Opinião
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21 de fevereiro de 2024
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16:09

Lula e a consciência mundial (por Luiz Marques)

Poeta e romancista palestina Heba Abu Nada, de 34 anos, é uma das milhares de vítimas em Gaza. Foto:  Reprodução
Poeta e romancista palestina Heba Abu Nada, de 34 anos, é uma das milhares de vítimas em Gaza. Foto: Reprodução

Luiz Marques (*)

O presidente Lula disse verdades sobre o governo de Israel, que decidiu por bombardeios infinitos na Faixa de Gaza, matando 30 mil palestinos até agora. Destes, 10 mil crianças (o futuro da Palestina). Se não lembra as práticas nazistas de extermínio, lembra o quê?

A grande imprensa brasileira deu razão ao premier israelense de extrema direita, Benjamin Netanyahu, e exortou Lula a deixar de improvisar para se ater à leitura dos discursos preparados pela assessoria embora sob suas vistas. De forma nem tão sutil, a mídia corporativa endossou as críticas preconceituosas, comuns nos anos 1990, contra o ex-metalúrgico sem diploma universitário conquanto seja o líder mundial com mais títulos de “Doctor Honoris Causa” na história.

Atacou-se a maior virtude do presidente 3.0, que é falar com o coração para o povo. Nenhum representante dos países que apoiam Israel, na resposta desproporcional à investida terrorista do Hamas, censurou a declaração de Lula. Ao contrário, o efeito imediato foi uma moção pela paz vinda da família real do Reino Unido, de lúcidas celebridades de Hollywood e centrais sindicais.

Celso Amorim considera que Lula conseguiu despertar a consciência mundial para os injustificados massacres em curso. Hoje, são 162 países que se opõem à continuação da guerra unilateral. Israel e os Estados Unidos estão isolados, não Lula ou o Brasil. A embaixadora estadunidense na ONU usou o termo “solução final” para argumentar pelo prosseguimento dos bombardeios. Indiretamente, corroborou o que todos sabem. Israel repete a disposição de Hitler ao investir contra o povo palestino. O que pretende é a extinção de sua alteridade na região.

Netanyahu fez um jogo de cena para o seu público interno, no momento em que cresce a oposição ao seu governo. Não hesitou em fazer uma aliança demagógica com os mortos no Holocausto para seus objetivos rasteiros de genocida. Os cães de guarda no jornalismo preferiram repercutir a versão necropolítica da extrema direita, a interpretar o brado corajoso do mandatário brasileiro em nome de causas humanitárias. A visita do chefe do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, ao presidente Lula, no Palácio do Planalto, gerou uma foto sorridente que serviu para isolar ainda mais o neofascista de Tel-Aviv. Nenhuma palavra sobre o que serviu de plataforma política para as fake news exploradas à exaustão contra aquele que – como na fábula de Andersen – teve a coragem de denunciar que “o rei está nu”.

O primeiro-ministro de Israel jogou para o cercadinho dos aficcionados do sionismo, com eco nas desinformações vira-latas que tomaram conta da Rede Globo, em especial da Globo News, nos últimos dias, que por seu turno dirigiu-se aos representantes dos poderes da República. O único a morder a isca foi o senador Rodrigo Pacheco, presidente do Senado.

Nessas oportunidades, a meia dúzia de famílias proprietárias da “opinião publicizada” mostra sua unidade de classe. Não lhe convém um Lula empoderado interna e externamente, nem às classes dominantes que lucram com a miséria do povo brasileiro e a minoridade do Estado nacional, reduzido na divisão internacional do trabalho à condição de exportador de commodities. Um país reindustrializado, com destaque no cenário político internacional, fortalece o movimento pela multipolaridade no lugar da unipolaridade imperialista e ergue bandeiras para um crescimento econômico sustentável, com distribuição de renda.

Para não mencionar que promove uma conscientização em favor da luta contra as desigualdades entre os continentes, os países e as classes sociais. Lula e seus eleitores empurram o mundo para a centro esquerda, para o Estado de bem-estar social. Isso é o imperdoável, porque já bastaria para sepultar o neoliberalismo e o Consenso de Washington. A caravana passa.

(*) Docente de Ciência Política na UFRGS, ex-Secretário de Estado da Cultura no Rio Grande do Sul

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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