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11 de setembro de 2011
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10:49

Em 2012, Estado fará concurso para preencher vagas na Ospa

Por
Sul 21
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Assis Brasil: sala de concerto da Ospa começará a ser construída este ano l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nubia Silveira (texto) Flavia Boni Licht (consultora)

Os músicos interessados em fazer parte da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) podem começar a se preparar. Em 2012, o governo do Estado promoverá um concurso para preencher as vagas em aberto na Ospa, anuncia o secretário da Cultura, Luiz Antônio Assis Brasil. Em seu gabinete, no 19º andar do Centro Administrativo, ele lembra, com seu jeito tranquilo e voz suave, que já foi um dos músicos da Orquestra, declarada patrimônio histórico imaterial de Porto Alegre.“Na década de 70 do século passado, a Ospa era a melhor orquestra do país. Não porque eu fazia parte dela, mas porque era mesmo”, afirma. Durante 15 anos (de 1965 a 1980), o secretário e escritor foi um dos violoncelistas da sinfônica porto-alegrense. E reafirma: “Nós tínhamos a melhor orquestra do país”.

Atualmente dos 110 músicos que seriam o ideal para compor uma sinfônica, a Ospa conta com apenas 88. As vagas vêm sendo preenchidas com músicos contratados especificamente para uma ou outra apresentação. Assis Brasil, no entanto, considera importante que a orquestra tenha seus próprios músicos, criando, assim, um espírito de corpo, que ele diz ser necessário para o bom funcionamento de uma orquestra sinfônica. “Mozart ou Beethoven, por exemplo, podem ser tocados por uma Orquestra de Câmara. Já para os românticos é preciso uma sinfônica”, ressalta, lembrando que as composições do austríaco Gustav Mahler, por exemplo, exigiam 200 músicos. “O ideal para uma orquestra sinfônica – ressalta o secretário – são 110 músicos”, devendo, portanto com o concurso serem preenchidas 22 vagas.

O ideal para uma orquestra sinfônica são 110 músicos, afirma secretário da Cultura l Foto:Ramiro Furquim/Sul21

O Estado também contratará um regente para a Orquestra? Assis Brasil diz que atualmente há um rodízio de maestros nacionais e internacionais. “Há orquestras que contratam regentes por temporada. Outras estão sempre substituindo seus maestros e outras, ainda, têm regentes titulares”, lembra o ex-violoncelista. Há, portanto, afirma, três possibilidades de escolha. “Isso nos deixa mais confortáveis para poder tomar uma decisão no futuro”, conclui.

Construção da sala de concerto

Capacidade total do novo teatro da Ospa será de 1.500 lugares l Foto: Ospa / Divulgação

Depois de 61 anos – a Ospa foi criada em 1950 –, a Orquestra ainda luta por um espaço próprio. O secretário está confiante numa solução para o problema ainda este ano: “Nós vamos começar a construir a sala de concerto neste segundo semestre”, afirma, baseado na “sinalização muito forte” recebida da Presidência da República e do Ministério da Cultura. A sede do teatro ficará no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. “Estamos trabalhando nisso diariamente”, informa. “A sala de concerto é muito importante para a visibilidade da Orquestra e para o conforto dos músicos, que hoje ensaiam no Cais do Porto, e dos espectadores”, diz Assis Brasil, que para e observa o voo de um gavião, que passa rente à sua janela. A paisagem da cidade, vista dali, é dominada por prédios e a cúpula da Catedral Metropolitana. Diariamente, conta o secretário, ele acompanha outro voo: de um avião que atravessa a paisagem em direção ao Aeroporto Salgado Filho.

Assis Brasil considera que a Ospa já teve alguns avanços, como a separação dos cargos de diretor artístico e regente titular. Embora sem um regente titular, a Orquestra já tem o seu diretor artístico: Tiago Flores. O entusiasmo do secretário é de quem quer ver a Ospa voltar a ser a melhor do país.

FAC é a solução para a Cultura

Em 2011, o governo do Estado previu a renúncia de R$ 18 milhões em impostos em favor da Cultura. “Não se sabe ainda se foram captados todos estes recursos”, diz Assis Brasil. Para 2012, os recursos devem aumentar aproximadamente 40%, com uma renúncia fiscal prevista de R$ 25 milhões. Apesar de dizer que a LIC – Lei de Incentivo à Cultura está funcionando bem, o secretário alerta que ela “não é solução para a política cultural”.

Em 2012, o FAC investirá R$ 5 milhões em projetos culturais, anuncia Assis Brasil l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ele defende que a solução é o FAC – Fundo de Apoio à Cultura que, neste ano, pela primeira vez, lançou um edital para o financiamento de projetos culturais. Cada projeto aprovado pode receber, no máximo, R$ 30 mil.

Em 2011, o valor total dos recursos oferecidos pelo FAC ficou limitado em R$ 880 mil. “Em 2012, chegará a R$ 5 milhões. Para isso, estamos contando com outros recursos que não apenas os estaduais”. Quais? O secretário responde rapidamente: “recursos federais”. Ele explica que no caso da LIC, a política cultural acaba sendo definida pelos patrocinadores, que decidem em que projetos investir. Já no FAC, a decisão é do governo do Estado, que assim definirá a sua política cultural.

Bens tombados em estado regular

Ao falar sobre o patrimônio histórico, Assis Brasil lembra ter trabalhado na Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), que antecedeu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Os princípios que determinam a preservação de bens históricos vem mudando através dos anos, constata. “Se a gente pensar as restaurações feitas na Alemanha, ao final da II Guerra Mundial, que foram, na verdade, reconstruções, hoje, sob o ponto de vista técnico, esta seria uma atitude problemática”, exemplifica. A preservação, ressalta, “depende da cultura da época, como cada época entende o passado e o patrimônio”.

Secretário afirma que não há prédios tombados "em situação preocupante" l Foto:Ramiro Furquim/Sul21

Assis Brasil não é favorável aos que declaram não haver sentido em preservar nada. Nem dos que defendem ser a preservação um fato imobilizador do cenário urbano. Para ele, a solução está em preservar com muito critério e parcimônia. “Precisa um meio-termo, que é muito mais difícil do que tomar atitudes extremas”.

— Os bens tombados de propriedade do Estado estão bem conservados?
— Estão de regulares a bom, diz o secretário. Não temos prédios tombados que estejam em situação preocupante. Sofrem com o desgaste natural.

O secretário gaúcho da Cultura reconhece que “em nosso país não se investe em manutenção e se paga caro pela restauração”.


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