Opinião
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23 de outubro de 2022
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11:17

Fascistas dominam a Itália (por Milton Pomar)

Giorgia Meloni (Facebook/Reprodução)
Giorgia Meloni (Facebook/Reprodução)

Milton Pomar (*)

Foi há 100 anos, mas parece hoje: o evento, denominado “Marcia su Roma”, ocorreu nos dias 27 e 28 de outubro de 1922. E foi fácil, fácil: o rei acreditou que seria possível controlar Benito Mussolini, e, ao invés de combatê-lo, no dia 30 de outubro entregou a ele o governo, consumando o golpe de Estado fascista. Há muitos livros e filmes a respeito, e pesquisando no Google “marcia su roma 28 ottobre 1922” aparecem milhares de páginas, a começar pela Wikipedia em italiano

A marcha sobre Roma é considerada por muitos como o “ápice da estratégia fascista”, que levou ao poder os ativistas italianos de extrema-direita que se caracterizavam por violência verbal e física, mentirem sempre, e não aceitarem a democracia de forma alguma. Há 100 anos, como hoje, fascistas (e neonazistas, seus irmãos ideológicos) propagam a “política do ódio”. São racistas, xenófobos, homofóbicos, machistas, e a favor da exploração capitalista. 

Como nessa semana completará um século o golpe de estado fascista na Itália, seguramente o assunto será muito comentado, até porque o país está novamente com um governo fascista, dessa vez conquistado eleitoralmente: Giorgia Meloni, do partido “Irmãos da Itália”, de extrema-direita, foi nomeada primeira-ministra, após a vitória nas eleições legislativas de 25 de setembro.  

É verdade que os resultados eleitorais da extrema-direita italiana não foram tudo isso que se possa imaginar, a começar pelo partido do Meloni, que conquistou apenas 26,1% dos votos, e dos seus dois aliados, a Liga (8,8%) e a Força Itália (8,1%). Em números de votos, foram 12,3 milhões, de um total de 29,4 milhões de votantes (e 46 milhões de eleitores e eleitoras). Mas é verdade também que o “Irmãos” dela cresceu muito, de 2018 para 2022 – naquele ano, alcançou somente 4,5% do total dos votos. A abstenção recorde, de 36,1%, superou a votação obtida pelo partido da atual primeira-ministra e a dos partidos de centro-esquerda (26,1%).

Com os fascistas dominando a Itália, os integrantes da extrema-direita dos Estados Unidos, Japão, França, Hungria, Portugal etc., animaram-se ainda mais com a possibilidade de vitória no Brasil dia 30 de outubro, pela terrível coincidência histórica, e porque a população brasileira desconhece por completo o terror fascista que se abateu na Itália, de 30 de outubro de 1922 até 28 de abril de 1945 – quando Mussolini foi fuzilado e o seu corpo pendurado em um posto de gasolina, na praça Loreto, em Milão –, e depois, até 1975, também na Espanha e em Portugal.

Traduzindo, o horror fascista completa um século de vida em perfeito estado de saúde, poliglota, e atuando em escala de dezenas de milhões na disputa ideológica e eleitoral graças aos recursos científicos e tecnológicos disponíveis para quem tem muito dinheiro. E dinheiro nunca lhes faltou – sempre foram apoiados por empresários.

Após causar a morte de quase 8 milhões de alemães, Hitler se suicidou, em 30 de abril de 1945. Sua ideologia nazista foi responsável por muitas mortes mais: 5,5 milhões na Polônia, 24 milhões na União Soviética. Os números gigantescos de mortos, feridos, mutilados e inválidos da segunda guerra mundial não permitem hoje imaginar o sofrimento de quem viveu naquela época, porque faz muito tempo. Fascistas aproveitam-se da superação do sofrimento pelo esquecimento para voltar à carga agora com o seu ódio contra as pessoas que pensam e/ou são diferentes. 

A postura do presidente de extrema-direita do Brasil em relação à pandemia da Covid é o melhor exemplo “moderno” de como agem fascistas no poder. Incluindo 2022, o Brasil terá mais de um milhão de “mortes em excesso” nos três anos da pandemia. 

Apesar disso, para quem pretende votar no atual presidente da República, a responsabilidade dele por tantas mortes na pandemia é irrelevante. Parece não lhes importar tudo o que ele disse, fez e desfez durante a pandemia. Não se dão ao trabalho de uma conta simples: se oficialmente morreram 6,8 milhões de pessoas no mundo e 680 mil no Brasil, significa que com 2,8% da população mundial nós tivemos 10% das vítimas fatais. Ou seja, se ele tivesse agido como os presidentes dos outros países, teríamos 200 mil mortos, e não quase 700 mil (números oficiais). 500 mil mortes a menos. Poderiam estar conosco agora meio milhão de avós, avôs, pais, mães, filhos, filhas…

(*) Geógrafo, mestre em Políticas Públicas.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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