Opinião
|
17 de julho de 2023
|
20:05

O ingresso nas universidades: USP, Unicamp, Unesp e UFSM (por Odilon Marcuzzo do Canto)

 Foto: Divulgação/UFSM
Foto: Divulgação/UFSM

Odilon Marcuzzo do Canto (*)

Ainda hoje me lembro que como jovem professor recém incorporado ao quadro docente da Universidade Federal de Santa Maria, a leitura daquela página do jornal Estado de São Paulo produziu em mim um certo engulho no estômago e um misto de revolta com uma ponta de inveja – tanto que tenho a edição guardada até hoje. O Estadão trazia em sua edição de 27/12/1973, uma reportagem de página inteira tendo como tema central as universidades brasileiras daqueles idos de 1970. Com cabeçalho em tom de galhofa – Santa Maria cresce, com títulos do Reitor – o texto descrevia de forma apropriada as qualidades científica e acadêmica da USP; em contraponto, na visão do autor, o empenho do fundador da UFSM para a construção de uma universidade no interior do Rio Grande do Sul, era avaliado como um empreendimento visionário e como uma forma de jogar pelo ralo investimentos públicos.

Houvesse Marianinho (Dr. José Mariano da Rocha Filho) – e o punhado de abnegados que o acompanhavam no mesmo sonho de criar uma universidade de qualidade no interior de Terra Brasilis – acreditado nas afirmações do articulista e abandonado o projeto, eu, bem como certamente milhares de cidadãos do Rio Grande do Sul, não teríamos tido a oportunidade de ostentar, com orgulho, um diploma de ensino superior da UFSM. Nem tampouco usufruir dos benefícios que tal diploma nos propiciou.

Houvessem as autoridades da época acreditado na narrativa sugerida pelo texto e negado o repasse de recursos como forma de estancar o “desperdício” de dinheiro público, não teríamos hoje, no interior do Rio Grande do Sul, uma instituição que honra o seu título de universidade, que acaba de conquistar nota cinco, nota máxima, no Processo de Recadastramento Institucional do MEC. Uma instituição, que na recente avaliação de um dos mais bem cotados centros de avaliação de universidades, o Times Higher Education (THE), ocupa a vigésima oitava posição na América Latina. Tal avaliação é feita em cima de cinco eixos: Ensino; Pesquisa; Citações em publicações; Renda Industrial; Perspectiva Internacional.   Interessante notar que no eixo Ensino, a UFSM atinge o vigésimo lugar entre as universidades na América Latina.

Confesso que esta semana, uma outra manchete de um jornal paulista, desta vez a Folha de São Paulo, despertou em mim uma certa sensação de revanche. Com o título “Tarcísio lança modelo de vestibular seriado para universidades de São Paulo” na edição de 10/07/2023, o texto de Isabela Palhares diz que o sistema foi desenvolvido pela USP UNICAMP e UNESP e “…será aplicado a estudantes durante 1°, 2° e 3° anos do ensino médio em escolas públicas a partir deste ano. As notas obtidas nessas provas serão usadas para concorrer às vagas de graduação das universidades”.

Sei que não é producente nem de bom tom acoitar sentimentos negativos dentro de nós, mas… não posso apagar uma certa sensação de um sorriso maroto, e aplaudir evidentemente, ao ver a USP a UNICAMP e UNESP trilharem uma estrada aberta pela nossa UFSM já em 1995: o nosso PEIES. O Programa Especial de Ingresso ao Ensino Superior, cujo fulcro principal é a interação e integração do ensino superior com o ensino médio e com exames seriados ao longo dos três anos, foi operado com sucesso pela UFSM ao longo de mais de uma década.  A adoção por instituições de alta qualificação científica e acadêmica como é o sistema paulista de instituições de ensino superior, certamente aporta um selo de qualidade ao sistema seriado de ingresso ao ensino superior.

A decisão da UFSM de reativação do PEIES a partir de 2024, demonstra o alto grau de percepção social e acadêmica da atual Gestão e Conselhos Superiores. Certamente numa forma mais evoluída, com integração de novas tecnologias e novos saberes, incorporando os avanços pedagógicos e educacionais dos últimos anos será, sem dúvidas, mais um marco da qualidade e maturidade institucional atingidas pela UFSM.

(*) Professor aposentado, ex-reitor da UFSM.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora