Política
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19 de março de 2024
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19:49

Saída do vice-prefeito da chapa de Melo expõe racha no PL e medo do crescimento da esquerda

Por
Luís Gomes
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Melo e Zucco se reuniram nesta segunda-feira (18) na Prefeitura | Foto: Divulgação/PMPA
Melo e Zucco se reuniram nesta segunda-feira (18) na Prefeitura | Foto: Divulgação/PMPA

A troca no comando do PL de Porto Alegre causou um rebuliço nos últimos dias que deve trazer impactos ainda incertos para a candidatura à reeleição do prefeito Sebastião Melo (MDB). A substituição de André Flores, então presidente municipal do PL, pelo deputado federal Luciano Zucco, que retornou ao partido em dezembro passado, resultou no anúncio de que o vice-prefeito Ricardo Gomes (PL) não participará da chapa à reeleição e que irá se desfiliar do partido. A decisão, na prática, abre uma vaga na chapa. E, ao menos como possibilidade, espaço para uma candidatura própria do PL à Prefeitura, o que significaria um racha na coalizão do prefeito Melo. Diante do disse-me-disse criado em torno da situação, Zucco tratou de tentar amenizar as consequências dos movimentos internos do partido.

Em nota publicada na sexta-feira (15), o vice-prefeito Ricardo Gomes indicou que a decisão de não concorrer à reeleição e de pedir a desfiliação do PL ocorreu após as mudanças no comando do partido em Porto Alegre. “A direção nacional do Partido Liberal, meu partido, optou por nomear uma nova comissão Executiva em Porto Alegre, justamente no momento da construção da coligação para a eleição municipal, que vínhamos liderando. Essa decisão, pela forma e momento em que se dá, representa um desejo de mudança na condução do Partido e reabre a discussão sobre manter ou não o apoio ao governo municipal. Respeito a discussão que o partido travará, assim como respeito a nova Executiva. No entanto, na condição de Vice-Prefeito, não posso por em dúvida o meu apoio ao governo do qual faço parte”, disse.

Na mesma nota, Gomes reconhece que há uma hesitação em manter o apoio à coligação atual, o que abriria espaço para o crescimento de uma candidatura de esquerda. “Qualquer enfraquecimento da atual gestão só beneficiará seus adversários. Torço para que a nova gestão [do PL] opte por manter a coligação com Melo”, escreveu, acrescentando ainda que vai cumprir o mandato de vice-prefeito até o final. Ele finaliza a nota dizendo que vai se “dedicar ainda mais ao cenário político nacional”.

A decisão do vice-prefeito repercutiu já na noite de sábado, quando, em um evento promovido pela Frente Conservadora em Porto Alegre, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) defendeu que as disputas internas do PL devem ser superadas e que o inimigo do partido seria a esquerda.

 

Vice-prefeito Ricardo Gomes | Foto: Giulian Serafim/PMPA

Também no final de semana, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, divulgou uma nota afirmando que a estratégia nacional do partido é contar com candidaturas próprias nas principais cidades e que Porto Alegre se inseriria neste cenário. A nota também destaca que a decisão de Ricardo Gomes de deixar a vida pública ao final do mandato já teria sido sinalizada a interlocutores e que seria motivada por questões de “foro íntimo”.

Na segunda-feira, o deputado Zucco se reuniu com o prefeito Sebastião Melo para tratar do processo eleitoral e, após o encontro, destacou que há convergência entre o que os partidos pensam sobre a cidade, mas reconheceu que o “tempo de amadurecimento do debate em cada partido precisa ser respeitado”.

Os eventos foram recebidos com diversas críticas nas redes sociais, com apoiadores do partido e do ex-presidente Jair Bolsonaro se posicionando, de forma majoritária, pelo apoio à candidatura de Melo e Gomes.

Diante da repercussão, a vereadora Fernanda Barth, líder do PL na Câmara, divulgou um vídeo para os membros do partido dizendo que “ninguém expulsou” Ricardo Gomes e que o comando da direção municipal por Zucco tem condições de garantir uma nominata mais forte para as eleições e que merece mais espaço político num eventual segundo governo Melo. Ela ainda pontua que o contexto político que formou a chapa Melo e Gomes em 2020 mudou e que, agora, um novo acordo deveria passar por negociações com o PL. “Nós temos todo o interesse de vencer a esquerda e estarmos unidos em outubro”, disse.

