Cultura
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29 de março de 2023
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14:41

Em clima de nostalgia, Almôndegas se reencontra depois de 33 anos e faz show emocionante

Por
Sul 21
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Show do conjunto musical Almôndegas no Auditório Araújo Vianna. Foto: Luiza Castro/Sul21
Show do conjunto musical Almôndegas no Auditório Araújo Vianna. Foto: Luiza Castro/Sul21

Um Araújo Viana lotado cantou e vibrou com o reencontro do grupo Almôndegas na última sexta-feira (24), em Porto Alegre. Criado em 1975, com o lançamento do primeiro álbum, o homônimo Almôndegas, e encerrado poucos anos depois, em 1979, o grupo teve passagem meteórica na cena musical gaúcha. No dia seguinte ao espetáculo na Capital, o grupo se apresentou na terra natal, Pelotas, no Theatro Guarany.

Embora breve, os quatro álbuns lançados no curto período – além do disco de estreia, os trabalhos de estúdio Aqui (1975), Alhos com Bugalhos (1977) e Circo de Marionetes (1978), mais a coletânea Gaudêncio Sete Luas (1977) – deixaram um importante legado.

Criado em Pelotas, na década de 1970, e depois consolidado em Porto Alegre pela primeira formação composta por Kleiton Ramil, Kledir Ramil, Gilnei Silveira, Pery Souza e Quico Castro Neves, logo em seu primeiro álbum o grupo apresentaria ao público a faixa “Vento Negro”, uma de suas canções mais conhecidas – e cantada a plenos pulmões pelo público no show de reencontro semana passada. “Vento Negro” foi, inclusive, a canção que catapultou o grupo, após vencer o I Festival Universitário da Canção Catarinense.

“Onde a Terra começar
Vento negro, gente eu sou
Onde a Terra terminar
Vento negro eu sou

Quem me ouve vai contar
Quero luta, guerra não
Erguer bandeiras sem matar
Vento negro é furacão

Com a vida, o tempo, a trilha, o Sol
Um vento forte, se erguerá
Arrastando o que houver no chão
Vento negro, campo afora, vai correr
Quem vai embora, tem que saber, é viração”

(Trecho da música Vento Negro)

 

Grupo Almôndegas havia se reunido pela última vez em 1990. Foto: Luiza Castro/Sul21

O álbum de estreia também deixou para a história a canção “Até não mais”, outra festejada pelo Araújo Viana lotado. Uma depois da outra, o show de reencontro na última sexta (24) foi embalado por um clima de nostalgia e celebração. A apresentação foi a primeira desde 1990, quando o grupo se reuniu para então comemorar os 15 anos do lançamento do primeiro disco.

“É muito legal estar aqui porque apesar de eu acompanhar, por exemplo, o Zé Flávio, que é o guitarrista, meu marido toca com ele, os Almôndegas representam uma coisa que ficou parada por muito tempo e agora estamos revivendo isso aqui de perto. É muito legal saber que as pessoas guardaram na memória, né? Que ficou no coração das pessoas”, disse Miriam Marques, de 59 anos.

A segunda formação do grupo, já com os pés fincados no Rio de Janeiro a partir de 1977, teve o acréscimo de João Baptista, Zé Flávio e Arthurzaz, que se juntaram a Kleiton Ramil, Kledir Ramil e Gilnei Silveira. O segundo e terceiro álbuns consolidaram o Almôndegas num território musical que mesclou aspectos do regionalismo gaúcho com as sonoridades nascentes do pop rock.

“Até não mais
Eu resolvi partir
E foi depois
Que o galo repetiu

O sol nasceu
E a vida tá aí
Até não mais
Não pude resistir

Nossa cama é boa
E o travesseiro superior
Só não gosto do teu pé gelado
E do cheiro do cobertor”

(Trecho da música Até não mais)

 

Kledir Ramil, um dos fundadores do grupo criado em Pelotas nos anos de 1970. Foto: Luiza Castro/Sul21

Por esses caminhos da arte e da vida, o show de reencontro no Araújo Viana reuniu uma formação inédita do Almôndegas, composta por membros que jamais haviam tocado juntos nas duas fases que o grupo teve. Coube a Kledir e Kleiton Ramil, João Baptista, Zé Flávio, Gilnei Silveira e Quico Castro Neves entregar ao público presente uma noite há muito tempo sonhada pelos fãs.

