Política
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4 de janeiro de 2024
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15:11

PT e PSOL se aproximam de aliança para a disputa pela Prefeitura de Porto Alegre

Por
Felipe Prestes
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Luciana e Rosário se reuniram em dezembro com o ex-prefeito Fortunati e com Roberto Robaina | Foto: Reprodução
Luciana e Rosário se reuniram em dezembro com o ex-prefeito Fortunati e com Roberto Robaina | Foto: Reprodução

O final de 2023 foi marcado pelo lançamento de duas pré-candidaturas à Prefeitura de Porto Alegre no campo da esquerda. Em novembro, o diretório municipal do PT indicou, por unanimidade, a pré-candidatura de Maria do Rosário. No mês seguinte, o congresso municipal do PSOL indicou Luciana Genro como pré-candidata a prefeita e Tamyres Filgueira como vice-prefeita. O ano de 2024, por outro lado, deve marcar o movimento oposto: as siglas devem buscar uma chapa única para concorrer.

“Está muito encaminhado”, afirma a deputada estadual Laura Sito, que preside o PT na capital gaúcha. “Nós estamos em um diálogo muito intenso, muito próximo. Estamos discutindo semanalmente”, conta.

As pré-candidatas das duas siglas apareceram juntas, inclusive, em um encontro com o ex-prefeito José Fortunati, no dia 23 de dezembro. Luciana Genro publicou em suas redes sociais que o encontro foi para pedir a colaboração de Fortunati “na elaboração de um programa para melhorar Porto Alegre”.

O presidente do PSOL na Capital, Roberto Robaina, corrobora a avaliação da petista, de que um acordo está próximo: “Eu acho que estamos caminhando muito bem, porque temos uma compreensão comum da necessidade de enfrentar o Governo Sebastião Melo, por ser um governo de desconstrução do interesse público e de um crescimento da extrema-direita”. 

O vereador revela que existe acordo entre os partidos para que a pré-candidata que figure melhor nas pesquisas seja a escolhida. Estima que esta decisão deve ocorrer em março ou, no máximo, abril. O próprio Robaina avalia que a tendência é que a candidata do PT, Maria do Rosário, apareça com mais intenções de voto. Neste caso, o PSOL deve indicar Tamyres Filgueira como candidata à vice-prefeita. Além de PSOL e PT, a aliança deve contar com PCdoB e PV, que compõem, junto com o PT, a federação Brasil da Esperança, e da REDE, que está federada com o PSOL. 

Para o PCdoB, contudo, a definição dos nomes ainda não está fechada. Silvana Conti, presidenta do partido na Capital, defende que primeiro seja elaborado um programa pela Federação Brasil da Esperança, ouvindo a população, e, depois, se busque uma grande frente ampla – “com a mesma amplitude que garantiu a eleição de Lula” – para que então sejam escolhidos os nomes. “Os partidos têm independência de organização. A gente respeita a opinião do PT, do PSOL. A gente avalia que é importante ter um diálogo com a população, para construir um projeto, e aí definir quais são os principais nomes. Alguns partidos começaram invertido, começaram pelos nomes. No nosso caso não”. Dentre os nomes que o PCdoB poderia apresentar, a dirigente cita os de Manuela D’Ávila, Bruna Rodrigues e Daiana Santos. 

Na busca por uma frente ampla, Laura Sito conta que pretende buscar também o apoio de PDT e PSB, que irão formar uma federação em 2026 e, por orientação nacional, devem desde já caminhar juntos em grande parte dos municípios brasileiros. “Estamos num diálogo intenso com o PDT, que a gente sabe que é mais complexo. Eles ainda estão, de certa forma, na base do Melo. Então é mais difícil em um primeiro turno, mas a gente tem dialogado com eles, inclusive nacionalmente, onde eles têm uma orientação de não sustentar palanques que dialoguem com o projeto do Bolsonaro. Então, nós achamos que temos como construir um diálogo com o PDT, se não no primeiro turno, no segundo turno. Com o PSB também, é um diálogo conjunto”, explica. 

