Cultura
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27 de março de 2024
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14:42

Alvo de censura no RS, escritor Jeferson Tenório é homenageado na Câmara dos Deputados

Por
Sul 21
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Deputada Fernanda Melchionna (esq.) entregou a Moção de Louvor ao escritor Jeferson Tenório | Foto: Divulgação/Ravi Novaes
Deputada Fernanda Melchionna (esq.) entregou a Moção de Louvor ao escritor Jeferson Tenório | Foto: Divulgação/Ravi Novaes

A Frente Parlamentar em Defesa do Livro, Leitura e Escrita da Câmara dos Deputados homenageou nesta terça-feira (26) o escritor Jeferson Tenório, autor do livro “O Avesso da Pele”, que tem sido vítima de censura em diversos estados do Brasil. Tenório recebeu uma Moção de Louvor das mãos da deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) em evento que marcou o relançamento da frente parlamentar.

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“Não se trata apenas do ‘O Avesso da Pele’, se trata da defesa dos livros. Porque se acontece com um, a gente sabe muito bem que pode acontecer com outros. O Brasil já aprendeu bastante com governos autoritários anteriores, e aprendemos também a reagir. Ainda estamos vivendo um tempo muito difícil, com esse recrudescimento da extrema direita, não só no Brasil, mas no mundo, que não quer que a gente tenha pensamento crítico e acesso aos livros. É uma estratégia para não discutir o que tem que ser discutido”, afirmou o escritor.

Além da homenagem a Jeferson Tenório, o evento teve a presença de dezenas de entidades relacionadas ao livro, leitura e biblioteca, representante do Ministério da Cultura e integrantes da sociedade civil. Para Fernanda Melchionna, a existência da Frente é uma ferramenta fundamental para batalhar pelo Plano Nacional do Livro, da Leitura e da Escrita, entre outras políticas públicas de defesa do setor.

“As trevas que nós enfrentamos nos quatro anos do último governo não estão tão distantes, elas seguem no tecido social, criando factoides, fake news, atacando o pensamento crítico, livros, escritores, como o Jeferson Tenório. Por isso o homenageamos no lançamento, para dizer que ‘Censura nunca mais!’. Precisamos de mais investimento pro livro, para a leitura, para produzir, para ter novos escritores, como Jeferson, e não para motociatas. A Frente é fundamental para a defesa da biblioteca escolar, das bibliotecas comunitárias e públicas, da escrita, leitura, literatura, dos profissionais do setor, e do pensamento crítico e da arte”, afirma.

Estiveram presentes no lançamento os deputados federais Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Glauber Braga (PSOL-RJ), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Orlando Silva (PCdoB-SP), Alice Portugal (PCdoB-BA), Maria do Rosário (PT-RS), Reginete Bispo (PT-RS), Elvino Bohn Gass (PT-RS) e Tadeu Veneri (PT-PR).

No início de março, a 6ª Coordenadoria Estadual de Educação (CRE) orientou os diretores das escolas estaduais na área de abrangência do órgão, sediado em Santa Cruz do Sul, a não distribuírem nas bibliotecas e nem aos alunos do ensino médio, “até segunda ordem”, o livro “O Avesso da Pele“. A orientação ocorreu após a diretora da Escola Estadual Ernesto Alves, Janaina Venzon, publicar um vídeo nas redes sociais criticando a linguagem da obra por usar “palavras de baixo calão” e descrever cenas de sexo.

Dias depois, após a situação virar notícia nacional, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) afirmou não ter orientado que a obra, integrante do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), fosse retirada de bibliotecas da rede estadual de ensino.

“O uso de qualquer livro do PNLD deve ocorrer dentro de um contexto pedagógico, sob orientação e supervisão da equipe pedagógica e dos professores. A 6ª Coordenadoria Regional de Educação vai seguir a orientação da secretaria e providenciar que as escolas da região usem adequadamente os livros literários”, afirma nota da Secretaria da Educação.

Contudo, posteriormente, o livro voltou a ser alvo de censura, dessa vez no Paraná. Um ofício do Núcleo Regional da Educação de Curitiba, da Secretaria de Educação do Paraná, determinou a entrega de todos os exemplares à sede do núcleo, informando que a obra passaria por análise pedagógica e posterior encaminhamento. O ofício justifica a ação por ter “foco na construção das aprendizagens em cada uma das etapas de escolarização”.

O livro de Jeferson Tenório foi o vencedor do prêmio Jabuti na categoria melhor romance em 2021.


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