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16 de maio de 2011
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01:27

Cobertura dupla, mas servida na taça: Inter vence nos pênaltis e é campeão gaúcho

Por
Sul 21
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Igor Natusch

Após emocionante Gre-Nal, Inter conquista o Gauchão pela 40ª vez - Ramiro Furquim/Sul21

Para quem gosta de partidas movimentadas e cheias de emoção (e haverá quem não goste?), esse Gre-Nal foi um jogo daqueles. Um jogaço cheio de gols e reviravoltas, fechando com chave de ouro um Gauchão do qual pode se dizer tudo, menos que tenha sido monótono ou desprezível. Seja como for, acabou sendo a qualidade individual a fazer a diferença na hora da verdade. Adilson, bom volante, mas chutador ainda incipiente, perdeu a cobrança na série decisiva; Zé Roberto, que está longe de empolgar no Inter, mas sabe o que fazer com a bola no pé, bateu bem e garantiu o título colorado na dramática decisão de pênaltis, 5 a 4 que definiu o Gauchão 2011. No tempo normal, a mesma lógica se verificou: o Grêmio correu, lutou, dominou em alguns momentos, mas foi o Inter que fez os gols tão necessários para garantir um resultado. Revidou em pleno Olímpico o 3 a 2 sofrido no Beira-Rio, sem jamais ser brilhante, mas demonstrando eficiência e qualidade individual na hora mais importante. O Rio Grande do Sul volta a ser vermelho, pela 40ª vez, e ninguém dirá algo contra a justiça do novo campeão.

Ramiro Furquim/Sul21

Que fique registrado: nos primeiros 30 minutos da partida de hoje, a nítida impressão era de que o RS terminaria tingido de outras cores. Mais do que jogar bem, o Grêmio passava por cima do Internacional; mais do que sustentar a vantagem conquistada no jogo anterior, o tricolor abriu o placar com Lúcio aos 15mins e ainda perdeu algumas chances claras de marcar. A tentativa de Falcão de desenhar uma espécie de 4-3-2-1, com Kleber no meio e Juan na lateral esquerda, naufragava tragicamente diante do simples e eficiente 4-4-2 em losango de Renato Portaluppi. Douglas distribuía bem o jogo, e o Inter não achava a marcação nas duas avenidas defensivas – em especial na esquerda, onde Juan e Kleber se amontoavam, mas mesmo assim Mário Fernandes e Leandro dispunham de acachapante liberdade. O 1 a 0 parcial obrigava o Inter a fazer pouco prováveis três gols – mesmo assim, o Grêmio teve o seu momento, o período mágico no qual poderia ter alquebrado o adversário de vez. E deixou passar.

Ramiro Furquim/Sul21

O mesmo, definitivamente, não se deu com o Internacional. Percebendo que a sua maionese tática estava desandando, Falcão tirou Juan e colocou Zé Roberto em campo, transformando o time em um 4-2-3-1 tipicamente rothiano, sem improvisações. Paralelamente, deslocou um pelotão de jogadores para fustigar o pobre-diabo Gílson, um atleta que não se entende com o futebol nem quando jogando tranquilo, que dirá sob pressão. Não chegou a ser um nó tático em Renato Portaluppi, mas mudou sensivelmente o panorama da partida e rendeu dois gols em menos de 15mins. Ambos, aliás, improváveis: o primeiro em chute esquisito e sem ângulo de Leandro Damião, o outro por meio do manquitolante e em seguida substituído Andrezinho, de fora da área. 2 a 1, Inter na frente, e incerteza nos dois lados do Rio Grande.

