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15 de dezembro de 2011
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20:29

A privataria tucana e as pretensas vestais da grande mídia e da política

Por
Sul 21
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Momento difícil o que está sendo vivido pelos peessedebistas e, de quebra, por parte da grande mídia brasileira. O livro de Amaury Ribeiro Jr., A Privataria Tucana, com uma edição de 15 mil exemplares, se esgotou em menos de 24 horas após o seu lançamento, não obstante tenha sido praticamente ignorado pelos grandes veículos de comunicação. Nele, o autor denuncia, com base em documentos oficiais e obtidos legalmente, vultuosos desvios de recursos e enriquecimento ilícito envolvendo figuras ligadas ao alto tucanato e especialmente próximas de José Serra.

Calada nos primeiros dias do lançamento do livro, a grande mídia viu-se forçada a comentá-lo e aos fatos nele relatados, mas o fez de maneira tímida, quase protocolar. A revista Veja foi ao extremo de ignorar o livro de Amaury Ribeiro Jr. e, ao mesmo tempo, dedicar uma grande reportagem requentando a notícia da possível participação daquele autor em um esquema de espionagem e produção de dossiê contrário à candidatura Serra, durante a campanha presidencial de 2010. Divulgado pelas redes sociais e pela mídia alternativa, principalmente via internet, o livro chegará na sexta-feira (16) às livrarias, em sua segunda edição.

O calvário do PSDB começou, na verdade, antes mesmo da publicação d’A Privataria Tucana. Pesquisa realizada pelo Instituto Data Folha, em São Paulo, na semana passada, revelou que 48% dos paulistanos admitem intenção de votar no candidato a prefeito que for indicado por Luis Inácio Lula da Silva. Desta forma, tudo leva a crer que Fernando Haddad, o ainda desconhecido candidato do PT, mas que já foi consagrado por Lula, deverá obter um alto grau de crescimento eleitoral. José Serra, mesmo aparecendo em primeiro lugar naquela pesquisa, conquistou apenas 18% das intenções de voto, enquanto a rejeição à sua candidatura chegou a 35%. Destaque-se que São Paulo sempre foi tido como o ninho tucano e que foi ali onde Serra obteve sua maior vantagem sobre Dilma.

Os tucanos, ao que tudo indica, estão acuados. Nenhuma grande liderança partidária saiu em defesa de Serra, seja reafirmando o apoio à sua candidatura à prefeitura em São Paulo, seja defendendo-o das acusações contidas no livro de Amaury Ribeiro Jr. O senador paranaense, Álvaro Dias, o mais acerbo crítico dos governos petistas de Lula e Dilma e o mais eloquente denunciador de possíveis desmandos e mal uso de recursos públicos pelos atuais ministros, não se pronunciou sobre nenhum dos dois assuntos, mesmo instado por repórteres. Igual postura foi assumida por Aécio Neves, senador mineiro do PSDB, que, aliás, torce pelo infortúnio de Serra, mas não pode declará-lo.

O presidente do PSDB, deputado federal do PE, Sérgio Guerra, afirmou que não se pronunciará sobre os assuntos em pauta. Até mesmo o ex-presidente FHC, sempre loquaz e o grande artífice das privatizações, calou-se sobre o livro e o possível envolvimento de parentes e pessoas próximas a José Serra nas possíveis falcatruas denunciadas. As únicas manifestações de FHC na semana foram para dizer que “o futuro do PSDB é mais incerto do que o do Euro” e que os candidatos a prefeito de São Paulo “são todos japoneses”. Afirmações que geraram mal estar tanto entre peessedebistas quanto entre os imigrantes e descendentes japoneses, bastante numerosos naquele município.

José Serra, o maior atingido pelas denúncias contidas no livro de Amaury Ribeiro Jr., foi o único grão tucano que reagiu às acusações. Limitou-se, no entanto, a fazer duas afirmações: uma, de apenas uma palavra diversas vezes repetida, para classificar o trabalho: “lixo, lixo, lixo”; outra, para lembrar que o seu autor foi indiciado pela Polícia Federal, em processo movido pelo próprio PSDB durante a campanha eleitoral de 2010, como possível participante de um esquema de espionagem e elaboração de dossiê contra sua candidatura, o mesmo processo, coincidentemente, rememorado pela revista Veja desta semana.

Até mesmo os demais partidos se calaram ou se manifestaram de forma pouco veemente frente às denúncias de Amaury Ribeiro Jr. Integrantes do PSOL preferiram dizer que ainda não leram o livro. Diversos integrantes do PT se manifestaram sobre as evidências de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro público contidas n’A Privataria Tucana, mas não se pronunciaram sobre a segunda parte do livro, que revela disputas internas ao PT ocorridas durante a última campanha eleitoral para a presidência da República.

Ainda que as faltas denunciadas de uns e outros partidos e políticos sejam nitidamente diferenciadas e com graus de gravidade enormemente superiores, o livro de Amaury Ribeiro Jr. deixa claro que há muito de podre no reino Brasilis.  Se, de um lado, é de se esperar que o PT e os seus integrantes apontados como envolvidos nas contendas e intrigas internas esclareçam os fatos relatados, mais ainda se esperam as explicações tucanas. Nada justifica a mudez do PSDB e de seus integrantes ou as tentativas de José Serra de desqualificar as denúncias e o seu autor.

Os pretensos vestais tucanos, que hoje, na oposição, se apresentam como impolutos e assumem postura intransigente contra o governo Dilma Rousseff e seus ministros (tão pretensos vestais e tão pretensamente impolutos quanto se julgavam os petistas quando se opunham aos governos tucanos), deveriam ser os primeiros a vir a público para esclarecer os fatos agora denunciados. As parcelas da grande imprensa que têm se aliado aos tucanos nas cobranças de “faxinas” e defenestração de ministros deveriam já estar cobrando esclarecimentos cabais tanto de Serra quanto, inclusive, de FHC.

O ataque à privataria, produzido pelo livro de Amaury Ribeiro Jr., é um ataque ao centro da política peessedebista. Se a privatização foi realizada de maneira corrupta, como seu livro acusa, o PSDB e seus integrantes terão razões, claro, para não se pronunciar, mas terão os eleitores maiores motivos para repudiar suas políticas, suas práticas e até mesmo suas propostas. Afinal, se privataria e privatização andaram juntas e poderão ser tomadas como sinônimos que legitimidade teria este partido e seus políticos para enaltecer seu passado e para propor futuras iniciativas?

PS: Depois de este editorial ter sido fechado e publicado, o PSDB e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso divulgaram notas oficiais, respondendo às acusações contidas no livro de Amaury Ribeiro Jr.. Melhor não tivessem se manifestado. As notas apenas encadearam desqualificações ao jornalista e ao PT, acusando-os de conspiração, mas sem apresentar uma prova sequer da inocência de Serra, seus familiares e demais pretensos envolvidos na privataria.

Repete-se, assim, a mesma tática utilizada por todos (partidos políticos e também simples mortais) que não têm como se defender: acusa-se o acusador. Não é procedimento novo nem original deste partido e deste político, mas não combina com a imagem imaculada que o PSDB e o ex-presidente sempre pretenderam se auto-atribuir.


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