Educação
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8 de junho de 2022
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18:40

Levantamento em 204 escolas estaduais aponta falta de mais de 500 professores e funcionários

Por
Duda Romagna
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Foto: Divulgação/CPERS
Foto: Divulgação/CPERS

Lançado no dia 4 de maio e encerrado na última sexta-feira (27), o Radar do CPERS, questionário elaborado pelo sindicato que representa professores e funcionários de escola do Estado do Rio Grande do Sul para diagnosticar a situação das instituições, recebeu 316 respostas, de 204 escolas, equivalente a 13% da rede estadual. A pesquisa apontou a falta de 176 professores, 146 especialistas (para laboratórios e bibliotecas) e 187 funcionários de escola, além de problemas estruturais graves.

Uma das instituições com problemas é a Escola Estadual de Ensino Médio Boa Ventura Ramos Pacheco, em Gramado, na Serra gaúcha. Segundo a diretora Tatiane Della Molle, 40 profissionais da educação trabalham na instituição em três turnos, e não há professor de Matemática para quatro períodos no turno da manhã e sete períodos da tarde. “Os professores de Matemática do turno da manhã faltam desde o início do ano e o da tarde faz um mês, pelo menos. A falta de professores afeta o número de alunos porque muitos saem da escola pela falta dos profissionais da educação”, conta.

Ainda de acordo com Tatiane, os pedidos de contratação são feitos diretamente à 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), de Caxias do Sul. Até a semana passada, por exemplo, a escola estava, também, sem um professor de Física. A partir da solicitação feita à 4ª CRE, uma profissional foi selecionada, porém mesmo assim ainda não há certeza se a vaga será preenchida.

“Chegou uma professora nova que talvez tenha que ser readequada numa outra escola e não fique aqui. A gente percebe, então, que estamos vivendo a consequência de não ter tido gente não somente aqui nesses primeiros seis meses”, relata Lucius Fabiano Martins da Silva, professor de História e supervisor do ensino médio da escola.

Além de professores, a escola também enfrenta a falta de funcionários para limpeza. Atualmente, contam somente com uma profissional para 600 alunos. Os problemas de infraestrutura tornam ainda mais difícil o trabalho pleno dos educadores que chegam à escola. A biblioteca, que foi transformada em sala de aula, necessita de reforma, assim como a parte elétrica dos prédios. 

Alunos tinham aula no escuro e precisavam usar as lanternas de seus celulares. Foto: Divulgação/CPERS.

Somente há um mês foi resolvido um problema do início do ano, quando um curto-circuito deixou cinco salas sem luz. “Os professores tinham que sair da sala e ir para outro lugar, os alunos não conseguiam ter aula, porque se passa das três ou quatro horas da tarde, já fica tudo escuro aqui. De manhã, eles começam às sete horas, ou seja, o primeiro período sempre era comprometido”, conta o professor.

Para Alex Saratt, 1º vice-presidente do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS – Sindicato) e presidente em exercício, esta é uma situação que se repete com professores e funcionários, ao longo de anos de administrações públicas que demonstram descaso com as categorias. “São baixos salários, falta de perspectiva profissional e falta de concursos públicos. No caso dos funcionários, pela política de terceirização, os salários também são baixos e algumas empresas não pagam em dia, as pessoas acabam desistindo e há uma rotatividade muito grande”, explica.

Procurada pela reportagem para esclarecimentos sobre a falta de professores, a chefe de recursos humanos da 4ª CRE, Ileane Scapin Paim, relatou que “trata-se de uma falta recente devido a uma dispensa” e que “o processo de contratação para a vaga já está em andamento”.

Já a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que “ocorrem casos pontuais de falta professores na rede estadual de educação em algumas regiões”. A secretaria afirma ainda que, assim que comunicados à respectiva Coordenadoria Regional de Educação, os casos são encaminhados para análise junto à Seduc. “As solicitações são atendidas por meio de novas contratações emergenciais e pela ampliação de carga horária dos docentes. A avaliação do quadro de recursos humanos é feita de forma constante e as demandas são imediatamente supridas por meio do banco de cadastro reserva”, explicou a secretaria em nota encaminhada à reportagem.

Em relação ao caso da Escola Boa Ventura Ramos Pacheco, de Gramado, a Seduc informa que já foi autorizada a contratação de um professor de Matemática, com carga horária de 25h, para suprir a demanda.


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