Em manifestação elaborada nesta terça-feira, o deputado Zucco tratou de tentar amenizar a situação. Ele afirma que não será candidato em 2024 e reforça que a decisão de Ricardo Gomes de deixar a política se dá por motivos pessoais “para atender uma pauta privada”.

“O fato de uma decisão de um vice-prefeito não concorrer mais faz com que o partido se reúna e se prepare. A velocidade não é das pessoas que são amadoras na política, pessoas que gostam de criticar simplesmente por criticar, sem entender, sem saber que a nominata de Porto Alegre não estava bem feita, que os vereadores de Porto Alegre e aqueles que estão entrando estavam incomodados e que a gente precisava se reorganizar. Falo firme, falo duro, porque a responsabilidade quando se vai a público para criticar, principalmente alguém do partido, é pelo menos ter as informações que eles não têm. Mas o partido está coeso, está unido”, diz Zucco.

A respeito da conversa com o prefeito Melo, realizada na segunda-feira (18), Zucco diz que o próprio prefeito passou a orientação de que o processo eleitoral e de avaliação de quadros dentro do PL seja conduzido com mais calma. “Nós temos hoje nomes para a majoritária? Então nós temos que avaliar, fazer reuniões. Nós temos condições de, com muita responsabilidade, com muita clareza, levantar possíveis nomes. Inclusive na permanência da vice-prefeitura”, diz. “Não há intenção do PL em lançar majoritária, a intenção é permanecer com o que foi feito. A diferença neste momento é que estão acostumados com certa forma de se construir partido. O que nós precisamos agora é termos uma nominata muito forte, para Porto Alegre, para Canoas, Caxias do Sul, para todas as cidades do Rio Grande do Sul e do Brasil”, complementa.

Defensor do apoio à reeleição do prefeito Melo, o deputado estadual Rodrigo Lorenzoni (PL) afirmou ao Sul21 que a nova executiva municipal do partido e o deputado Zucco, até por ser o deputado federal mais votado do RS, tem legitimidade para pleitear suas posições. Contudo, pontua que, em 4 de dezembro de 2023, a então executiva municipal do partido, com aval das direções estadual e nacional do PL, anunciou publicamente, junto com PP e PRD, a decisão de apoiar o projeto de reeleição da chapa Melo e Ricardo Gomes.

“A instituição, que deve sempre estar acima das pessoas, assumiu um compromisso público com outras siglas e com a sociedade de Porto Alegre. Eu, como filiado do PL, vou trabalhar para que o partido honre o compromisso assumido de forma pública e mantenha o apoio ao projeto, que eu entendo que pode vencer as eleições, que representa tudo aquilo que a gente defende do ponto de vista econômico. Eu não quero ver o meu partido envolvido em algum movimento político que possa favorecer a esquerda”, diz Lorenzoni.

O deputado também destaca que foi o responsável por convidar o Ricardo Gomes para entrar na política, quando presidia a juventude do então PFL, e, por conhecer o vice-prefeito, acredita que a sua decisão de não disputar a eleição é definitiva. “Lamento muito, mas também entendo e apoio o movimento que o Ricardo fez, porque os movimentos partidários deixaram ele numa situação delicada e constrangedora”, diz.

Para Lorenzoni, a saída de Ricardo Gomes coloca “a bola de volta ao centro” nas discussões sobre a formação da chapa de reeleição do prefeito Melo, uma vez que a vaga de candidato a vice passar a estar aberta. Ele avalia que os partidos que irão compor a chapa deverão discutir a questão, pontuando que defende os interesses do PL, mas que o principal ponto da discussão deverá ser a preocupação com o eventual retorno do PT à Prefeitura. “Eu não estou entre aqueles que subestima a candidatura da deputada Maria do Rosário”, afirma.

Questionado se os eventos recentes poderão prejudicar a candidatura de Melo, o deputado avalia que não, pois o prejuízo de “movimentos errados” se daria ao próprio PL.

Questionado pelo Sul21 nesta terça-feira se a decisão de não concorrer à reeleição é definitiva, Ricardo Gomes afirmou que “sim”. Sobre a construção da chapa de situação, afirmou: “Torço para que o PL apoie o Melo, mas não respondo mais pelo partido”.


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