Opinião
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26 de outubro de 2021
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09:37

O petróleo é deles (por Frei Sérgio Görgen)

Alta foi puxada pelo aumento da gasolina | Foto: Roberto Parizotti
Alta foi puxada pelo aumento da gasolina | Foto: Roberto Parizotti

Frei Sérgio Antônio Görgen ofm (*)

Porque o petróleo agora é “deles”, o preço do gás, do diesel, da gasolina, dos lubrificantes, dos produtos da indústria química que usam derivados de petróleo, disparam todos os dias. 

Para entregar o petróleo do Brasil para “Eles” e perseguir os governantes que fortaleceram a Petrobras é que funcionou a tal Lava Jato de Curitiba. O combate à corrupção foi só a “casca” para enganar o povo. 

Mas, quem são “eles”, que agora dominam o comércio de combustíveis e derivados no Brasil?

Vamos voltar um pouco na história. 

Nos anos 50 do século XX o povo brasileiro foi às ruas com a campanha “O Petróleo é Nosso” e Getúlio Vargas criou a Petrobrás, que se tornou uma das maiores empresas petrolíferas do mundo.

Em 2007 a Petrobrás confirmou imensas reservas de Petróleo no Oceano Atlântico, na camada pré-sal, em águas profundas. O Brasil entrou no clube das Nações com enormes reservas de Petróleo, a energia que é o sangue da economia internacional. 

O Brasil virou alvo da cobiça internacional e de uma grande disputa entre países ricos, mas sem petróleo, como Estados Unidos, Europa, Japão e China. 

A Lei do Pré-sal, aprovada em 2010 protegia a Petrobras como a única exploradora do petróleo do pré-sal, podendo se associar com outras empresas e criando um fundo nacional com os lucros desta exploração para investir em educação, saúde, desenvolvimento tecnológico, geração de emprego e industrialização do país.  

Então a frase atribuída a Henry Kissinger, estrategista da hegemonia americana no mundo, referindo-se ao Brasil, entrou em ação: “Não podemos permitir um Japão gigante ao sul do Equador”. 

Em 2016, logo após o impedimento da Presidenta Dilma, Michel Temer tirou da Petrobrás o poder de determinar o preço dos combustíveis a partir dos preços internos de extração, refino e distribuição. 

Essa política é chamada de paridade de preço de importação, que significa: um produtor dos EUA ou da Ásia, compra o petróleo do Brasil, transporta para lá, refina na sua refinaria e transporta de volta pro Brasil e vende aqui, com todos os custos. Já, a Petrobrás que usa o petróleo que produz, refina, coloca à venda pelo mesmo preço que o outro importador, como se tivesse os mesmos custos de produção e transporte.

O preço interno passou a ser ditado pelos preços internacionais. Era a senha para a privatização. As grandes petroleiras internacionais querem o petróleo e a Petrobrás para ganhar muito dinheiro em dólar.

Foi para isto que se deu a grande perseguição para destruir a Petrobras, tomar o pré-sal e destruir as forças políticas que os defendiam. Agora “eles”, os grandes magnatas internacionais do petróleo, mandam e controlam o mercado de combustíveis no Brasil. Já pagamos 122 bilhões de reais para comprar diesel de refinarias americanas em 5 anos, enquanto as refinarias da Petrobras estão produzindo 30% menos que sua capacidade. E o plano de construir novas refinarias também foi para o espaço.

Bolsonaro foi eleito para continuar com esta política entreguista e o pacote desta eleição incluiu Paulo Guedes para dar continuidade a destruição da economia nacional. 

O petróleo não é mais nosso. É “deles”. Mas quem paga a conta somos nós, quando abastecemos, compramos gás ou quando usamos óleo diesel. E os combustíveis e seus derivados provocam uma “inflação contagiante”, isto é, afetam toda economia, pois a circulação de mercadorias – e parte da produção – dependem do petróleo.

Com a política econômica desastrosa do Guedes, o dólar subiu. Isto “puxa” para cima o preço de tudo o que importamos. Cada vez que abastecemos, o preço é outro. 

E o preço do petróleo no mercado internacional também está em alta. Mais um “guindaste” puxando os preços para o alto. 

Mas não precisa ser assim. É possível reverter. O Brasil pode ser autossuficiente em Petróleo. 

Mas isto será resultado de consciência, luta e um governo decente, com uma política econômica que cuide os interesses do povo e uma estratégia de autonomia na produção, refino e distribuição de combustíveis em território nacional, balizada pelos custos internos da Petrobrás.  

Esta é nossa luta no tempo atual. 

(*) Frei Franciscano, militante do MPA, autor de “Agricultura Camponesa Familiar – Indispensável Para Reconstruir o Brasil”

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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