Marco Weissheimer (*)
E aqui estamos nós, neste dezembro de 2023, buscando palavras para enviar textos de felicitações natalinas e desejos de um bom ano novo. Esses rituais de final de ano podem ser mais ou menos protocolares, mais ou menos inspirados, mas sempre carregam consigo sementes de esperança e desejos de criação, de espaços novos (dentro e fora de nós), de novas formas de vida e de convívio. Para quem tem a palavra como seu principal instrumento de trabalho, como é o nosso caso aqui no Sul21, enviar uma mensagem de Natal para quem nos acompanhou o ano inteiro é um desafio redobrado. E “palavra”, aqui, não se resume à sua forma escrita. Ela se expressa também por meio de imagens, conversas cotidianas sobre os mais variados temas, interações nas redes sociais e uma série de outras formas.
Uma das razões pelas quais o desafio é redobrado é que estamos vivendo, talvez como nunca estivemos na história da humanidade, soterrados por palavras e símbolos. Excetuando o período em que estamos dormindo – e olhe lá…-, passamos os dias atravessados por palavras, imagens e vídeos, numa velocidade alucinante. Isso não significa, porém, que a nossa capacidade de comunicação melhorou por isso. Pelo contrário, o que parece ter aumentado é a nossa capacidade de desentendimento, de intolerância, de cometer violências (das mais sutis às mais grosseiras). Não é preciso gastar muitas linhas para falar dos padrões de comunicação violenta que vemos hoje nas redes sociais e também fora delas, um espelhamento que sugere que estamos lidando com um problema enraizado na nossa vida cotidiana e em nós mesmos.
Estamos falando de uma cultura de violência que parece ter as suas raízes fincadas socialmente e também em um campo simbólico, onde ações e palavras se cruzam, criando uma dimensão paralela que vem contaminando o nosso convívio social diário. Ações e palavras: esses são os dois domínios fundamentais por onde a violência vem sendo cultivada e praticada entre nós. Até que ponto estamos dispostos a reconhecer o quanto essa violência pode estar presente em nossos gestos, pensamentos e palavras? Levar essa interrogação a sério pode nos surpreender e alertar para a nossa parcela de responsabilidade sobre o que estamos vivendo hoje.
As formas de violência andam de mãos dadas com a falta de compromisso com a palavra, com o sentido das palavras, um processo onde o fenômeno das fake news parece ser a parte visível do iceberg. O nosso desafio diário, portanto, como meio de comunicação, é não silenciar diante das crescentes formas de agressão à paz e à vida e cultivar o compromisso com o sentido das palavras, da comunicação na qual trabalhamos diariamente. Para enfrentar esse duplo desafio, a participação da comunidade de leitores e leitoras que nos acompanha é fundamental. Ela nos alimenta com informações, nos orienta sobre possíveis caminhos e nos dá sustentação material para prosseguirmos. Foi assim em 2023. Sem a presença e a participação de vocês o nosso trabalho seria esvaziado de sentido. Esse texto é uma forma de agradecimento por essa presença e é também um convite.
O convite é para que os próximos dias, do Natal ao Ano Novo, sejam dias de celebração da caminhada que fizemos este ano, com todos os seus percalços e limites. E que essa celebração venha carregada de sementes, de cultivos para 2024. Estamos vivendo uma confluência de crises que afetam o planeta como um todo: a escalada da guerra na Europa e no Oriente Médio e a emergência climática são as faces mais visíveis dessa confluência hoje. No Brasil, teremos eleições municipais que decidirão o destino das nossas cidades, por meio da escolha de prefeitos e vereadores. Em Porto Alegre, cidade que já foi referência de um outro mundo possível, essa eleição terá um sentido muito especial. Teremos desafios a enfrentar, muitas histórias para contar, histórias a serem escritas e esperanças a serem compartilhadas. Seguiremos a nossa caminhada e precisamos da tua presença.
Por ora, vamos desacelerar por alguns dias, celebrar, abraçar, compartilhar e semear para 2024.
Um Feliz Natal em nome de todo o nosso time!
Esse texto foi enviado originalmente pela nossa news para assinantes, mas decidi compartilhá-lo aqui, como uma mensagem de Natal, para todo mundo que acompanha nosso trabalho e também para quem ainda não conhecia e pode querer passar a acompanhar.
(*) Repórter e editor do Sul21
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