Saúde
|
30 de junho de 2023
|
20:22

Aluna cotista de Medicina emociona Lula em inauguração no Hospital de Clínicas

Por
Luís Gomes
[email protected]
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na tarde desta sexta-feira (30), da cerimônia oficial de inauguração dos blocos B e C do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Orçada em R$ 555 milhões, a obra foi aprovada no governo de Dilma Rousseff e já havia sido concluída no final de 2019, mas, em razão da pandemia, as instalações foram utilizadas inicialmente de forma improvisada para o enfrentamento da covid-19. Esta foi a primeira visita de um presidente da República ao hospital, que é vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Leia mais:
Ovacionado, Lula entrega moradias do MCMV em Viamão: ‘A coisa mais barata é cuidar do povo’

No pós-pandemia, outros serviços começaram a migrar para os novos blocos. Recentemente, o novo Bloco Cirúrgico começou a operar em 13 salas, com capacidade de ampliação para 40. Os blocos B e C ainda irão abrigar, no futuro, novas áreas de Hemodiálise, Endoscopia, Centro de Infusões e Centro Integrado de Oncologia, entre outras. Com a obra, o Clínicas se consolida como o maior centro de referência no tratamento de alta complexidade da doença no Rio Grande do Sul.

Apesar de o evento estar repleto de autoridades, quem “roubou a cena” foi a estudante de Medicina Marilza Vallejo Belchior. Cotista racial e oriunda de escola pública, ela falou da importância das ações afirmativas para que jovens como ela alcançassem espaços como a Faculdade de Medicina da UFRGS e agradeceu ao presidente Lula pelas políticas de seus primeiros governos.

“Eu posso dizer que deu certo. Nós estamos chegando lá, e por isso eu só tenho a agradecer”, afirmou.

 

Marilza defendeu a políticas de cotas e agradeceu ao presidente em sua fala | Foto: Luiza Castro/Sul21

A fala da jovem levou Lula às lagrimas, e o presidente a abraçou após o encerramento.

Em seu pronunciamento, Lula voltaria a falar de Marilza. O discurso de quase 20 minutos foi marcado pela defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e do direito do povo voltar a sonhar e a ter esperança. “Por que todas as meninas desse País não podem ser como a nossa estudante que veio aqui, emocionada, dizer que teve a oportunidade de fazer uma universidade? Por que todos não podem ter? Por que o País não pode ser melhor?”, disse.

O presidente lembrou que, quando foi deputado constituinte ao lado dos ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro, ambos presentes no evento, a criação do SUS exigiu uma consciência pública e privada de que a saúde pública era importante, uma vez que nenhum país de mais de 100 milhões de habitantes havia conseguido universalizar o atendimento de saúde até então.

Contudo, disse, as primeiras décadas do SUS foram marcadas por críticas e uma tentativa de agentes privados, incluindo meios de comunicação, de criar uma imagem negativa do sistema. “Vocês acompanharam quantas décadas o SUS só aparecia nos meios de comunicação de forma pejorativa. Muitas vezes, o SUS atendia mil pessoas, mas, se uma pessoa não fosse bem atendida, era aquela pessoa que aparecia na imprensa”.

Lula pontuou que foi preciso ocorrer a “desgraça” da pandemia e precisou o Brasil ter um governo negacionista para que o SUS pudesse ser respeitado como “jamais havia sido”. “Hoje, mesmo as pessoas que criticavam o SUS foram obrigados a se curvar e a agradecer. Morreram 700 mil pessoas, poderia ter morrido mais 1 milhão se não houvesse a dedicação dos funcionários do SUS”, afirmou.

Ele afirmou que a inauguração de uma obra que transforma o Hospital de Clínicas em um dos centros de excelência mais importantes do País mostra que “um outro País é possível”. “É importante a gente ter clareza de que nós seremos do tamanho que a gente quiser”, disse.

 

Autoridades descerram placa de inauguração dos blocos B e C do Hospital de Clínicas | Foto: Luiza Castro/Sul21

Em sua fala, a diretora-presidente do Clínicas, Nadine Clausell, destacou que o evento também teve o objetivo de mostrar que o HCPA é um hospital público de excelência. Ela lembrou que os novos blocos já haviam sido concluídos, mas que foram inicialmente utilizados de forma emergencial para o enfrentamento da pandemia de covid-19. “O Hospital de Clínicas foi uma referência na assistência e na produção de conhecimento [durante a pandemia]. O Hospital foi um baluarte da defesa da ciência”, destacou Nadine.