Para o presidente municipal do PDT, José Vecchio Filho, as movimentações de PT e PSOL inviabilizam uma aliança no primeiro turno. “Nossa ideia, lá atrás, era construir um projeto, sem nomes. Quando se coloca um nome na mesa, constrange o debate. O PT acelerou o debate, logo em seguida o PSOL lançou seus candidatos e veio a público, inclusive, com vetos ao PDT, então como vou sentar na mesa para discutir em um cenário desse uma frente de esquerda? Ficou parecendo que se buscava uma adesão, não um debate”. 

Vecchio afirma que poderia retomar as conversas, se as candidaturas forem retiradas. “Portas não estão totalmente fechadas, podem ser reabertas. Não sou refratário a reabrir a conversa, se retirarem as candidaturas. Vamos debater um projeto e um nome de consenso para ganhar do Melo. O aceno do Lupi (presidente nacional do PDT) sempre foi para conversarmos com o PT,  mas o problema aqui foi o açodamento do lançamento de candidaturas. Isso fecha a porta. Cabe a eles reabrir”. 

O presidente municipal do PDT acredita que devia se buscar um nome com baixa rejeição, capaz de buscar votos do eleitor de centro e com trânsito entre os partidos. Edegar Pretto e Olívio Dutra seriam nomes, em sua opinião, que preencheriam esses requisitos.  Ele avalia que, em uma eventual disputa entre Maria do Rosário e Sebastião Melo, este último levaria os votos do centro. “Só há sentido em reunir uma frente de esquerda se for com candidatura que tenha chance real de vitória. Esse projeto tem que se mostrar viável”, afirma. 

Outro nome que José Vecchio Filho vê como de baixa rejeição é de Juliana Brizola, que deve ser a candidata do partido. Além dela, o dirigente elenca o nome de Vieira da Cunha, mas conta que o próprio Vieira vê a indicação de Juliana como mais adequada. “Se alguém quiser nos apoiar mais ao centro, nós vamos ser a terceira via. Vamos conversar com partidos de centro que não apoiam o Melo e não apoiariam a Rosário”, completa. 

Vecchio classifica como “impossível” um apoio a Sebastião Melo no primeiro turno e “pouco provável” em um segundo turno. “Temos pautas que a gente entende que o Melo não atendeu, como a questão do transporte público, das necessidades da periferia. Ele é um bom gestor da cidade para algumas coisas, para outras ele é ruim. Claro que o balanço dele é positivo no eleitorado, as pesquisas mostram. Não podemos subestimar. Ele já está no segundo turno, e, se a gente der um passo errado, não vai ter segundo turno”.  

Do lado do PSB ainda não há questão fechada em torno do apoio ao PDT, embora haja orientação neste sentido. “As diretorias nacionais nossa e do PDT se reuniram para tentar se aproximar na maioria dos municípios em que se tenha um bom relacionamento, onde for possível. Não temos uma decisão. Já conversamos com PT, PDT, União Brasil, estamos conversando com outras lideranças, outros partidos”, explica o presidente municipal da sigla, Mauri Ramme. 

Embora o partido tenha bom relacionamento com Sebastião Melo, o dirigente vê como difícil um apoio do PSB ao atual prefeito. “Estamos trabalhando mais para ficar no campo da esquerda, porque o vice-presidente (Geraldo Alckmin) é do nosso partido, mas não tenho nada contra o Melo”, diz. 

A indicação dos nomes não gerou mal-estar apenas no PDT. Candidata apoiada em 2020 tanto por PSOL (no segundo turno) quanto por PT (desde o primeiro turno), Manuela D’Ávila (PCdoB) criticou as escolhas nas redes sociais. 

Em sua postagem, a comunista clamou por renovação dos nomes, ressaltando ter “profundo respeito” por Maria do Rosário e Luciana Genro. Manuela também pediu maior protagonismo da Bancada Negra: “Eu penso que o eleitorado apontou um caminho nas últimas eleições. Deu um recado claro no sentido da renovação, da criatividade, da inventividade, da combatividade. E exigiu de nós um olhar renovado para a periferia da cidade, dando a suas filhas e filhos as maiores votações”. 

