Opinião
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14 de outubro de 2021
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10:03

Como o Conselho Federal de Medicina pode se associar ao obscurantismo de Bolsonaro? (por Miguel Rossetto)

Por
Sul 21
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(Foto: Marcelo Casal/Agencia Brasil)
(Foto: Marcelo Casal/Agencia Brasil)

Miguel Rossetto (*)

O assunto não é novo, mas segue sendo estarrecedor e demonstra o nível de degeneração ética do país. Só ontem assisti ao vídeo (ver abaixo) no qual o presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro, em uma live com representante do CRM de Goiás, declara que liberou o uso da cloroquina para o tratamento da Covid-19. Liberou mesmo reconhecendo que não há comprovação científica da eficácia, porque Bolsonaro tem atendido as reivindicações da categoria. Mauro Ribeiro segue em sua fala, dizendo que fez isto, mesmo contrariando padrões do próprio CFM. Ora, o Conselho Federal de Medicina é uma autarquia federal que tem responsabilidades legais, entre elas, “defender a boa prática médica e, ao mesmo tempo, garantir a defesa da saúde da sociedade, adotando uma política de saúde digna e competente” e sua credibilidade (até então) orienta os profissionais médicos e a população.

A conduta do sr. Mauro Ribeiro, como presidente do CFM, ao se associar ao obscurantismo de Bolsonaro, iludiu pessoas, desinformou médicos, e estimulou dolosamente o charlatanismo. Quantos brasileiros orientados por esse charlatanismo recusaram a máscara, a higiene nas mãos, até mesmo a vacina, por conta da segurança anunciada por este “tratamento,” reconhecidamente inexistente. Foram levados à morte!

Aqui não cabe o silêncio nem a omissão. Não pode haver aceitação desta conduta, uma confissão monstruosa daquele que deveria ser o guardião das boas práticas médicas. É preciso denunciar esse personagem e ele deve responder perante a Justiça pelos seus atos. O Ministério Público deve se manifestar, os conselhos regionais de medicina precisam se manifestar. O silêncio será cúmplice do crime e da morte de milhares de pessoas. É preciso denunciar Mauro Ribeiro em nome daqueles que morreram iludidos pelo charlatanismo, pelo descumprimento da lei e da ética.

A atividade médica é precedida pelo juramento de Hipócrates no qual um sagrado compromisso é assumido, o de “Aplicar os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém”. É preciso denunciar a conduta desse personagem em nome dos profissionais médicos dedicados, íntegros, que incansavelmente defenderam a vida dos brasileiros, muitos deles vitimados pela pandemia. Esta denúncia é necessária em nome de uma esperança, de que este horror acabe, que a vilania seja derrotada, que o negacionismo que mata seja vencido pela razão da ciência. A esperança de que no Brasil, a ética maior da defesa da vida, de todas as vidas, volte a fazer parte da nossa sociedade.

(*) Miguel Rossetto foi deputado federal pelo PT, vice-governador do Rio Grande do Sul e Ministro do Trabalho e Previdência Social

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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