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18 de junho de 2017
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10:30

Retorno à Primitiva Babel Universal

Por
Sul 21
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Retorno à Primitiva Babel Universal
Retorno à Primitiva Babel Universal

Franklin Cunha

Passamos do espanhol ao francês, do francês  ao inglês e desse à completa ignorância “.
Jorge Luiz Borges

É válida para a língua portuguesa a sentença de Borges.Trata-se evidentemente de um idioma em extinção. Não só pelo atual desconhecimento do mesmo pelos seus usuários, mas porque, afinal de contas, é um idioma de Terceiro Mundo.Nenhum país desenvolvido se comunica através da “última (e murcha)flor do Lacio”. Com a evolução das comunicações, várias tentativas foram feitas para se criar uma língua internacional. Na ciência e tecnologia, na literatura, na música, nos esportes, no comércio, a mais conhecida e quimérica língua universal do oftalmologista judeu-polonês Dr. Ludwig Zamenhof não vingou e o esperanto de hoje é o inglês.

Paulo Rónai é quem afirma: “Não há nenhum ramo de estudos superiores que se possa abranger por meio unicamente de manuais em português. Nem se pode conseguir uma ampla perspectiva artística ou intelectual quando se está confinado nos limites de nossa língua pátria”.

No curso médico, por exemplo, iniciamos com o espanhol da fisiologia do argentino Houssay, passsamos pelo francês do “Précis de Parasitologie”do Brumpt e da Anatomia do Testut e terminamos com “Principles of Internal Medicine”do Harrison e da magnífica revista Lancet. Em português, só as “sebentas”. E hoje quem não assina ao menos o American Journal e a notável revista inglesa The Lancet, está fora do mundo.

O futuro da língua será determinado de modo incisivo pela capacidade que os países de fala portuguesa tiverem para desenvolver celeremente tecnologias de comunicação, igual às das nações dominantes nesse campo altamente especializado. É óbvio que nem o Brasil, nem Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor Leste, São Tomé e Prícipe, Goa, Damão e Macau estão ou estarão algum dia, incluídas nessa “network” conectada por satélites de bilhões de dólares. Há quem tema que dentro de poucos séculos retornaremos à primitiva torre de Babel, onde todos seus construtores falavam a mesma língua, tinham o mesmo estilo de vida, os mesmos hábitos mentais, os mesmos conceitos e preconceitos sociais e políticos. Sabendo disso é que o “filólogo” J.L. Borges disse com propriedade que a civilização nasceu com o abandono da lendária torre.

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Franklin Cunha é médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


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