fiação com uns cabinhos bem fininhos. Qualquer curto que der, pega fogo no quarto”, afirmou Marco Aurélio de Souza, 39 anos, residente do prédio que não pegou fogo (a unidade da Farrapos tinha dois edifícios).

 

Divisórias de madeira na unidade que pegou fogo na avenida Farrapos. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Embora abertas a qualquer interessado, desde 2021 as pousadas Garoa atendem, em grande parte, pessoas em situação de vulnerabilidade social que necessitam de acolhimento do poder público. Segundo o secretário de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, Léo Voigt, a Prefeitura possui 320 vagas na rede Garoa. Na unidade da Farrapos, onde houve o incêndio desta madrugada, das 30 vagas ofertadas, 16 pertenciam ao Município.

A rede Garoa, representada por André Luis Kologeski da Silva, começou a prestar serviços ao Município de Porto Alegre em junho de 2021. Em meio à pandemia de coronavírus, a Prefeitura abriu um edital de chamamento público para credenciar estabelecimentos hoteleiros, pousadas, pensões e hostels para prestação de serviços de hospedagem que atendessem a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc).

Decorrido o prazo estipulado pela Prefeitura, apenas a rede Garoa enviou a documentação para credenciamento e acabou fechando o primeiro contrato com a Fasc, até dezembro de 2021, por R$ 800.104,50. Antes que o contrato daquele ano se encerrasse, outro foi firmado, no valor de R$ 1.154.790,00, para a prestação de serviço por mais um ano, até dezembro de 2022. Naquele mesmo mês foi assinado o terceiro contrato com a rede Garoa, com um diferencial, embora também fosse de 12 meses, poderia ser renovado por até 60 meses. No primeiro ano, a Prefeitura desembolsou R$ 3.186.000,00. Ao ser renovado, em dezembro de 2023, o contrato foi revisto e ficou em o R$ 2.705.379,96 para a prestação de serviços até o fim de 2024.


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