Geral
|
6 de setembro de 2023
|
19:39

‘Quantos mais precisarão morrer?’: Greenpeace questiona governantes após tragédia no RS

Por
Luciano Velleda
[email protected]
Cidades do Vale do Taquari, como Roca Sales, foram arrasadas pela enchente no começo de setembro. Foto: Secom/RS
Cidades do Vale do Taquari, como Roca Sales, foram arrasadas pela enchente no começo de setembro. Foto: Secom/RS

A tragédia causada pelas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias e causaram a morte, até o momento, de 36 pessoas, chama a atenção do Brasil. Em nota, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) ressalta que 115 pessoas perderam a vida devido às chuvas no Brasil em 2023. Desse total, quase a metade, 52 vítimas, são do Rio Grande do Sul.

Leia mais:
Francisco Aquino: ‘Os eventos climáticos se intensificaram no mundo, não seria diferente no RS’

Em junho, o ciclone extratropical que passou pelo RS matou 16 pessoas. Naquela ocasião, os municípios do litoral norte, como Caraá, estiveram entre os mais atingidos. Dessa vez, a região do Vale do Taquari é a mais afetada. Cidades como Muçum, Roca Sales, Estrela, Encantado, Lajeado, Ibiraiaras, entre outras, se transformam em cenários desoladores, de grande destruição material e enorme sofrimento humano.

As enchentes causadas por chuvas torrenciais, todavia, não podem mais ser consideradas fenômenos inesperados no contexto das mudanças climáticas. Especialistas alertam há anos para os fenômenos climáticos extremos, cada vez mais frequentes, cada vez mais fortes. E a população do RS tem vivido da pior maneira possível a realidade desses alertas.

“O enfrentamento à emergência climática deve ser prioridade para o poder público. As fortes chuvas que resultaram em dezenas de mortes e milhares de desabrigados e desalojados nesses últimos dias no Rio Grande do Sul, são resultado da falta de políticas efetivas de prevenção, adaptação às mudanças climáticas e resposta aos eventos extremos”, afirma Igor Travassos, coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil.

Ele lembra que o RS tem convivido nos últimos anos com uma série de ciclones extratropicais – só no outono/inverno desse ano já foram quatro.

“Não estamos lidando com um fato novo ou inesperado. O sul do país tem sofrido com os efeitos das passagens de ciclones na região por décadas e nada de concreto tem sido feito. Quantos mais precisarão morrer ou perder tudo para que os governantes garantam cidades seguras para todas as pessoas?”, questiona Travassos.

Em julho, em entrevista ao De Poa, podcast do Sul21 em parceria com a Cubo Play, o professor Francisco Eliseu Aquino, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), falou sobre a maior incidência de eventos climáticos extremos.

Durante o programa, o professor explicou como se formam os ciclones extratropicais que têm atingido o Estado e quais fatores fazem com que estes fenômenos resultem em eventos climáticos extremos. Segundo Aquino, os ciclones extratropicais são eventos que sempre aconteceram no RS, mas, em razão das mudanças climáticas, estão cada vez mais acompanhados de períodos de chuva intensa e concentrada.

“Quando nós falamos do inverno gaúcho, a gente costumava dizer que o inverno teria quatro frentes frias, e geralmente as frentes frias estão associadas a um ciclone extratropical, seria um inverno com chuva regular e mais frio. Nas últimas décadas, nós percebemos que o número de ciclones ou número de frentes frias até pode ser o mesmo de um padrão típico de inverno, o detalhe é que, associada a essa frente fria, o evento de precipitação concentrada em algumas regiões é o que gera desastres. Então, a percepção e a ciência ambas estão com a mesma informação, o clima mudou, os eventos extremos são mais frequentes, estão mais presentes no Rio Grande do Sul”, analisou.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora