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22 de janeiro de 2012
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18:09

Estados Unidos já tem 334 candidatos à presidência

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Sul 21
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Tom Lohdan
Foto: Tom Lohdan

Samir Oliveira

O sistema eleitoral dos Estados Unidos é complicado, recheado de etapas prévias que são reguladas de diferentes maneiras em cada um dos 55 estados. A dificuldade de preencher todos os trâmites para que um candidato tenha seu nome impresso na cédula de votação contrasta com a extrema facilidade com que qualquer norte-americano pode se lançar na disputa pela Casa Branca: basta ter mais de 35 anos e ter nascido e vivido pelo menos 14 anos no país.

Até agora, a Comissão Eleitoral Federal (FEC, em inglês) já recebeu a inscrição de 334 cidadãos que desejam concorrer à presidência dos Estados Unidos – inclusive o atual titular do cargo, Barack Obama, que tentará a reeleição. O número ainda pode aumentar ou diminuir, conforme mais pessoas vão preenchendo a declaração de candidatura ou desistindo de ingressar no pleito, que ocorrerá no dia 6 de novembro.

Na mídia tradicional, tanto lá como no Brasil, pouco se sabe sobre esses candidatos. O que costuma chegar aos leitores e telespectadores são as informações a respeito dos dois principais partidos norte-americanos: o Democrata e o Republicano, que vêm se alternando no poder desde o início do século XIX.

Diferente do brasileiro, o sistema eleitoral norte-americano não condiciona o cidadão comum que deseja ocupar um espaço na vida política institucional a se filiar a algum partido. Por isso, pipocam diversas candidaturas independentes.

O projeto Vote Smart (Vote com Sabedoria, numa tradução livre) lista a maior parte das candidaturas inscritas no país e disponibiliza, ainda, a resposta dos presidenciáveis a um questionário envolvendo temas como aborto, união civil entre homossexuais e política externa.

Apesar de existirem muitos candidatos apartidários ou de outras siglas também às casas legislativas federais, esses espaços continuam dominados pela política tradicional. Na Câmara dos Representantes, os 435 são divididos entre democratas (193) e republicanos (242). No Senado, há 51 democratas, 47 republicanos e apenas dois independentes.

Regras são diferentes para quem quer se candidatar fora dos partidos tradicionais

A abundância de informações sobre os pré-candidatos do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos contrasta com a ausência praticamente total de notícias sobre os demais nomes que desejam substituir o atual presidente Barack Obama na Casa Branca nas eleições do dia 6 de novembro deste ano.

Foto: Reprodução

O jornalista Mark Wachtler, presidente da Associação dos Eleitores Independentes, critica as inúmeras barreiras que o sistema eleitoral norte-americano impõe a todos aqueles que desejam concorrer fora dos dois partidos tradicionais. “O sistema eleitoral é dominado pelos candidados democratas e republicanos, que criam diversos empecilhos para barrar nomes independentes ou de outros partidos”, observa.

Ele explica que, por mais que seja fácil a qualquer cidadão obter um registro de candidatura, colocar o nome numa cédula eleitoral que irá às urnas é muito mais difícil. “No estado de Illinois, por exemplo, candidatos republicanos e democratas precisam coletar 600 assinaturas de cidadãos para aparecerem na cédula eleitoral. Os independentes e de outros partidos precisam conseguir 5 mil assinaturas”, compara.

O jornalista conta que uma maneira que algumas pessoas encontram de burlar o sistema é tentando concorrer filiando-se a algum dos dois partidos tradicionais. É o caso de um dos pré-candidatos republicanos, Ron Paul, que já havia disputado a Casa Branca em 1988 pelo Partido Libertário. “Ele percebeu que era virtualmente impossível vencer assim”, analisa Wachtler. Mas mesmo essa tática pode falhar, já que não é raro um partido expulsar de seus quadros um candidato que, oriundo de outro grupo político, dê declarações que não condizem com a filosofia das siglas tradicionais.

