Colunas>Franklin Cunha
|
17 de setembro de 2017
|
22:00

Kant, a ética, o general Massu e o mal absoluto

Por
Sul 21
[email protected]
Kant, a ética, o general Massu e o mal absoluto
Kant, a ética, o general Massu e o mal absoluto

Franklin Cunha

Geoge Steiner disse no seu livro “Os Logocratas” que um dos melhores filósofos que conheceu foi Donald McKinnon. Um dia, Kinnon  entrou em aula com um recorte do Le Monde e o leu para seus alunos:

O general Massu que comandava as tropas francesas na Argélia e que preconizava e praticava a tortura, certo dia se despiu e fez que atassem um fio elétrico no pênis. Depois de três horas  de torturas ordenadas por ele a seus oficiais, se vestiu e declarou que “As queixas das vítimas são exageradas, foi muito desagradável, mas suportável”.

McKinnon, naquele dia iniciou sua aula dizendo a seus alunos que diante daquela notícia teria que interromper o curso que ministrava sobre Kant e a ética e que iria dedicar as aulas seguintes para examinar as implicações do mal absoluto expresso naquele recorte e naquele homem.

Foto: Maia Rubim/Sul21

Quando vemos e ouvimos certos homens públicos, certos profissionais liberais e até alguns modestos trabalhadores elogiarem a tortura e os torturadores como plataforma política para enfrentar problemas sociais, somos forçados – preocupados e temerosos – a reconhecer que o mal absoluto anda grassando intensa e impunemente na atual sociedade brasileira. A absoluta insensibilidade diante das torturas, das prisões sem julgamento e do assassinato de milhares de seres humanos dos estratos social e economicamente inferiores, nos induzem a pensar que os pensamentos e as palavras do General Massu e de seus acólitos brasileiros, estão tendo forte e  empática acolhida em nosso país.

***

Franklin Cunha é médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora