A Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República publicou nesta quarta-feira (28) em seus canais nas redes sociais (Twitter, Facebook e Instagram) uma foto de um homem armado com um fuzil em meio a uma plantação para ‘homenagear’ o Dia do Agricultor. “Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da Covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo”, afirma a publicação. A conexão com a foto escolhida para ilustrar a publicação aparece logo em seguida:
A foto escolhida não é de nenhum agricultor brasileiro, mas do banco de imagens da Getty Images com um preço fixado em R$ 2.300,00 para o seu uso. Intitulada “Man Holding Gun At Sunset” (“homem segurando arma ao pôr do sol”), a foto, nos mecanismos de busca é associada à prática da caça e não da agricultura.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) divulgou nota oficial repudiando e manifestando indignação com a postagem feita nas redes sociais do governo Bolsonaro. A nota afirma:
“A melhor homenagem que os agricultores e agricultoras familiares esperam é reconhecimento ao seu importante papel na produção de alimentos e no desenvolvimento do País. Ao invés disso, recebemos do governo federal uma “homenagem” totalmente desrespeitosa, com a imagem de uma pessoa no campo segurando uma espingarda. Exigimos respeito!”
E acrescenta:
“A CONTAG repudia totalmente essa postagem feita nas redes oficiais do governo e, enquanto representante dos agricultores e agricultoras familiares, expressa a sua indignação. Ao mesmo tempo, homenageia a todos os homens e mulheres que trabalham debaixo de chuva e de sol, no frio e no calor, de domingo a domingo, com pandemia e sem pandemia, semeando, cultivando e colhendo com amor e dedicação os alimentos que geram vida, saúde, renda e desenvolvimento em todo o País”.
No início da tarde, a Secom deletou a postagem sobre o Dia do Agricultor, que havia feito pela manhã, com a foto do homem armado, sem apresentar nenhuma explicação.
A organização Oxfam Brasil também divulgou nota afirmando que a publicação da Secom é desrespeitosa e motivo de consternação. “A Secom desrespeita cerca de 15 milhões de trabalhadoras e trabalhadores rurais brasileiros. Não se planta com armas, não se colhe com armas. A imagem mais parece celebrar aqueles que semeiam a violência no campo, aqueles que matam e violam direitos em nome de interesses privados e aprofundam a desigualdade no meio rural”.
A Oxfam lembra dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que apontam 2.045 ocorrências de conflitos violentos no campo no Brasil em 2020, um aumento de 8% em relação ao ano anterior. “É o maior número de ocorrências de conflito no campo já registrados pela organização desde 1985. Os conflitos por terra também aumentaram. Segundo a CPT, 81.225 famílias tiveram suas terras ou territórios invadidos em 2020 – também um recorde. Desse total, 71,8% são indígenas”, assinala.
A organização aponta ainda que o trabalho escravo também é uma violência sistemática aos trabalhadores e trabalhadoras rurais. “Segundo o radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, 580 pessoas foram resgatadas no campo em 2020 em condições análogas à escravidão”.