Ramiro Furquim/Sul21

Para a segunda etapa, a situação era, se não cômoda, pelo menos favorável ao Internacional. Bastava um gol para transformar o improvável em realidade – e levar um gol não era exatamente trágico, já que transforma a perda de título antes tida como certa em uma dramática, mas nem por isso desprezível decisão por pênaltis. Curiosamente, acabou sendo exatamente o que aconteceu. Foram 45 minutos de equilíbrio e emoção, com o Inter ainda mais insinuante (cortesia de Oscar no lugar do artilheiro perneta Andrezinho) e o Grêmio mais cauteloso, mas levando perigo nos contra-ataques. Foi quando a Maldição da Reposição de Bola, sempre pronta a atazanar o Grêmio em clássicos, manifestou-se uma vez mais. Vílson contorcia-se em campo tal uma minhoca retirada de dentro da terra, mas o juiz Leandro Vuaden (de boa atuação) achou que não era caso de parar o jogo. Autorizou a cobrança de lateral, com o sistema defensivo gremista apreciando as delícias de uma inoportuna soneca. De forma talvez um pouco afobada, Victor derrubou Zé Roberto na área: pênalti. Cobrado com precisão por D’Alessandro, o verdadeiro homem Gre-Nal que o hoje apagado Júnior Viçosa ainda sonha ser. 3 a 1, Inter sagrando-se campeão, torcida colorada ardendo em chamas.

Ramiro Furquim/Sul21

Mas, como diria o Deus Clichê, o jogo só acaba quando termina. Renato Portaluppi resolveu trocar a dupla de atacantes, colocando em campo Lins e Borges. O centroavante, que vinha sendo tratado como leproso e proscrito por parte da torcida, entrou bem no jogo. E o Grêmio partiu para o abafa, sem muito requinte, mas pressionando ao máximo a insegura defesa colorada. E foi a hora de Renan seguir sua difícil escrita em Gre-Nais: segurou de qualquer jeito a bola em cruzamento de Douglas, deixou o esférico escapar de suas mãos e serviu Borges, livre diante do objeto de desejo: 3 a 2, Olímpico ensandecido, decisão transferida para os pênaltis.

Ramiro Furquim/Sul21

E quem pensa que Deus Clichê aproveitaria o ensejo para recitar o famoso mantra “pênalti é loteria”, saiba que nem mesmo ele se permitiu dizer semelhante leviandade. De imprevisível, a decisão na marca da cal tem muito pouco: o que conta mesmo é a fortaleza emocional e, acima de tudo, a intimidade com a pelota. E mesmo que a série inicial de cinco pênaltis tenha terminado empatada, basta comparar os primeiros batedores gremistas (Douglas, Willian Magrão, Fábio Rochemback, Lúcio e Lins) com os do Internacional (D’Alessandro, Leandro Damião, Kleber, Oscar e Bolatti) para vermos que o colorado estava, sim, em vantagem na hora das penalidades. Rodolfo e Nei pode ser uma briga de iguais, tanto que ambos converteram, mas Adilson é menos afeito ao trato da bola do que o sumido, mas inegavelmente qualificado Zé Roberto. O primeiro teve seu pênalti defendido por Renan; o segundo bateu à perfeição e liquidou a fatura. Futebol é bola na rede, diria Deus Clichê. E foi na maior eficiência em cumprir essa determinação que o Internacional, com muitos méritos, sagrou-se campeão gaúcho de 2011.

GRÊMIO (2-4): Victor; Mário Fernandes, Vilson, Rodolfo e Gilson (Willian Magrão); Fábio Rochemback, Adilson, Lúcio e Douglas; Leandro (Lins) e Júnior Viçosa (Borges). Técnico: Renato Portaluppi.
INTERNACIONAL (3-5): Renan; Nei, Bolívar, Índio e Juan (Zé Roberto); Guiñazu, Bolatti, Kleber, Andrezinho (Oscar) e D’Alessandro; Leandro Damião. Técnico: Paulo Roberto Falcão.
Gols: Lúcio (GRE), aos 15mins, Leandro Damião (INT), aos 30mins e Andrezinho (INT), aos 45mins do primeiro tempo; D’Alessandro (INT), aos 29mins e Borges (GRE), aos 35mins do segundo tempo.
Cartões amarelos: Vilson, Fábio Rochemback, Douglas (GRE); Juan, D’Alessandro, Zé Roberto, Guiñazu, Índio (INT).
Árbitro: Leandro Vuaden. Auxiliares: Altemir Hausman e Júlio César Santos


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