Opinião
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27 de março de 2023
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18:03

Um jogo de erros (por Céli Pinto)

Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Céli Pinto (*)

Flavio Dino e Andrei Rodrigues correram para a imprensa a fazer declarações para provar o quanto eram republicanos e corretos ao desbaratar um plano de atentados a procuradores, policiais e, principalmente, a Sergio Moro.

Lula, por seu lado, sempre um pouco mais à vontade do que o necessário, imediatamente reagiu, dizendo que tudo poderia ser uma armação do ex-juiz e atual Senador.

 O ex-juiz e atual Senador foi para a televisão com sua conje(sic), ganhou um espaço que até então não tinha e vibrou ao  dizer que o fato  “reberverava” (sic)  em todos os quadrantes. 

 Neste episódio, muitas perguntas devem ser respondidas. Em primeiro lugar, quem foram os presos? Tinham realmente relação com o PCC? Houve audiência de custódia? Permanecem presos? Por que, depois de tanto espetáculo com atores de todas as cores políticas, o assunto morreu?

 Mas não para aí. Por que mesmo o PCC queria matar Moro e sua família?  Como perguntaria Sherlock Homes: a quem interessaria este crime? O que o PCC  lucraria com isto? Quem leu o excelente “A Guerra: a Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil”, de Bruno Manso e Camila Dias  (Todavia, 2018),  tem uma ideia de como esta organização funciona, qual é a sua racionalidade. É difícil entender: por que Moro, e  por que agora?

Lula tem razão em expor suas  desconfianças? Não, pelo simples fato de que o Presidente da República não pode sair por aí a alardear suas desconfianças no primeiro microfone que encontra. A pessoa privada Luiz Inácio Lula da Silva pode ter todas as desconfianças do mundo quando se trata de qualquer questão que envolva o ex-juiz. Quem no seu lugar não teria? Mas, como presidente, pode averiguar, mandar investigar, sem se colocar nesta posição. Sempre que se manifestar durante o processo de investigação, parecerá apenas uma pessoa magoada, irada, ressentida.

Restam ainda seu Ministro da Justiça e o Diretor da Polícia Federal.

Nós, cidadãos e cidadãs brasileiras, temos o direito de saber o que há de verdade nos apartamentos com paredes falsas, nos aluguéis de casas. Quem são estas pessoas? O que pretendiam?  Nem o senador tatibitate conseguiu explicar na TV por que o PCC queria matá-lo. 

 Se Lula falou demais – e falou-, acho que Flávio Dino e o diretor da Polícia Federal também falaram, já que a eles compete averiguar muito bem o que está em jogo numa operação como esta, antes de correrem para dar provas do quanto são republicanos.  

 Tenham existido ou não todas estas ameaças, o que realmente houve foi uma sucessão de erros que um governo não pode se permitir, especialmente quando inicia, em um país  destroçado como o nosso.

(*) Professora Emérita da UFRGS; Cientista Política; Professora convidada do PPG de História da UFRGS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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