Areazero
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16 de julho de 2014
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23:25

Porto-alegrenses pedem fim da violência em Gaza durante Vigília pela Palestina

Por
Sul 21
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| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Ato aconteceu no final da tarde, no Largo Glênio Peres, em Porto Alegre  | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Débora Fogliatto

Os porto-alegrenses demonstraram seu apoio aos cidadãos palestinos, durante vigília realizada nesta quarta-feira (16), no Largo Glênio Peres, centro de Porto Alegre. Organizada pela Federação Árabe Palestina no Brasil (Fepal) com apoio de outras entidades, movimentos sociais e sociedade civil, o ato contou com um carro de som onde aconteceram discursos, além de uma enorme bandeira da Palestina, muitas velas e pessoas vestindo keffyeh (lenço palestino) e usando as cores vermelho, verde, preto e branco.

A vigília pedia o fim dos ataques israelenses na faixa de Gaza, onde já foram registradas 194 mortes e 1.390 feridos em oito dias de hostilidades, de acordo com a ONU. A população palestina é vítima da expansão israelense desde 1948, quando foi criado o Estado de Israel e as ocupações no que deveria ser o Estado palestino começaram. Desde então, milhões de árabes palestinos foram mortos ou fugiram de suas casas, consolidando campos de refugiados e formando comunidades em outros países.

De acordo com a Fepal, no Brasil vivem cerca de 50 mil palestinos, dos quais metade no Rio Grande do Sul. “A federação está agora se mobilizando no Brasil inteiro. Aqui estamos junto com a comunidade árabe-palestina e contamos com apoio do movimento sindical”, relatou Elayyan Alladin, filho de um refugiado palestino e presidente da Fepal.

| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Representantes de entidades falaram em carro de som com bandeira palestina | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Os ataques que acontecem atualmente são considerados os maiores desde 2012 e, para Alladin, podem ser ainda piores. “O que acontece é que a intensidade dos bombardeios cresce a cada ano que Israel passa impune. Eles se sentem autorizados a fazer o que fazem”, lamenta. Ele explica que o maior interesse do país sionista é minar e enfraquecer a unidade e classifica a morte de três colonos israelenses como “apenas um pretexto” para se atacar a infraestrutura palestina. Os três adolescentes foram encontrados mortos no final de junho e seu assassinato foi usado como motivo para a nova ofensiva na Faixa de Gaza.

Esse território palestino tem uma área de 360km², onde vivem um milhão e meio de pessoas, em uma das maiores densidades demográficas do planeta. A Faixa de Gaza tem sido alvo de ataques israelenses desde a eleição que colocou o grupo Hamas no governo, em 2006. O governo de Israel considera o Hamas um grupo terrorista e se recusa a reconhecer sua legitimidade em Gaza, enquanto o Hamas não reconhece o Estado de Israel e se recusa a negociar.

Ambos os lados agora lançam foguetes um no outro. A diferença está na potência bélica entre Israel, que tem um dos maiores aparatos militares do mundo, e o Hamas, que funciona mais como uma milícia e vive nas mesmas condições de pobreza que a maioria dos habitantes de Gaza. “Existe um receio porque Israel propõe a paz, mas continua construindo assentamentos e oprimindo o povo palestino. Então temos que entender o Hamas não ter aceitado essa negociação”, acredita Aladdin, referindo-se à oferta de paz proposta pelo Egito nesta terça-feira (15).

| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Pessoas usavam lenços palestinos e vestiam as cores da bandeira, segurando velas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Gaúchos demonstram apoio

Na terça-feira (15) uma assembleia em Porto Alegre reuniu diversas entidades que elaboraram uma carta aberta de solidariedade ao povo palestino. O documento, lido durante o ato, demonstra  o repúdio das mais de 25 organizações, além de ativistas autônomos, ao “genocídio diário praticado pelas forças israelenses”. No texto, as entidades se propõe a ajudar a buscar soluções conjuntas para pressionar os governos a romperem relações com Israel.

Grandes críticas foram direcionadas, durante todo o ato, à empresa de tecnologia israelense Elbit, que constrói artifícios militares no país e tem acordos com o governo gaúcho e com universidades do estado. Humberto Carvalho, do Comitê Gaúcho de Solidariedade à Causa Palestina, apontou que não é possível que o Brasil, “onde há uma colônia enorme de palestinos que colaboram com o país” mantenha relações com Israel.

Por Ramiro Furquim/Sul21
Grupo montou velas em formato da bandeira palestina | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Por isso, ele acredita que são necessárias ações para pressionar internacionalmente Israel e lembrou que os ativistas pró-palestina não são antissemitas e não têm nada contra o povo judeu, mas sim “contra o governo e a direita israelense”. “É uma limpeza étnica. Todos nós conhecemos a história do Holocausto, mas hoje o governo de Israel faz com os palestinos o que os nazistas fizeram com judeus”, ponderou.

Três ativistas independentes levaram uma faixa com os dizeres “Stop genocide in Palestina” (Parem o genocídio na Palestina) e colaboraram na organização, mesmo sem pertencer a nenhuma entidade, por acreditarem na causa. Eles souberam do ato no Rio de Janeiro, acontecido sexta-feira passada (11) e acharam importante Porto Alegre também receber um. “Essa solidariedade demonstrada aqui já ajuda, mas precisamos pedir para o Brasil cortar relações om Israel”, disse Alexandre Lentz.

Fábio Pereira, que soube da situação na Palestina quando estudou História, em 2007, conta que “as coisas só pioraram” desde então. “Esse acordo de tecnologia com a Elbit é preocupante, porque nós não queremos aparecer como colaboradores e contribuintes do massacre”, destacou. Para ele, a melhor forma de se mudar a situação é muitos países se pronunciarem e se disporem a colaborar.

| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Balões eram colocados em cima da bandeira | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Durante o ato, balões das cores da bandeira palestina foram distribuídos e, colocados em cima da bandeira, jogados para cima. A pequena Layla, de 8 anos, era uma das pessoas que estava entregando os balões. Ela contou que seu pai veio da Palestina e a família atualmente mora em Sapiranga, de onde acompanha os acontecimentos em Gaza. “Eu vi fotos de crianças mortas e de militares batendo em crianças”, contou, com tristeza.

De todos os cartazes presentes, que pediam o fim do genocídio e a interrupção dos acordos brasileiros com Israel e demonstravam apoio, um chamava atenção. Apesar de pequeno, o pedaço de cartolina de Marian Pessah fez tanto sucesso que ela foi convidada a subir no carro de som para se pronunciar: “Sou judia e sou contra todo tipo de genocídio”, dizia.

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O pequeno cartaz de Marian chamou atenção na vigília | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ela destacou que nem todos os judeus apoiam o que está acontecendo em Gaza e lembrou que o ódio entre os povos é algo construído, “não é real.” “Fico muito feliz de estar aqui com amigos para além das nacionalidades e religiões”, disse Marian, que veio da Argentina.

No final do ato, a bandeira foi abaixada e se abriu espaço para a realização de uma reza islâmica. Homens muçulmanos foram até perto do carro de som e oraram em árabe por poucos minutos, tempo em que os outros presentes mantiveram silêncio, demonstrando respeito pela oração e pela religião.

Confira mais fotos:

| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
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