“Os Almôndegas representam muita coisa pra mim. Minha cultura musical começou quando eu era adolescente ouvindo os Almôndegas, então eu cresci ouvindo essas músicas, tocando elas no violão. Hoje sou músico amador por influência deles e dessa época, então ouvir eles ao vivo é como voltar num tempo muito bom de aprendizado, da vida, ouvindo boas músicas”, explicou Paulo Fernando Alves, de 59 anos.

Boa música e memória foram talvez as principais razões que conduziram os espectadores que se dispuseram a acompanhar ao vivo o histórico reencontro.

“Sou de Pelotas, sou do Colégio Gonzaga, aonde começou os Almôndegas. Os Almôndegas, na verdade, era um bloco de carnaval de alunos do colégio Gonzaga, e o Quico, que vai cantar, se juntou com o Kleiton, o Kleidir, o Peri, o Zé Flávio e o Gilnei e criaram os Almôndegas, mas antes disso era só um bloco de carnaval do nosso colégio. Eles são meus amigos e por isso que tô aqui hoje, pra prestigiá-los. Então, pra nós, isso é voltar pra nossa juventude, 50 anos atrás”, disse Ricardo Nogueira, ainda antes do espetáculo começar.

“Os Almôndegas são da nossa cidade, de Pelotas, tem toda uma história da banda que a gente conhece e se orgulha, não tinha como não estar aqui hoje pra prestigiar esse encontro tão importante”, destacou Tatiana Britos, de 50 anos.

 

João Batista fez parte da segunda formação do Almôndegas, a partir de 1977. Foto: Luiza Castro/Sul21

“Meu cigarro de palha
Joguei com meu laço no fundo do poço
Prometi a São Pedro
Não jogar a sorte no jogo do osso
Me desfiz do lombilho
Vendí o tordilho ainda meio bagual
Pra buscar a morena
Que tinha ido embora pra capital

Ah morena, moreninha
Morena má, haragana
Volta comigo morena
Deixa essa vida cigana”

(Trecho da música Haragana)

Ao final do show, o sentimento geral de quem deixava o Araújo Viana era de quem havia curtido um raro momento. Daqueles que demoram a acontecer e nunca se sabe quando, e se, acontecerá novamente.

“Gostei muito do show! Claro que é um pouco diferente dos discos e da época que nós vivemos, né? Mas a gente se emociona, eu me emocionei em algumas músicas porque lembrei da época em que meu irmão era vivo, ele gostava muito deles”, contou Jane Silveira Hassel.

“Gostei muito, lembro de quando eles apareceram na cena. Eu e meu marido, que já faleceu, fomos num show, numa boate em que eles pela primeira vez cantaram. E depois acompanhamos muito, eu ainda me lembro do Kleiton cantando numa aula de canto lá no IA, que ele falou aí. Foi muita emoção e foi muito bom, acho que toda a plateia se emocionou muito porque os Almôndegas trazem muitas memórias, memórias de Porto Alegre, memórias do Rio Grande do Sul, da juventude”, refletiu Rosa Maria Silveira.

 

O guitarrista Zé Flávio no show realizado no Auditório Araújo Vianna. Foto: Luiza Castro/Sul21
O baterista Gilnei Silveira integrou as duas formações do Almôndegas. Foto: Luiza Castro/Sul21
Quico Castro Neves reencontrou os antigos companheiros para o show no Auditório Araújo Vianna. Foto: Luiza Castro/Sul21
Kleiton Ramil também fez parta das duas formações do grupo que marcou época na década de 1970. Foto: Luiza Castro/Sul21
O Auditório Araújo Vianna lotou para assistir ao reencontro dos Almôndegas. Foto: Luiza Castro/Sul21
Miriam Marques conta ter guardado o grupo no coração. Foto: Luiza Castro/Sul21
Ricardo Nogueira e Tatiana Britos no show do Almôndegas. Foto: Luiza Castro/Sul21
Jane Silveira Hassel (esquerda) e Rosa Maria Silveira (direita) se emocionaram com o show dos Almôndegas. Foto: Luiza Castro/Sul21
Paulo Fernando Alves cresceu ouvindo as músicas do grupo com origem em Pelotas. Foto: Luiza Castro/Sul21
Show dos Almôndegas no Auditório Araújo Vianna. Foto: Luiza Castro/Sul21

* Com a colaboração de Luiza Castro


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