Opinião
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14 de abril de 2023
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07:10

Trinta e um de março, primeiro de abril de 2023 (por Selvino Heck)

Ato em defesa da democracia brasileira, em Porto Alegre. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)
Ato em defesa da democracia brasileira, em Porto Alegre. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

Selvino Heck (*)

O ano não é 1963/1964, nem 2015/2016, mas 2023.

Em 7 de abril de 2018 Lula foi preso, ficando 580 dias na prisão da Polícia Federal em Curitiba. Em 11 de abril de 2023, Lula completou 100 dias de seu terceiro governo.

Em 31 de março/1º abril de 1964 os militares promoveram um golpe militar, com amplo apoio da elite escravocrata, da mídia conservadora e de setores importantes das igrejas, inclusive da Igreja católica, tudo com apoio da CIA norte-americana. As Reformas de Base do governo João Goulart, incluindo a Reforma Agrária, foram o argumento principal para dizer que o comunismo estava chegando no Brasil. E foram 21 anos de ditadura, sem democracia.

Em 2015/2016, as mesmas forças conservadoras, apoiadas pelos militares, deram um golpe e promoveram o impeachment da primeira presidenta mulher do Brasil, Dilma Rousseff. Eram tempos de democracia e participação popular. Em 2013/2014, foram formalizadas e instituídas a PNEP SUS, Política Nacional de Educação Popular em Saúde, a PNPS, Política Nacional de Participação Social, o Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas, o Plano de Formação da Economia Solidária e estava em fase final a construção, para formalização, a PNEP, Política Nacional de Educação Popular. Em 2014, pela primeira vez na sua história, o Brasil saiu do Mapa da Fome, segundo a FAO/ONU. 

Era demais para a elite escravocrata, a mídia golpista e conservadora, as forças militares, a CIA e o conservadorismo norte-americano. Afinal, já eram algumas décadas de democracia, acontecimento raro no Brasil!  

Toda vez que as forças populares e progressistas se organizam e começam a fazer mudanças estruturais, o Poder do capital e a elite escravocrata se apresentam e, unidos com o capital internacional, acabam com as transformações em curso. Toda vez que o povo pobre e trabalhador tem alguma vez e voz no Brasil e conquista direitos, a democracia é ameaçada e implodida.  Como se diz no Nordeste, Quando o povo se junta, o poder se espalha. E isso é definitivamente proibido no Brasil desde sempre.

Os tempos atuais, em 2023, além das ameaças à democracia, são de ódio, intolerância, violência, alimentadas pelas redes sociais e internet via Fake News, mentiras espalhadas todos os dias, sepultando a paz individual e coletiva, espalhando a desconfiança, a ausência de diálogo, o fim da solidariedade, o neofascismo, seus valores, práticas e visão de mundo no cotidiano da sociedade.  

Os 100 dias do terceiro governo Lula são decisivos neste momento histórico, com a retomada de políticas públicas com participação popular. É a voz e vez do povo trabalhador e dos mais pobres de novo em evidência e protagonismo. Como se anuncia no Nordeste, “a nossa comunidade tem a nossa voz”, sempre coletivas e solidárias, tanto a nossa voz, de cada uma, de cada um, muito mais a voz da comunidade. 

O combate à fome, à miséria, ao desemprego, o enfrentamento à desigualdade econômica e social está no centro das necessidades e urgências históricas e conjunturais. A educação política, com muita formação na ação, é decisiva hoje, 2023. Nada de dar espaço para repetir 1963/1964, 2015/2016, ou dar oportunidade de nova voz de prisão injusta para Lula.

A análise é pessimista ou alarmista demais? É preciso construir/reconstruir a esperança, o sonho, a utopia. Como diz a canção, “é preciso estar atento e forte”. E não permitir que, mais uma vez, a democracia seja esmagada, a voz dos pobres e do povo trabalhador seja calada. Trinta e um de março, primeiro de abril nunca mais!  

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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