Nadine explicou que a nova infraestrutura dos blocos B e C, com 80 mil metros quadrados, tem a capacidade de transformar a realidade e contribuir para construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Ela pontuou que Lula era o primeiro presidente a visitar o Clínicas e afirmou estar “honrada” de receber um chefe da nação, com sua equipe, que compartilham os mesmos valores de defesa da ciência e da saúde da instituição.

 

Ministra Nísia Trindade assinou portarias que destinam mais recursos para hospitais no Rio Grande do Sul | Foto: Luiza Castro/Sul21

Ministra da Saúde, Nísia Trindade, pontuou que a nova estrutura do HCPA será um modelo usado para inspirar a reconstrução da saúde em andamento, o que passa pelo fortalecimento do Mais Médicos, pela Farmácia Popular, pela campanha da vacinação, pelas políticas voltadas para pessoas com deficiência.

Durante o evento, a ministra assinou duas portarias destinando recursos para hospitais do Rio Grande do Sul. A primeira, de nº 771, destinou R$ 2,4 milhões para a habilitação de uma unidade de Alta Complexidade em Oncologia na Santa Casa de Misericórdia de Bagé. A segunda, de nº 772, destinou R$ 164 milhões para o atendimento de média e alta complexidade em hospitais de Caxias do Sul, Guaíba e Santa Maria.

Segundo a ministra, os investimentos fazem parte de uma política de regionalização da saúde. “Não é possível que, no momento em que a pessoa mais precisa, ela tenha de percorrer 400 km para ter tratamento oncológico”, disse a ministra.

 

Fala do prefeito e menções ao seu nome foram marcadas por vaias | Foto: Luiza Castro/Sul21

Com a participação de diversos funcionários do hospital e aberto ao público em geral, o evento teve um clima de comício, semelhante a um evento de campanha. Como costuma ocorrer em eventos com a militância petista, após o próprio Lula, o nome de Olívio Dutra foi o mais aplaudido toda vez que era mencionado.

Por outro lado, toda citação ao prefeito Sebastião Melo (MDB) era seguida por fortes vaias. Primeiro a falar no evento, o prefeito, que estava com a voz rouca, tentou fazer um discurso de defesa do trabalho conjunto com o governo federal, mas foi ofuscado pelas vaias. Ainda assim, ao final de sua curta fala, conseguiu fazer um apelo ao presidente para que a reforma tributária, em discussão no Congresso, não retire recursos dos municípios.

Igualmente do MDB, mas com mais jogo de cintura, o vice-governador Gabriel Souza começou com a “brincadeira” de reforçar a citação aos governadores Tarso e Olívio para que fossem ouvidos aplausos. Na sequência, também adotou o tom conciliador ao falar que governo do Estado e governo federal trabalhavam juntos para melhorar a vida dos brasileiros, independente dos brasileiros. Neste sentido, saudou a ajuda do governo federal nos esforços de reconstrução das áreas do Estado devastadas pela passagem do ciclone extratropical entre os dias 15 e 16 de junho.

Ainda ganhou aplausos quando afirmou que passou por uma manifestação de profissionais da Enfermagem cobrando o pagamento do “justo” piso da categoria, mas afirmou que, apesar dos esforços recentes do governo federal para a liberação de verbas para a área, os estados ainda precisavam de mais ajuda para garantir o piso.

Nas demais falas, como a dos ministros Paulo Pimenta (Secom) e Camilo Santana (Educação), críticas foram feitas ao negacionismo do governo anterior, mas o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro nunca foi mencionado. Ainda assim, essas menções eram suficientes para que o público presente passasse a entoar a palavra de ordem “inelegível”, em alusão ao julgamento encerrado hoje no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

 

 Foto: Luiza Castro/Sul21
30.06.2023 – PORTO ALEGRE, RS: Presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita as novas instalações do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Diretora do Clínicas, Nadine Clausell | Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
 Foto: Luiza Castro/Sul21
 Foto: Luiza Castro/Sul21

Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora