Opinião
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19 de janeiro de 2024
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06:17

Ao privatizar a CEEE, Leite e Melo traíram a população (por Gerson Almeida)

Governador Eduardo Leite e prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (Foto: Maurício Tonetto/Secom)
Governador Eduardo Leite e prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (Foto: Maurício Tonetto/Secom)

Gerson Almeida (*)

O governador Eduardo Leite e o prefeito Sebastião Melo trabalharam de forma determinada para retirar dos gaúchos o direito de decidir sobre a conveniência, ou não de privatizar os serviços de geração e de distribuição de energia elétrica, conforme previsto em lei. Usurparam o direito da população decidir sobre a gestão de um serviço tão essencial para a vida de todos, por ao menos duas razões: a incapacidade dos neoliberais em aprender com a realidade; e pelo reconhecimento de que, em um debate democrático, seus argumentos seriam completamente desmontados e não convenceriam a maioria.

Em um debate às claras, quem acreditaria em chavões puramente ideológicos, como o de “que não faz sentido que setores como fornecimento de energia elétrica (…) estejam na mão do Estado”, já que “esses setores, nas mãos da iniciativa privada, terão mais condições de agilidade e de modernização na prestação de serviços qualificados à população”, como afirmou Eduardo Leite ao responder à pergunta: Por que privatizar a CEEE? (Secom-rs, 02/07/2019). Uma afirmação na contramão da realidade, pois países como Alemanha, Espanha, Reino Unido e tantos outros, estão estatizando empresas privadas por razões de segurança energética. 

Ao impedirem a realização do plebiscito para que a população decidisse sobre a privatização da CEEE, Eduardo Leite e Sebastião Melo sabiam muito bem da fragilidade desse tipo de argumento, que serve apenas para mascarar como interesse geral, mesquinhos interesses das oligarquias que concentram cada vez mais renda no mundo. O governador e o prefeito, então deputado estadual, subtraíram da população o direito de decidir em plebiscito, para não terem que enfrentar um debate de fundo que a discussão pública inevitavelmente traria à tona: os governos devem trabalhar para defender e proteger os interesses das pessoas, ou os interesses econômicos daqueles que controlam as grandes corporações empresariais?

O recente evento climático extremo que assolou Porto Alegre e várias regiões do RS mostrou a incapacidade do governador e do prefeito de exercerem uma efetiva autoridade cívica e mobilizar todos os setores da sociedade para dar uma resposta à altura do sofrimento das pessoas e das suas responsabilidades como gestores. Essa incapacidade produziu iniciativas patéticas, como a relação de Melo com a CEEE-Equatorial. Ao invés de convocar o prestador de um serviço essencial que estava em colapso, o prefeito usou as redes sociais para, servilmente, pedir que um representante da empresa comparecesse numa reunião e reclamar que seus telefonemas não estavam sendo atendidos. Agiu desta forma quase indigna, mesmo ciente de que as equipes da CEEE-Equatorial em ação são muito inferiores às necessárias, tanto que declarou que “nós precisamos de 30 equipes para atender a Prefeitura. Acho que a CEEE está botando aí 12, 13. Então tem um déficit”, nas palavras burocráticas e medrosas do próprio prefeito Melo. 

É verdade que há um grande déficit na atuação da CEEE-Equatorial, mas o prefeito esqueceu-se de dizer que os serviços municipais estão sendo desmontados, como mostra o lastimável estado de algumas estações de tratamento e bombeamento de água para o abastecimento da população, que apesar da esperada repetição de eventos climáticos extremos, não contam com qualquer ação efetiva da prefeitura para modernizá-las e lhes dar mais autonomia energética; assim como foi esvaziada a antiga Smam, que outrora contava com turmas especializadas e nacionalmente reconhecidas no manejo da arborização urbana, cujos equipamentos estão  sucateados ao ponto do prefeito pedir pelo Twitter que a população faça doações de motosserras. A mesma população que foi surrupiada, por ele e pelo seu parceiro Eduardo Leite, do direito de decidir sobre a gestão dos serviços de abastecimento de energia elétrica e está sofrendo as dolorosas consequências de sucessivos governos que desmontaram a capacidade de prestação de serviços públicos de qualidade para a população. É nas horas difíceis que faz diferença que vemos a falta que faz termos  governos que priorizem os cidadãos, pois as corporações sempre colocarão o lucro acima de tudo e de todos. Acima, inclusive, do governador e do prefeito que fizeram de tudo para entregar um serviço essencial para a vida em suas mãos. Mesmo assim, depois de tudo o que está acontecendo, Sebastião Melo, infamemente, afirma não estar arrependido. Com certeza, seus eleitores estão.

(*) Sociólogo, foi secretario municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre

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