Opinião
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20 de janeiro de 2022
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10:34

Carta aberta a Barra Torres (por Althen Teixeira Filho)

Mobilização, em Brasília, contra flexibilização da legislação sobre uso de agrotóxicos. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Mobilização, em Brasília, contra flexibilização da legislação sobre uso de agrotóxicos. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Althen Teixeira Filho (*)

Senhor Antonio Barra Torres

M.D. Diretor Presidente da ANVISA

Ilustre senhor,

Antes de mais nada, expresso minha solidariedade e admiração frente à sua atitude de cobrar, especialmente de um presidente da República, uma manifestação sobre temas de relevância nacional, de respeito humano e de cuidados para com à “res publica”. 

Parabéns pela sua coragem e consciência cidadã!

Também ressalto, com ênfase e sinceridade, tanto sua apresentação como um “Oficial General da Marinha do Brasil, que por 32 anos serviu seu país, pautado em austeridade, honra, dignidade”, quanto sua atenção como Diretor Presidente da Anvisa, para com a família brasileira. 

Em assim sendo, e frente à crescente e alarmante situação há muito vivida no Brasil, tomo a liberdade de cobrar-lhe uma manifestação pública sobre algumas das liberações de agrotóxicos que a instituição sob sua responsabilidade encaminha. 

Tenho a certeza, então lastreado na sua auto apresentação, que Vossa Senhoria desenvolverá leitura de pareceres destes venenos agrícolas com olhos de médico, utilizará a ciência como referência e terá parâmetros humanos baseados no seu juramento hipocrático. Deste modo, aguarda-se que sua manifestação terá um mínimo de atenção para com o adoecimento da população em geral e, fundamental, de piedade e comiseração para com as crianças brasileiras que sofrem impactos inomináveis dos venenos agrícolas, muitos dos quais as acompanham, entristecem, sufocam e assolam durante toda a sua vida. 

Outrossim, também não deixará de perceber a gravíssima e inegável destruição de nichos da natureza, assim como o extermínio de seres fundamentais à sobrevivência da própria espécie humana, como é o caso do aniquilamento das abelhas.

Para objetivar nesse primeiro momento, sugiro-lhe que proceda a análise e leitura atenta do “PARECER TÉCNICO DE REAVALIAÇÃO NO 07, de 2015/GGTOX/ANVISA”, o qual “Reavalia os riscos à saúde humana do ingrediente ativo 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D)”. Ali Vossa Senhoria encontrará exemplos cristalinos de sofismas, tergiversações e encaminhamentos na defesa de interesses particulares.

Por consequência, caso Vossa Senhoria tenha o mesmo entendimento de inúmeros outros que estudam, pesquisam e publicam sobre o assunto, sugiro-lhe a imediata constituição de uma comissão composta por médicos, pesquisadores e professores universitários ISENTOS, no sentido de que as liberações dos venenos agrícolas possam ser reavaliadas.

Não convoque os que acham que “glifosato não é tóxico e pode ser bebido”, nem os que tomam verbas das empresas para “desenvolverem pesquisas”, ou os que publicam disparates bajulatórios, e muito menos os que viajam aqui e alhures refestelando-se com despesas pagas pela indústria química.

Rever um parecer ou um ato errado da sua instituição não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Envio-lhe sinceros abraços pampeanos fraternos.

(*) Professor Titular do Instituto de Biologia, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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