Política
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1 de junho de 2022
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22:47

Lula faz apelo pela unidade da esquerda no RS: ‘É o mínimo que esperam de nós’

Por
Luís Gomes
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Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

O primeiro grande evento da pré-campanha do ex-presidente Lula no Rio Grande de Sul teve, como mote oficial, a defesa da soberania nacional. Mas, o que se viu no palco do Pepsi On Stage, em Porto Alegre, foi um forte apelo público do ex-presidente à unidade dos partidos de esquerda na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul e uma possível sinalização de que há caminhos para um acordo, ao menos envolvendo PT, PSOL e PCdoB.

Lula iniciou sua fala lembrando que fazia tempo que não vinha a Porto Alegre, o que não ocorria desde 2018, e lamentou não poder ter feito um ato público na Rua da Praia porque poderia ser considerado como campanha eleitoral. Em seguida, contudo, fez uma enfática defesa da unidade de partidos de esquerda não apenas na campanha nacional, que reúne, além do PT, PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede e Solidariedade.

No RS, apenas PT, PCdoB e PV, que compõem uma federação de alcance nacional, estão unidos até o momento. Antes do evento, Lula já tinha participado de uma reunião com lideranças destes sete partidos no RS, mas que não resultou em avanço concreto. “Eu queria fazer um apelo, um apelo de alguém que aprendeu a fazer política negociando”, disse.

Foto: Joana Berwanger/Sul21

O ex-presidente afirmou que é natural que cada partido queira lançar um candidato próprio, mas ponderou que “não custa nada” as lideranças partidárias se sentarem para negociar mais uma vez. “Não custa nada conversarem um pouco mais e darem de presente a esse povo a unidade para derrotar o Bolsonaro. É o mínimo que esperam de nós”, afirmou.

Enquanto Lula falava, Edegar Pretto e Pedro Ruas, os pré-candidatos de PT e PSOL, respectivamente, ao governo do Estado, juntaram-se no palco para conversar com Manuela D’Ávila (PCdoB), que recentemente anunciou que não iria concorrer ao Senado, citando entre os motivos a dificuldade de construção de uma unidade partidária. E, num sinal ainda mais claro de que uma unidade ainda poderia ser construída, Pretto e Ruas terminaram o evento se dirigindo à frente do palco e, de mãos dadas, erguendo os braços ao lado de correligionários dos três partidos.

Foto: Luís Gomes/Sul21

A notada ausência ficou por conta do PSB, que teve como única fala no evento a de Geraldo Alckmin, pré-candidato a vice, e nenhuma participação de um representante estadual. Beto Albuquerque, pré-candidato do partido ao governo do Estado, não foi citado em nenhum momento pelos presentes.

Para além da situação política no Rio Grande do Sul, Lula também dedicou uma grande parte de seu discurso ao tema da soberania, tratando especialmente do tema dos preços dos combustíveis e das privatizações da Eletrobras e da Petrobras. Sobre o primeiro tema, disse que a forte alta registrada em 2022 não poderia ser atribuída à Guerra na Ucrânia, mas sim à “falta de vergonha na cara” de quem dirige o País. “Quando eu era presidente da República, na crise de 2008, o barril de petróleo chegou a 140 dólares e vocês compraram gasolina a R$ 2,60 aqui no Brasil”, disse. “Quem quiser se meter a comprar a Eletrobras, quem quiser se meter a comprar a Petrobras, se prepare, porque vai ter que conversar conosco depois das eleições”, acrescentou posteriormente.

O discurso de Lula também foi marcado por outras oposições ao governo Bolsonaro, como a fala de que deseja um país que compre livros para distribuir de graça e que proíba a compra das armas. Da mesma forma, prometeu dar mais importância à Cultura, não apenas recriando um ministério próprio para a área, mas com a criação de comitês de cultura em todos os estados “para que a cultura do país seja socializada e a gente não fique recebendo apenas a cultura de Rio e São Paulo”. “Nós vamos fazer a revolução cultural que o País precisa”, disse.

