Opinião
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20 de abril de 2022
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09:15

O último ato de um governo decadente (por Stela Farias)

Governo vai entregar 1.131 quilômetros de estradas à iniciativa privada por 30 anos. (Foto: EGR/Arquivo)
Governo vai entregar 1.131 quilômetros de estradas à iniciativa privada por 30 anos. (Foto: EGR/Arquivo)

Stela Farias (*)

Pela segunda vez o governo do Estado tenta entregar as estradas estaduais para a iniciativa privada, sem ouvir a população gaúcha. Depois do fracasso de Sartori, o governo Leite/Ranolfo reeditou o programa de concessões de rodovias do governo anterior e, em seus últimos meses de gestão, vai entregar 1.131 quilômetros de estradas à iniciativa privada por 30 anos. O projeto prevê uma cancela de pedágio a cada 50 quilômetros, em troca de poucas obras e manutenção básica. 

Como reação, um movimento político composto por prefeitos, empresários, deputados e comunidades tenta anular o primeiro leilão das rodovias ocorrido em 13 de abril. O resultado já foi homologado pelo governo gaúcho, apesar de ter contado com apenas uma empresa concorrente, o que vai penalizar a população com tarifas maiores do que as previstas e provocar impacto negativo na economia de toda a região.

Esse absurdo poderá ocorrer com os demais blocos de estradas a serem leiloados, em especial com o Bloco 1, que abrange a Região Metropolitana, incluindo a RS/118, onde está prevista uma praça de pedágio urbana, entre Gravataí e Alvorada. 

Há quase um ano estamos unidos ao Movimento RS/118 Sem Pedágio, formado por associações empresariais, Câmaras de Vereadores, prefeitos, lideranças políticas e comunidades da Região Metropolitana para tentar impedir a privatização da rodovia. Apesar de toda a mobilização realizada, o governo estadual ignorou os argumentos e pedidos para rever o processo.

Sob o pretexto de duplicar um trecho de apenas 16 quilômetros, entre Alvorada e Viamão, vai submeter a população ao pagamento de um pedágio privado por 30 anos, aumentando os custos de alimentos, transporte, produtos e serviços. Com isso também vai ampliar o desemprego e a fuga de investimentos nesses dois municípios, que possuem os menores PIB per capita do Estado, sacrificando 50 mil moradores de Alvorada e 90 mil de Viamão, que se deslocam diariamente a trabalho para os municípios vizinhos. 

Com a arrecadação prevista, de R$ 4 bilhões para a praça de pedágio na RS/118, poderiam ser feitas 40 duplicações do trecho, segundo cálculos do DNIT. Sem falar que os investimentos propostos serão todos realizados com o dinheiro do contribuinte, pago pelas altas tarifas. 

Não é possível admitir esta proposta do governo, que representa uma tributação tripla para a população de toda a Região Metropolitana. Além de IPVA, os cidadãos terão que arcar com o pedágio e com a alta no custo nos produtos e serviços nas cidades. 

Se isso vier a acontecer, somente daqui a 30 anos poderemos ter a esperança de recuperar a região e ter um real projeto de desenvolvimento econômico para o Estado que não passe pela lógica ultraliberal de privilegiar os interesses financeiros de poucos em detrimento de toda a população.

(*) Deputada estadual (PT/RS)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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