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29 de setembro de 2011
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16:17

No México, violência do tráfico contra jornalistas chega às redes sociais

Por
Sul 21
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Martintoy
Em 2011, onze jornalistas já foram mortos pelo narcotráfico no México | Foto: Martintoy/Flickr

André Carvalho

A jornalista mexicana e ativista social María Elizabeth Macías Castro foi encontrada morta, seminua e decapitada, no último sábado (25), na cidade de Nuevo Laredo, estado de Tamaulipas. Junto a seu corpo foram encontrados teclados de computador e uma mensagem: “Estou aqui por causa das minhas reportagens e das suas”.

Dois dias antes da sua morte, María Elizabeth, que era chefe de redação do jornal Primera Hora, havia postado no portal de denúncias Nuevo Laredo en Vivo, com o qual colaborava, uma mensagem conclamando a população a denunciar os traficantes. Na sexta, a jornalista tinha desaparecido.

Segundo a entidade Repórteres Sem Fronteiras, onze jornalistas foram assassinados este ano no México, o país mais perigoso da América Latina para os comunicadores, e o segundo do mundo depois do Paquistão. Acredita-se que o assassinato de María Elizabeth foi cometido pelo crime organizado. Caso a hipótese se confirme,  ficaria constatado que a onda de terror por parte dos narcotraficantes que silencia jornais, rádios e televisões, está chegando aos sites da web e às redes sociais, uma esfera que até agora escapava a seu controle.

O assassinato da jornalista se deu dez dias depois que, na mesma cidade, os corpos de dois jovens foram pendurados de uma ponte, com mensagens que advertiam que os que usassem as redes sociais para denunciar criminosos teriam o mesmo destino. Em ambos os casos, as advertências eram assinadas pelo grupo criminoso dos Zetas.

Para jornalista, governo não combate narcotráfico e a grande imprensa se cala | Foto: Jesús Villaseca P/LAtitudes Press.
Para jornalista, governo não combate narcotráfico e a grande imprensa se cala | Foto: Jesús Villaseca P/LAtitudes Press.

A jornalista Alejandra Sandoval, que acompanha casos de violência contra profissinais da imprensa no México, afirma que, por medo ou conveniência, a grande imprensa mexicana tem reduzido a cobertura sobre o crime organizado no país. Diante disso, surgiram sites, blogs e contas no Twitter onde os cidadãos denunciam crimes, processo que poderá retroceder depois do assassinato de María Elizabeth Macías Castro.

Para Alejandra Sandoval, apesar de as redes sociais terem se tornado uma ferramenta fundamental para jornalistas e cidadãos mexicanos, o próprio governo tenta evitar o uso destes meios para  denúncias contra a violência. “Recentemente, dois tuiteiros foram presos por ‘atos de terrorismo’, um pouco depois de advertir a população sobre as atividades dos Zetas na cidade de Veracruz”, afirma.

“O delito ‘terrorismo’ no México se refere à alteração da ordem e paz social. E utilizar os meios de comunicação, seja eles quais forem, para causar ‘medo’ e subversão entre a população, também está classificado com um ato terrorista”, explica.

Alejandra também critica os grandes meios de comunicação, que não cuidam de seus profissionais. A única medida de proteção que tomam seria proibir que os profissionais assinem suas reportagens sobre o narcotráfico.

Para a jornalista, essa situação em que o México vive é muito sensível, pois de um lado há um governo que não tem capacidade de vencer os narcotraficantes e de outro os meios de comunicação que se calam por questões financeiras ou por medo.

“Quem sofre com isso tudo é a população, que mora nas comunidades com maior índice de violência e vive no terror. Por outro lado, essa é uma oportunidade de reestruturar muitas coisas dentro da prática do jornalismo. Com seus devidos cuidados, claro”, completa.


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