Mobilização nos arredores do Pepsi ao longo da tarde. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Neste tema, Lula participa nesta quinta-feira (2) de um encontro com artistas gaúchos.

O ex-presidente também fez a defesa da escolha de Alckmin como candidato a vice. “Eu poderia ter pegado alguém do PT para ser vice, mas aí seria uma soma zero, porque seria nós com nós, eu queria pegar alguém que conhecesse mais gente (…), porque reconstruir o País é uma tarefa de mais gente”, afirmou.

Lula encerrou o seu discurso falando de violência policial. Ele lembrou a morte Genivaldo de Jesus Santos, assassinado em Umbaúba (SE), no dia 25 de maio, que já havia sido citada por Dilma, e avaliou que o abuso da força é resultado de um Estado que não cumpre suas obrigações sociais. “O Estado tem que estar na favela com educação, não com polícia”, disse.

Marcado para as 18h, o evento começou com cerca de 50 minutos de atraso. Inicialmente, falaram lideranças estaduais dos partidos que participam da aliança, com exceção dos representantes do PSB e da Rede, que não subiram ao púlpito. Posteriormente, foram executados os hinos nacional e do Rio Grande do Sul, cuja segunda parte não foi executada em razão da estrofe “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Na sequência, falaram o presidente estadual do PT, Paulo Pimenta, a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

Muito ovacionada, a ex-presidenta Dilma Rousseff afirmou que o Brasil vive o momento mais desafiador da história política recente e lembrou a morte de Genivaldo. “O Brasil foi destruído e as provas dessa destruição são visíveis quando um homem adulto é morto dentro de um carro da Polícia Rodoviária Federal num processo similar à câmara de gás usado pelos nazistas”, disse, acrescentando que o episódio é um sinal de que “há algo de podre nas instituições brasileiras”.

Dilma também ponderou que nunca antes um país que tinha saído do mapa da fome acabou retornando, como ocorreu com o Brasil. E ironizou seu impeachment ao falar da divisão do orçamento federal com o Centrão no atual governo Bolsonaro. “É ridículo falar em pedaladas fiscais para um governo que reduziu sempre a dívida pública, que respeitou os artigos da lei orçamentária em todos os anos. Agora, é um crime deixar que o orçamento seja usado de forma clientelista, fisiológica, distribuindo dinheiro para os apaniguados”, disse, em referência ao chamado orçamento secreto.

Foto: Joana Berwanger/Sul21

Após Dilma, o ex-governador Tarso Genro fez uma fala que iniciou saudando a “coragem histórica” de Geraldo Alckmin ao “emprestar o seu nome” para a construção de uma frente democrática. Ele também defendeu a necessidade de construção de uma chapa unificada no Rio Grande do Sul, saudando o nome do pré-candidato do PT, Edegar Pretto, mas colocando que “não tem nenhuma visão fechada de conformação da nossa chapa”.

Na sequência, o também ex-governador Olívio Dutra, ovacionado em diversas oportunidades, defendeu a necessidade de “reconquistar a democracia”, mas não a democracia dos “capitalistas”, que descreveu como a “do cada um por si e do diabo que carregue o resto”.

Após Tarso, falaram o candidato do PT ao governo do Paraná, Roberto Requião, que fez uma fala sobre a necessidade de defesa da soberania nacional, e Geraldo Alckmin.

O ex-governador abriu sua fala saudando uma “mulher guerreira e honesta, presidente Dilma” e prometeu “suar a camisa” e “trabalhar com todo o empenho” para que Lula volte à presidência. “Alguém pode perguntar por quê? Porque o Brasil precisa para salvar a democracia a volta do presidente Lula. Para combater o desemprego, a carestia, a fome, o Brasil precisa do presidente Lula”, disse.

Após Alckmin, Lula foi introduzido com a releitura do jingle “Sem medo de ser feliz”, da campanha de 1989, que foi relançado recentemente.

Confira mais fotos:

Foto: Joana Berwanger/Sul21
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