Saúde
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4 de abril de 2024
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11:52

Superlotação nos hospitais da Capital leva governo estadual e Prefeitura a debaterem soluções

Por
Luciano Velleda
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Nesta quinta (4), a emergência do Hospital São Lucas tem 250% de lotação, com 25 pacientes para 10 leitos. Foto: Divulgação
Nesta quinta (4), a emergência do Hospital São Lucas tem 250% de lotação, com 25 pacientes para 10 leitos. Foto: Divulgação

Depois de vários dias com as unidades de urgência e emergência da Capital superlotadas e do apelo público feito pelo prefeito Sebastião Melo (MDB) para que o governo de Eduardo Leite (PSDB) interceda no problema, as equipes técnicas de saúde da gestão municipal e estadual se reuniram nesta quarta-feira (3) para debater propostas que possam aliviar o sistema de saúde de Porto Alegre. A crise é causada por uma série de problemas principalmente nos hospitais da Região Metropolitana, o que leva os pacientes a buscarem socorro médico na Capital.

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Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), a reunião serviu para discutir iniciativas que possam auxiliar na melhoria das condições de ocupação da rede hospitalar da Capital. A perspectiva é que tais medidas sejam colocadas no Plano de Contingência que será elaborado pelo Departamento de Regulação Estadual (DRE) em parceria com a Regulação de Porto Alegre.

“O nosso objetivo é encaminhar medidas de censo comum entre as equipes, de maneira colaborativa, para que possamos, com a união de esforços, buscar soluções para desafogar a rede hospitalar do município”, disse Ana Costa, secretária adjunta da Secretaria Estadual de Saúde (SES). 

Uma das propostas considera que pacientes de outras cidades que estejam em hospitais da Capital passem a ser atendidos em seus municípios de origem, sempre que possível. “Vamos ter que contar com o apoio dos municípios de origem para que os casos possam retornar depois de passar por um hospital de complexidade maior, desde que tenham condições de voltar”, explicou Suelen Arduin, diretora do Departamento de Regulação Estadual.

Na análise da Prefeitura, a crise na saúde na Capital está relacionada com a troca da gestão hospitalar em Alvorada e Cachoeirinha, a restrição a casos graves, a interrupção dos serviços de traumatologia e ortopedia, o encerramento de serviços de saúde mental e urgência e emergência do hospital de Viamão e a crise nas instituições hospitalares de Canoas por falta de medicamentos, insumos e recursos humanos. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), todos esse fatores fazem com que os pacientes busquem atendimento em Porto Alegre, sobrecarregando a rede de assistência da Capital, especialmente as emergências.

A Prefeitura afirma que Porto Alegre sofre com a alta demanda da Região Metropolitana há pelo menos um ano e meio e destaca que mais de 50% das internações hospitalares na Capital são do interior, grande parte de Canoas, Viamão, Cachoeirinha, Alvorada e Gravataí.

Entre os pontos sugeridos na reunião também estão a organização do transporte de pacientes, o uso de uma ferramenta comum pelo Estado e pelo município para agilizar a definição do destino dos pacientes, além da elaboração de uma plataforma similar para os serviços de emergência da Região Metropolitana e outros procedimentos técnicos. Além disso, foi proposta a regulação via sistema Gerint para procedimentos na traumatologia.

“Esperamos que as propostas que foram apresentadas conjuntamente se efetivem com a maior celeridade possível, pois o sistema está em colapso e precisa de ações rápidas. A cidade e os cidadãos têm pressa”, declarou Fernando Ritter, secretário municipal de Saúde, ao final da reunião.

Segundo Ritter, a dificuldade de regulação dos hospitais ficou evidenciada em reunião realizada na última segunda-feira (01), com representantes técnicos do Hospital de Pronto Socorro (HPS), do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa) e o governo estadual. O problema, diz a Prefeitura, é que a gestão estadual monitora vagas em apenas 21 hospitais do Rio Grande do Sul devido à ausência de interoperabilidade dos sistemas, mesmo que previsto em contrato.

 

Uma das propostas debatidas na reunião é que pacientes de outras cidades em hospitais da Capital sejam atendidos nos municípios de origem. Foto: Joel Vargas/Ascom GVG

Diante da crise no sistema de saúde de Porto Alegre, o governo Melo está propondo também a revisão da utilização da “vaga zero” na rede de urgência – a vaga zero é um dispositivo criado para o acesso imediato aos pacientes com risco de morte ou sofrimento intenso. A prefeitura considera a medida um “recurso essencial” para garantir acesso imediato aos pacientes em estado grave, devendo ser considerada como situação excepcional, especialmente pela falta de capacidade instalada da Capital para suportar a demanda de toda Região Metropolitana e de outros municípios do RS. 

“A transparência na regulação de leitos estadual em tempo real com redefinição dos protocolos de referência e contrarreferência dos atendimentos de urgência são essenciais para minimizar os efeitos que vêm causando no sistema hospitalar e de urgência e emergência da Capital. O Estado se comprometeu em construir um fluxo para transferir pacientes menos graves que estão em Porto Alegre para que voltem para sua origem”, explica a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

“A regulação do Estado está às cegas para regular pacientes e um exemplo é a ausência de dashboard público dos hospitais estaduais, impossibilitando a regulação estadual de mapear as portas de emergência de outros municípios. Esperamos equalizar essa situação, que está insustentável e gera preocupação assistencial”, afirma Fernando Ritter, secretário municipal de Saúde.

Uma nova reunião para dar continuidade à elaboração do plano deve ocorrer na próxima segunda-feira (8).


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