Céli Pinto (*)
Flavio Dino e Andrei Rodrigues correram para a imprensa a fazer declarações para provar o quanto eram republicanos e corretos ao desbaratar um plano de atentados a procuradores, policiais e, principalmente, a Sergio Moro.
Lula, por seu lado, sempre um pouco mais à vontade do que o necessário, imediatamente reagiu, dizendo que tudo poderia ser uma armação do ex-juiz e atual Senador.
O ex-juiz e atual Senador foi para a televisão com sua conje(sic), ganhou um espaço que até então não tinha e vibrou ao dizer que o fato “reberverava” (sic) em todos os quadrantes.
Neste episódio, muitas perguntas devem ser respondidas. Em primeiro lugar, quem foram os presos? Tinham realmente relação com o PCC? Houve audiência de custódia? Permanecem presos? Por que, depois de tanto espetáculo com atores de todas as cores políticas, o assunto morreu?
Mas não para aí. Por que mesmo o PCC queria matar Moro e sua família? Como perguntaria Sherlock Homes: a quem interessaria este crime? O que o PCC lucraria com isto? Quem leu o excelente “A Guerra: a Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil”, de Bruno Manso e Camila Dias (Todavia, 2018), tem uma ideia de como esta organização funciona, qual é a sua racionalidade. É difícil entender: por que Moro, e por que agora?
Lula tem razão em expor suas desconfianças? Não, pelo simples fato de que o Presidente da República não pode sair por aí a alardear suas desconfianças no primeiro microfone que encontra. A pessoa privada Luiz Inácio Lula da Silva pode ter todas as desconfianças do mundo quando se trata de qualquer questão que envolva o ex-juiz. Quem no seu lugar não teria? Mas, como presidente, pode averiguar, mandar investigar, sem se colocar nesta posição. Sempre que se manifestar durante o processo de investigação, parecerá apenas uma pessoa magoada, irada, ressentida.
Restam ainda seu Ministro da Justiça e o Diretor da Polícia Federal.
Nós, cidadãos e cidadãs brasileiras, temos o direito de saber o que há de verdade nos apartamentos com paredes falsas, nos aluguéis de casas. Quem são estas pessoas? O que pretendiam? Nem o senador tatibitate conseguiu explicar na TV por que o PCC queria matá-lo.
Se Lula falou demais – e falou-, acho que Flávio Dino e o diretor da Polícia Federal também falaram, já que a eles compete averiguar muito bem o que está em jogo numa operação como esta, antes de correrem para dar provas do quanto são republicanos.
Tenham existido ou não todas estas ameaças, o que realmente houve foi uma sucessão de erros que um governo não pode se permitir, especialmente quando inicia, em um país destroçado como o nosso.
(*) Professora Emérita da UFRGS; Cientista Política; Professora convidada do PPG de História da UFRGS
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