Geral
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24 de outubro de 2011
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01:34

Esporteduto ou Fifaduto?

Por
Sul 21
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Estranha coincidência o ministro dos esportes, Orlando Silva, e seu partido terem se tornado alvo de denúncias de corrupção no momento em que se inicia a etapa decisiva dos preparatórios para a Copa do Mundo de Futebol. Denúncias, aliás, antigas e que nunca tinham sido levadas a sério nem tinham conseguido repercussão na imprensa.

Ainda que não se deva negar a possibilidade da existência do que está sendo chamado de “esporteduto do PCdoB”, pois que as investigações solicitadas pelo procurador geral da República ainda não foram sequer instaladas e, portanto, não foram concluídas, nada autoriza o linchamento moral a que estão sendo submetidos o ministro e seu partido.

Acrescente-se a isto o fato de o acusador ser um indivíduo que já estava sendo investigado por desvio de recursos do mesmo ministério que passou a denunciar, o que autoriza a suspeita de que suas acusações possam servir como cortina de fumaça ou se caracterizem como um ataque com o objetivo de transformar em réu a própria vítima do crime cometido.

No momento em que a FIFA tenta impor ao Brasil condições para a realização da Copa do Mundo que agridem diversas leis vigentes no país e implicam em retrocessos de conquistas sociais importantes, além de buscar fazer valer condições comerciais que só beneficiam à própria FIFA e às empresas que se associem a ela, soa estranha a sintonia estabelecida entre parte da imprensa nacional e a entidade máxima do futebol mundial e a desenvoltura com que ambas vem informando a queda do ministro.

FIFA e setores da mídia brasileira demitiram, em conjunto, o ministro dos Esportes na sexta-feira (21). Só se esqueceram de combinar com a presidenta Dilma Rousseff. Em entrevista coletiva em Zurique, na Suíça, o secretário-geral da FIFA afirmou que estará no Brasil em novembro para se reunir com o “novo representante do governo” e arrematou “vou ter um encontro com a nova pessoa indicada pela presidente para conduzir a Copa em nível de governo. Tenho confiança de que a presidente encontrará a pessoa certa, independente do que acontecer com o ministro Orlando Silva”.

No mesmo dia, diversos jornais brasileiros noticiaram a queda do ministro, antes mesmos de ele se reunir com a presidenta. Até hoje ele continua no cargo, ainda que a carga de denúncias tenha se intensificado durante o final de semana.

No Rio Grande do Sul, notícia de uma carta-denúncia que vinha sendo guardada há três meses ganhou as manchetes dos jornais na última semana, no embalo das denúncias no plano federal. O alvo aqui é a deputada e pré-candidata a prefeita de Porto Alegre Manoela D’Ávila, acusada de ter sido beneficiada com o desvio de recursos da Secretaria de Esportes da Prefeitura de Alvorada para sua campanha à Câmara dos Deputados.

Sem inocentar, de antemão, o ministro e/ou a deputada e o partido de ambos, há que se registrar o fato de que nada foi provado até aqui. É fundamental que as investigações sejam realizadas, mas é preciso também que não se julgue e não se condene ninguém antes de os fatos terem sido apurados.

Duas questões, entretanto, precisam ser ressaltadas. A primeira delas, de caráter geral, é a de que se está invertendo, no Brasil de hoje e por pressão de parte da mídia, os princípios de que todos são inocentes até prova em contrário e que é o acusador quem deve produzir as provas dos delitos denunciados. A segunda, diretamente relacionada ao(s) caso(s) em pauta, é a de que o empenho anticorrupção agora em curso pode estar servido para a caça dos suspeitos errados.


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