O deputado estadual Matheus Gomes, do PSOL, também lamentou nas redes sociais que a Bancada Negra tenha ficado de fora das chapas indicadas e defendeu a realização de prévias para a escolha da candidatura conjunta à Prefeitura. ”Nenhum dos partidos da esquerda tem um nome óbvio em torno do qual possamos nos unir, como Lula foi em 2022, por exemplo. Mas, PT e PSOL decidiram indicar pré-candidatas a partir de decisões internas tomadas por poucas pessoas. E com a mesma desculpa de 2020: não há tempo para prévias. O erro de não ouvir as periferias pode nos custar outra eleição, e isso é preocupante”. 

Os dirigentes de PT, PCdoB e PSOL não têm consenso sobre a realização de prévias. Por outro lado, as siglas estão planejando um processo de participação popular na construção do programa de governo. 

“Nós não abrimos mão de ter um espaço de formulação de um programa pra cidade aberto, participativo com a sociedade. De percorrer a cidade, de poder ouvir, de ter um espaço onde as pessoas possam propor um programa”, conta a presidenta do PT em Porto Alegre, Laura Sito. Ainda em janeiro deve ser definido como essa participação popular deve ocorrer. 

“A gente está discutindo com o PV e com o PT essa perspectiva de diálogo com o povo, através de um congresso, um Congresso do Povo, ou o nome que o coletivo achar importante. E por quê não prévias? Nós não fechamos essa questão ainda entre os três partidos da federação”, diz Silvana Conti. 

Roberto Robaina afirma que o PSOL retirou a exigência de prévias conjuntas entre os partidos em prol da aliança com o PT. “Nós defendemos as prévias desde o início, mas não achamos que a questão do nome tem que se sobrepor à questão programática e à necessidade de ter uma alternativa diante do Melo”.

Ele também defende a elaboração de um programa de governo participativo. “Quando tiramos da pauta a exigência das prévias, nós colocamos a exigência de um debate real, profundo sobre programa. E é isso que começamos a fazer no nível da direção e queremos fazer, já em janeiro, em bairros e categorias”. 

Para a presidenta do PT, pode haver falta de amadurecimento para realizar prévias. “Nós do PT somos talvez os mais experientes para falar sobre o tema de primárias, porque passamos todos os anos 90 e início dos anos 2000 realizando primárias internas. E a nossa experiência é que as primárias são importantes, trazem uma participação da base, politizam o processo, mas não podem estar dentro de uma lógica de um querendo derrotar um outro, porque daí tu entras dividido em uma campanha. Requer um grau de amadurecimento do campo que eu não sei se hoje nós temos como ter”, opina Sito. 

A respeito da escolha do nome de Maria do Rosário, a dirigente ressalta que a última vez que o PT foi para o segundo turno foi com ela, em 2008 (derrotada por José Fogaça), e que na ocasião fez mais votos em números absolutos que Manuela D’Ávila em 2020 (a petista teve 327 mil votos, 20 mil a mais que a comunista). “As pesquisas mostram que é uma candidata competitiva. A gente sabe que tem que trabalhar o tema da rejeição. Mas não seria diferente com Manuela, Luciana ou Rosário, porque é uma rejeição com cunho misógino e uma rejeição cristalizada de setores que são automaticamente alinhados à direita. Nós precisamos enfrentar a rejeição no debate com a sociedade”. 

Laura Sito entende que Edegar Pretto não concorreu por ter assumido há pouco tempo a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), além de ser um “ativo” do partido para 2026. Sobre o nome dela própria e o do deputado Matheus Gomes, acredita que é cedo para que concorressem. “Estamos recém no nosso primeiro mandato de deputado, dirigir uma capital é um processo denso. Eu entendo todas as ponderações de nome que ocorreram nas redes sociais, mas, para mim, nenhum nome é maior do que a força de estarmos todos juntos, o que nós não conseguimos desde 2004”. 


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