O jornalista denuncia que a mídia norte-americana também favorece os candidatos tradicionais ao estabelecer como critério para a promoção de debates o alcance dos presidenciáveis nas pesquisas de intenção de voto – promovidas pela própria mídia. “Para participar de um debate em rede nacional, o candidato tem que ter atingido pelo menos 5% das intenções de voto. Mas para a maioria dos candidatos isso é impossível, já que seus nomes sequer são colocados nas pesquisas. Com isso, ficam de fora dos debates e os eleitores sequer sabem que eles existem”, critica.

Wachtler, que também edita o site Whiteout Press, considera que a “mídia corporativa” dos Estados Unidos raramente dá voz aos nomes que concorrem por fora do sistema tradicional. “Nas poucas ocasiões em que a mídia menciona um candidato independente ou de outro partido, o retraram como se fosse um monstro mutante com três cabeças e cinco braços”, condena.

Extrema esquerda e libertários polarizam candidaturas de outros partidos

Jill Stein é uma das pré-candidatas pelo Partido Verde | Foto: Reprodução

Apesar de todas as dificuldades, candidatos de outros partidos – além dos tradicionais Democrata e Republicano – não abrem mão de concorrer à presidência dos Estados Unidos, ainda que saibam que a chance de vencerem é muito próxima a zero. Nas eleições deste ano, já há nomes consolidados nos dois polos extremos da esquerda e da direita norte-americana.

Pelo Partido Socialista, Stewart Alexander tenta ser o novo presidente norte-americano, ao lado de Alex Mendoza como vice. Na plataforma de governo, eles reivindicam “uma democracia verdadeira, com liberdade de imprensa, de opinião e de manifestação, o fim às guerras e às ocupações militares no exterior e uma campanha de desarmamento global”.

Os socialistas também propõem a constituição de um “banco nacional democraticamente controlado e uma taxação sobre as grandes fortunas”. Dentre outras propostas, estão também a formação de um sistema nacional de saúde pública e o fim da guerra às drogas, com a legalização e taxação da maconha.

Concorrendo pelo Partido Libertário, o ex-sargento da Força Aérea e diretor da companhia farmacêutica Sativa Science, R. Lee Wrights, tenta ser o novo presidente dos Estados Unidos. A legenda a qual pertence, cujo slogan é “liberdade máxima, governo mínimo”, se diz a terceira força política do país.

No plano de governo de Wrights, assim como no do socialista Stewart Alexander, está a proposta de dar fim a todas as guerras em curso apoiadas pelo país. “Durante décadas os presidentes republicanos e democratas usaram o manto do bipartidarismo e o subterfúgio da proteção dos interesses nacionais para justificar uma política externa intervencionista que tem feito cair sobre nós o ódio de muitos povos”, critica.

O candidato do Partido Libertário defende uma menor regulação sobre os planos de saúde, acreditando que isso baixará seus custos, e considera que os imigrantes devem ser tratados como “um problema econômico”. “Eles vêm aos Estados Unidos porque aqui há alguns tipos de trabalhos que precisam ser preenchidos”, comenta.

Wrights também considera que a política de guerra às drogas se demonstrou um verdadeiro fracasso e prega que haja legalização e regulação sobre as substâncias que hoje permanecem proibidas. “A solução é clara: o fim da guerra às drogas e o retorno a política de regulação que existia antes. A tendência natural no livre mercado é que produtos considerados legais se tornem mais seguros com o tempo”, diz o libertário em seu site.

Concorrendo pelo Partido Verde, a médica Jill Stein sustenta uma plataforma de esquerda. Em seu site, ela defende “uma nova polítca voltada aos 99% de americanos que não recebem salário de um CEO (presidente de alguma grande companhia)”.

Os verdes – cujo slogan é “outro país é possível, outro partido é necessário” – pregam a necessidade de uma reforma política no país que permita maior participação popular nas decisões governamentais.

Na plataforma do partido, consta que “os Estados Unidos nasceram como a primeira grande experiência democrática, precisamos resgatar essa herança. Nós, cidadãos, somos o governo e não podemos permitir a usurpação da nossa autoridade por indivíduos e agências que se isolam do controle público”.


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