Opinião
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11 de janeiro de 2024
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13:56

Cloroquina (por Cassio Machado)

Bolsonaro mostra uma caixa de cloroquina para seus apoiadores em Brasília, durante a pandemia (Foto: Reprodução/Facebook)
Bolsonaro mostra uma caixa de cloroquina para seus apoiadores em Brasília, durante a pandemia (Foto: Reprodução/Facebook)

Cassio Machado (*)

“Deaths induced by compassionate use of hydroxychloroquine during the first COVID-19 wave” [*].  Assim começa a leitura de um artigo recentemente publicado na Biomedicine & Pharmacotherapy

Pesquisadores da França publicaram no periódico internacional um estudo que apresenta uma estimativa de 16.990 mortes em consequência ao uso de hidroxicloroquina durante o primeiro semestre da pandemia de covid-19, em 2020. Considerando os aspectos relacionados a metodologia da pesquisa os autores apontam que os números representam apenas uma pequena porcentagem do cenário global. Como não poderia deixar de faltar, os Estados Unidos foram um dos países estudados. Segundo a pesquisa foram 12.739 mortes, despontando como o país onde a hidroxicloroquina causou mais mortes.

Conforme destacado pelos autores, o uso de medicação off-label, ou seja, quando não há homologação ou aprovação por autoridades regulatórias, pode ser apropriado quando os profissionais julgam ter evidências suficientes para a prescrição, porém o mesmo nunca se deu com a hidroxicloroquina uma vez que sempre houve indicação de medicamentos com efeitos melhores ou similares e com menor toxicidade.

O Brasil não participou do estudo francês, embora tivesse seus méritos para isso. Levando em conta as proporções apresentadas, poderíamos estimar que pelas terras tupiniquins foram mais de 7 mil mortes no primeiro semestre da pandemia relacionadas ao uso inadequado deste famigerado fármaco. Mais de mil mortes ao mês, mais de trinta por dia e, consequentemente, mais de uma por hora.

A cena de um homem que parece perseguir uma ema oferecendo uma caixa de hidroxicloroquina poderia compor o imaginário popular, mas faz parte da nossa memória pandêmica. Assim como ele erguendo a caixa para uma multidão, a ostentando em pronunciamento oficial, a divulgando em vídeos pessoais, sorrindo ao seu lado para grupos de jornalistas ou ainda, no apogeu de sua criatividade, ingerindo um comprimido após anunciar estar infectado.

Muitas foram as denúncias contra esse homem, apologia a tortura, negligência relacionada a corrupção, ataques a liberdade de expressão, ameaça a democracia, tragédias humanitárias, destruição do meio ambiente, entre outras. Apenas na Organização das Nações unidas elas já somam mais de 37. Algumas entidades já possuem até mesmo condenações, como o caso do Tribunal Permanente dos Povos, o que ainda se aguarda são os pagamentos das penas.

[*] Mortes induzidas pelo uso compassivo de hidroxicloroquina durante o primeira onda de COVID-19.

(*) Psicólogo, atua no Grupo Hospitalar Conceição (GHC) ([email protected])

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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