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8 de março de 2022
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14:26

CEEE privatizada: cortes de energia provocam onda de reclamações contra Equatorial

Por
Marco Weissheimer
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

“É com orgulho e satisfação que chegamos para fazer parte da história do Rio Grande do Sul. Pelo futuro todo dia”. Esses são alguns dos slogans que apresentam a Equatorial Energia, empresa que comprou a Companhia de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE) por R$ 100 mil em um leilão promovido pelo governo Eduardo Leite (PSDB) no dia 31 de março de 2021. Pouco menos de um ano depois, a Equatorial (novo nome da CEEE privatizada) apareceu nos últimos dias como um dos principais alvos de reclamações nas redes sociais pela demora no atendimento da população, especialmente em episódios de queda de energia resultantes dos temporais de final de verão que são frequentes no Estado nesta época do ano.

Na noite do dia 7 de março, a palavra “CEEE” seguia entre as hashtags mais citadas no Twitter. O alvo, na verdade, era a Equatorial, pela demora no reestabelecimento de energia para algumas dezenas de milhares de pessoas em Porto Alegre e na Região Metropolitana. O advogado e ex-deputado estadual Pedro Ruas (PSOL) apontou o que considera ser a “falácia da privatização”:trinta minutos de temporal e a CEEE Equatorial deixa 60 mil pessoas sem luz na Capital e Região Metropolitana. O problema afetou também as estações de tratamento de Porto Alegre, deixando residências e comércios de 30 bairros sem água nas torneiras”. 

Na mesma linha, o jornalista Nando Gross afirmou: “Até agora a privatização da antiga CEEE, hoje Equatorial, é um desastre. A lógica das privatizações seria a melhoria do serviço,mas o que acontece é exatamente o contrário. O governo de forma irresponsável liquidou uma empresa pública tradicional e a população está desassistida”. As reclamações de usuários incluem também a dificuldade em se conseguir contato com a empresa para tratar de casos de queda de energia. A resposta padrão da CEEE Equatorial para quem continuava sem energia era: “Entendemos e lamentamos o ocorrido. Neste momento, nossas equipes seguem trabalhando para restabelecer o fornecimento de energia em todas as regiões afetadas.”

No dia 27 de fevereiro, o deputado estadual Jeferson Fernandes (PT), após a explosão de uma subestação de energia, causada por um raio em Viamão, criticou a empresa e cobrou providências dos órgãos de controle. “A luz poderia voltar rapidamente se a Equatorial não tivesse levado duas subestações móveis (R$ 10 milhões cada) para sua matriz no Maranhão, logo após a compra da CEEE-D por R$ 100 mil”, disse o parlamentar.

A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) apresentou, nesta terça-feira (8), na Comissão de Segurança e Serviços Públicos, um requerimento solicitando a realização de uma audiência pública para tratar da prestação de serviços da CEEE Equatorial. Nos últimos dias, assinalou a deputadda, diante das chuvas, milhares de gaúchos e gaúchas têm sido afetados com quedas de luz que demoram dias até serem restabelecidas. Cerca de 60 mil clientes da CEEE Equatorial estavam sem energia elétrica no início da semana, relatando dificuldades de conseguir atendimento com a empresa e o recebimento de mensagens automáticas com previsões de normalização do serviço que nunca eram cumpridas”, apontou ainda a parlamentar.

“A população está percebendo, na prática, como a privatização não resulta em melhorias na prestação de serviços. É um desrespeito a forma como a Equatorial vem tratando os gaúchos. A Assembleia precisa fiscalizar essa situação e cobrar a empresa”, disse Luciana Genro. A Equatorial será convidada a participar da audiência e dar explicações aos deputados e à Comissão durante a reunião.

As reclamações não se limitaram a pessoas físicas e políticos de oposição. Na noite de domingo (6), a conta do Departamento Municipal de Águas e Esgoto de Porto Alegre (DMAE) no Twitter cobrou publicamente a demora da Equatorial em reestabelecer o abastecimento de energia e, por conseguinte, do abastecimento de água, no bairro Menino Deus, um dos mais populosos da capital gaúcha:o sistema Menino Deus segue parado, sem energia elétrica, aguardando a CEEE Equatorial”, afirmou o DMAE. Vale lembrar que o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), é aliado político do governador Eduardo Leite.

Em dezembro de 2021, a então presidente do Sindicato dos Eletricitários do Rio Grande do Sul (Senergisul), Ana Maria Spadari, falecida em janeiro deste ano, alertou que a população do Rio Grande do Sul deveria se preparar para um “verão de apagões”, em função da saída de quase mil funcionários da privatizada CEEE. Em entrevista ao Brasil de Fato, Spadari assinalou que 998 funcionários da companhia aderiram ao Plano de Demissões Voluntárias proposto pela Equatorial, deixando a empresa no final do ano, atingindo especialmente as regiões de Porto Alegre, Pelotas e Bagé. No lugar desses profissionais treinados, entrará pessoal terceirizado e sem experiência, alertou. 

“Não se forma um eletricista em menos de cinco anos”, diz ela. “É uma área que requer treinamento e conhecimento. Vou dar o exemplo de uma regional que existia, a de Bagé. O conhecimento (dos técnicos) é tão grande, que eles já sabiam até os atalhos para chegarem nas grandes propriedades e tinham a ideia exata do que tinha acontecido em função de vendaval, chuva ou qualquer outro evento”, exemplificou.

Os dois comunicados mais recentes da CEEE Equatorial, após o temporal da última segunda-feira, afirmam que os estragos causados pela chuva, com queda de árvores e objetos sobre a rede elétrica, estão exigindo maior tempo de reestabelecimento da energia. Segundo a empresa, até o início da noite de terça-feira (7), foi reestabelecida a energia para 167 mil clientes na área de concessão, após o temporal de segunda. “Neste momento, 23 mil consumidores estão sem fornecimento, principalmente em Porto Alegre, Alvorada, Eldorado do Sul, Guaíba e Viamão”, acrescentou a CEEE Equatorial.

Governador Eduardo Leite e Augusto Miranda, presidente do Grupo Equatorial Energia. (Foto: Itamar Aguiar/Palácio Piratini)

No dia 8 de julho de 2021, durante a cerimônia de assinatura do contrato de venda da CEEE para o Grupo Equatorial Energia, no Palácio Piratini, o CEO do Grupo, Augusto Miranda, disse que a CEEE representava um ativo muito importante que faria muito bem ao portfolio da Equatorial. “A entrada aqui (no RS) vai fazer muito bem para a gente”, comemorou.  Augusto Miranda prometeu trazer os investimentos necessários para a melhoria dos serviços prestados pela empresa e ouvir a sociedade sobre quais deveriam ser as prioridades. 

No mesmo ato, o governador Eduardo Leite afirmou: “Estamos aqui por acreditar que o papel do Estado não é necessariamente o de operação de serviços diretamente. Ele pode e deve ser um contratante junto ao setor privado para que, com a eficiência do setor privado, se prestem serviços de interesse da sociedade”. Leite ainda não se pronunciou sobre a situação crítica dos últimos dias que deixou milhares de pessoas sem energia e água no Estado. O governador está em missão nos Estados Unidos.


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