Opinião
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4 de agosto de 2022
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07:17

Educação e ciência para reconstruir o país: é disso que falamos (por Claudia Schiedeck)

A educação da sociedade é considerada uma premissa fundamental para que qualquer plano de ação climática alcance seu objetivo. Foto: Luiza Castro/Sul21
A educação da sociedade é considerada uma premissa fundamental para que qualquer plano de ação climática alcance seu objetivo. Foto: Luiza Castro/Sul21

Claudia Schiedeck (*)

As (más) notícias dos últimos dias dão conta de que a educação, sob o desgoverno de Voldermort, segue seu destino surreal de contingenciamento e cortes. As universidades e Institutos federais não têm mais como se adequar a essa brutal política de destruição do ensino público no país. O fato é que, nominalmente, os recursos orçamentários caíram drasticamente desde 2012 e esse desgoverno propõe mais 12% de arrocho para o orçamento de 2023. Muitas instituições não devem conseguir pagar suas contas em 2022 e já anunciam isso publicamente. Não há dinheiro para arcar com despesas como água, luz, bolsas, auxílios e insumos.

O sucateamento da educação, quer através da supressão do financiamento público, quer através da alteração do ICMS nos estados, apesar de parecer algo ilógico, possui um bem estruturado projeto de privatização na sua base, onde as escolas públicas poderão ser geridas por fundações para poderem “prestar contas à sociedade” (modelo gerencialista) ou quando será oferecido “vouchers” para que os pais “tenham liberdade” de escolher a escola (modelo chileno). Ou então, tão ao gosto americano do inominável, os pais e alunos serão encaminhados a um banco para financiar uma educação de “melhor qualidade”, ficando assim reféns de uma dívida impagável para o resto da vida.

Claudia Schiedeck (Divulgação)

Por isso, o movimento que foi lançado semana passada durante a 74a Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é tão importante. O Manifesto de Pré-Candidatos ao Congresso Nacional e Assembleias Legislativas, denominado Educação e Ciência para Reconstruir o País, assinado por mais de cem pré-candidatos, traz entre suas propostas a defesa da autonomia universitária, a revogação da Emenda Constitucional 95 (a PEC da morte), a valorização dos profissionais da educação, garantindo planos de carreira atrativos para os profissionais da Educação Básica, bem como a valorização e articulação das instituições de ensino e pesquisa brasileiras para que possam pensar o desenvolvimento do país. Esse documento é um sopro de esperança num país que se acostumou a ter, nos últimos tempos, a bancada da bala, do boi e da bíblia como suas maiores expressões.

O Brasil precisa, nas eleições de outubro, eleger uma bancada da educação forte, pactuada com o direito de nossas crianças, jovens e adultos a uma formação educacional de qualidade. É fundamental que nos organizemos, como trabalhadores da educação, em um ente único na defesa de um projeto que garanta futuro e oportunidade para milhões de brasileiros. Para isso, temos que eleger nossos pares para todos os legislativos do país (estaduais e nacional). Só teremos força se formos muitos e para sermos muitos precisamos votar em candidatos que possuam trajetória no setor educacional. Isso significa olhar para o currículo de cada um e cada uma e observar quem são eles, onde se posicionam quando o assunto é a educação, a ciência e a tecnologia, e cobrar deles que se comprometam com as propostas já estabelecidas no Manifesto. 

Basta de candidatos fake que se dizem educadores e somem quando precisamos de voz no parlamento. Basta de promessas de candidatos que dizem apoiar a educação, mas cuja palavra não se cumpre quando precisamos de alguém para defender nossos interesses. Basta de campanhas recheadas de palavras lindas de defesa ou de luta pela educação, mas cujos mandatos sequer compreendem a complexidade educacional de um país como o Brasil. Basta de votos comprados pelo orçamento secreto e do silêncio ensurdecedor quando o assunto são os cortes de recursos para a educação.

Muitas e muitas vezes estive no Congresso, como reitora do IFRS, tentando fazer com que deputados ou senadores entendessem do que estávamos falando e das consequências de determinadas leis. E muitas e muitas vezes obtive apenas uma palavra de consolo ou um olhar de desprezo. 

Como trabalhadores da educação e gestores públicos, essa é a eleição mais importante das nossas histórias. Este é o momento em que nosso basta deve ser dado nas urnas, elegendo o maior número de candidatos da educação dos últimos pleitos e devolvendo aos seus estados os parlamentares que, depois de eleitos, nunca responderam ao chamado que tanto fizemos.

Façamos todos a nossa parte e vamos juntos eleger, pela primeira vez, uma Bancada da Educação forte e significativa. Vamos ocupar os espaços BBB (bala, boi e bíblia) do Congresso com educadores comprometidos com a nossa causa: o futuro educacional do nosso país. 

A educação do Brasil agradecerá imensamente. 

Que possamos ter, nesse momento tão difícil da nossa história, dezenas de parlamentares comprometidos com a educação pública, gratuita e de qualidade.

(*) Claudia Schiedeck foi a primeira reitora do IFRS (2008-2016), coordenou a Câmara de Relações Internacionais do CONIF, possui doutorado em Educação e pesquisa a internacionalização da educação. Pré-candidata a deputada Federal pelo PT.
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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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