Educação
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17 de fevereiro de 2022
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08:10

Maior segurança na volta às aulas depende da ampliação da vacinação infantil

Por
Luciano Velleda
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Ano letivo recomeça nas escolas públicas e privadas ainda com contaminação em alta causada pela variante ômicron do coronavírus. Fotos: Cesar Lopes/ PMPA
Ano letivo recomeça nas escolas públicas e privadas ainda com contaminação em alta causada pela variante ômicron do coronavírus. Fotos: Cesar Lopes/ PMPA

Avançar na vacinação infantil, cumprir os protocolos sanitários e manter as medidas não farmacológicas são ações fundamentais para um retorno mais seguro às aulas presenciais nas escolas das redes pública e privada. A opinião é do pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e membro do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SP-RS).

O avanço da variante ômicron do novo coronavírus causou, desde o final de dezembro de 2021, recordes de novos casos de contaminação no RS e no Brasil durante o mês de janeiro. Com uma boa parcela da população imunizada com duas doses das vacinas, a quantidade de internações hospitalares e mortes não acompanhou o aumento vertiginoso de novos casos, ainda que tenham crescido as internações em leitos clínicos e de UTI em relação à situação antes da chegada da ômicron – incluindo crianças.

Se as vacinas estão protegendo a população adulta imunizada, o mesmo ainda não pode ser dito dos meninos e meninas entre 5 e 11 anos de idade, cuja vacinação no RS começou apenas no dia 19 de janeiro e, desde então, prossegue em ritmo lento, abaixo do desejável.

Cunha alerta que o atual estágio da pandemia tem sido mais grave para as pessoas não vacinadas, grupo que ainda inclui parcela expressiva de crianças. Até essa quarta-feira (16), somente 24% dessa faixa etária recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 no RS.

O pediatra destaca que os dois anos vividos da pandemia já causaram perdas importantes para as crianças em aprendizagem e socialização, além do papel protetor que as escolas brasileiras representam em termos de alimentação e violência, principalmente para os pequenos em situação de maior vulnerabilidade sócio-econômica.

Por isso, o membro do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul defende a importância do retorno às aulas presenciais, e pondera que a situação agora é melhor do que no ano passado, considerando que professores e funcionários de escola estão, em tese, todos vacinados.

A maior segurança, ele explica, depende agora da combinação do avanço da imunização das crianças, do real cumprimento dos protocolos sanitários e das medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, higienização, ambientes arejados e não haver aglomerações.

“São medidas que a gente sabe que protegem, temos ferramentas que salvam vidas e que devem ser usadas. É o momento de retornar às escolas, só que todos os aspectos devem ser considerados”, afirma Cunha, sem deixar de reconhecer as diferenças de estrutura entre as escolas públicas e privadas.

Ele lamenta que o ritmo da vacinação infantil ainda esteja lento, e por múltiplas razões: seja pela desinformação de pais e mães; a circulação de fake news sobre a eficácia e segurança dos imunizantes; a falta de incentivo do governo federal, e até a dificuldade dos pais em levar os filhos aos locais de vacinação.

Se a imunização das crianças de 5 a 11 anos atingir o ritmo considerado ideal de 1 milhão de doses por dia, podem ser evitadas 5.400 hospitalizações e 430 óbitos por covid-19 até abril. Considerando as interrelações das crianças com adultos e idosos, o avanço da vacinação de meninos e meninas tem o potencial de evitar um total de cerca de 14 mil hospitalizações e 3 mil de óbitos por covid-19 em todos as faixas etárias.

A projeção é resultado de estudo feito por pesquisadores que analisam a dinâmica da transmissão do coronavírus no Brasil. O grupo inclui especialistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do ABC (UFABC) e do Observatório Covid-19 BR.

Ainda inédito, o estudo deverá ser publicado na íntegra em revista científica, e teve seus resultados antecipados, conforme os participantes, devido à importância e necessidade de mobilizar gestores de saúde e a população para aumentar o ritmo da vacinação de crianças neste momento.

Por meio de técnicas de modelagem considerando a atual cobertura vacinal de adultos, adolescentes e grupos prioritários no Brasil, foram analisados dois cenários distintos da aplicação de vacinas em crianças de 5 a 11 anos: um ritmo lento (atual), com média aproximada de 250 mil doses por dia; e vacinação em ritmo ideal de 1 milhão de doses por dia. Os resultados consideram o impacto num período de 3 meses após o início da imunização.

“Desde o início da vacinação de crianças de 5 a 11 anos no Brasil, observamos que o ritmo de administração de vacinas nesta faixa etária tem sido aquém do possível. Considerando o ritmo atual de vacinação, o impacto possível da vacinação é menor. Caso o ritmo de vacinação em crianças aumente, chegando a níveis ótimos com administração de 1 milhão de doses por dia, é possível aumentar este impacto significativamente”, explicam os pesquisadores.

O estudo indica que o total de hospitalizações e óbitos de crianças entre 5 e 11 anos evitáveis pela vacinação em ritmo ideal, num período de 3 meses, é semelhante ao total de mortes e hospitalizações contabilizadas nessa faixa etária durante toda a pandemia da covid-19 no Brasil, desde março de 2020 até fevereiro de 2022.

Na projeção dos pesquisadores, as hospitalizações evitadas resultariam em uma redução de custos em todas as faixas etárias em torno de R$ 146 milhões, sendo, deste total, R$ 56 milhões referentes as hospitalizações de crianças de 5 a 11 anos.


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