Opinião
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30 de dezembro de 2021
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08:18

Que ‘venga’ 2022! (por Selvino Heck)

Selvino Heck:
Selvino Heck: "Povo organizado e na rua não se deixa dominar". (Foto: Luiza Castro/Sul21)

Selvino Heck (*)

2022 não será um passeio, na minha modesta avaliação na última semana de dezembro. Só espero que não seja pior que 2021, possibilidade que não dá para descartar.

A começar pela seca que assola o Rio Grande. Em Santa Emília, Venâncio Aires, minha terra e comunidade, onde estou descansando o corpo e a mente entre o Natal e o Ano Novo, todos os dias passam caminhões-pipa levando água para algum lugar mais distante, nos morros da região, enquanto as plantas, especialmente o milho, sofrem com o calor do sol. Ao mesmo tempo, na Bahia, Minas e Estados vizinhos, as chuvas produzem sofrimento e mortes.

Este é apenas um detalhe, o das mudanças climáticas, de um ano, 2022, que se apresenta cheio de dúvidas, angústias, incertezas, para dizer o mínimo. 2021, felizmente, está no final. É preciso pensar no ano que virá, no futuro que se avizinha.

No campo econômico-social, não há como esperar melhoras significativas em 2022. A fome vai continuar, junto com a miséria e o desemprego. Os Comitês Populares contra a Fome, as Cozinhas Solidárias e Comunitárias, a Frente Nacional contra a Fome e tantas outras iniciativas da sociedade civil vão defender quem sofre, diante da inação dos governos, especialmente o federal, e da ausência ou extinção de quase todas as políticas públicas.

A pandemia não está superada, dizem os especialistas, ainda que o povo brasileiro tenha dado lições de vida e sabedoria, ao se vacinar, ao tomar todos os cuidados sanitários, apesar dos negacionistas de plantão, amantes da morte.   

Não há sinais de melhoria econômica em 2022. O que se desenha é mais inflação, mais riqueza de poucos, mais pobreza de muitos, mais concentração de renda.

No campo político, 2022 será, tudo indica, um ano difícil, cercado de absurdos e loucuras. As eleições de outubro são, neste momento, incerteza total. Em dezembro de 2021, a dez meses da eleição, ninguém pode cantar vitória. Pesquisas eleitorais dizem pouco nesta altura do campeonato. São um indicativo conjuntural, como se sabe e se viu em  eleições anteriores. Só lá por julho, agosto, será possível ter uma ideia do que vai acontecer.

Felizmente a sociedade civil, os movimentos sociais e populares, as pastorais progressistas de diferentes igrejas e religiões, os partidos do campo democrático-popular se mobilizam e organizam, com coragem, a rebeldia e a resistência ativa.

De 26 a 30 de janeiro acontece, de forma híbrida, o Fórum Social das Resistências (FSR) em Porto Alegre, com uma grande marcha de abertura dia 26, com Assembleias de Convergência dias 27 e 28 e muitas outras atividades, até o encerramento, no domingo dia 30 de janeiro. Povo organizado e na rua não se deixa dominar.

O Fórum Social das Resistências antecede o Fórum Social Mundial, que acontecerá no México, da 01 a 6 de maio, dizendo de novo que um outro mundo é possível, e cada vez mais urgente e necessário. Em julho, acontecerá o Fórum Pan-Amazônico em Belém, lembrando todas e todos que o cuidado com a Casa Comum e com a natureza é decisivo para o mundo e o futuro da humanidade, e propondo uma sociedade do Bem Viver.

Só depois destes eventos, e de muitas lutas e mobilizações na rua, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, no primeiro de maio, Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores,  acontecerá a eleição de outubro. Será possivelmente a eleição das nossas vidas, tal seu grau de importância, para o Brasil, a América Latina, o mundo.

Neste momento, servem de alento e esperança as eleições do Chile, mostrando que o povo chileno ama a democracia. Há, portanto, sinais de esperança de que o povo brasileiro poderá seguir o povo chileno: restabelecer a democracia, os direitos dos mais pobres, reconstruir políticas públicas de saúde, educação, soberania e segurança alimentar e nutricional, agroecologia e produção orgânica, reafirmar a participação e o poder popular.

Nada está definitivamente perdido, pois. Que ´venga´ 2022. E que 2021 se despeça com dignidade, mas sem saudade. Unidade e solidariedade são palavras-chave para o ano que está vindo. ESPERANÇAR freireanamente: com mobilização social, trabalho de base, formação na ação.

Feliz 2022 para todas e todos, na boa luta: denúncia, anúncio, profecia, utopia e sonho.

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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