Opinião
|
21 de setembro de 2021
|
19:59

Diplomacia da fuleiragem (por Robson Coelho Cardoch Valdez)

Jair Bolsonaro em discurso na ONU.
Foto: Alan Santos/PR
Jair Bolsonaro em discurso na ONU. Foto: Alan Santos/PR

Robson Coelho Cardoch Valdez (*)

A cada novo discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, nos convencemos do enorme desafio que a política externa brasileira dos próximos governos terá pela frente no sentido de recuperar a imagem do Brasil e dos brasileiros no cenário internacional.

Sob Bolsonaro, os brasileiros já estão expostos ao constrangimento internacional por conta da desastrosa gestão ambiental de seu governo, sua fervorosa defesa pessoal do regime militar brasileiro e seus torturadores e o inesquecível alinhamento subalterno do Brasil em relação à política externa dos Estados Unidos à época de Trump. Um conjunto de imagens negativamente consolidada no imaginário da comunidade internacional.

Os discursos do Presidente da República na ONU, nesses últimos três anos, deixam o país em total estado de apreensão, pois as piores expectativas acabam se confirmando às custas da destruição de nossa imagem como país e como povo: a instrumentalização do púlpito da Assembleia Geral da ONU para engajar sua fiel base eleitoral no Brasil. Em suma, o último discurso foi um apanhado das falas anteriores em meio aos temas recentes da conjuntura nacional e internacional. 

Atento à rede de fakenews bolsonaristas no Brasil, defendeu a “família tradicional” como “fundamento da civilização”; culpou o lockdown promovido por prefeitos e governadores pela atual crise econômica; defendeu o tratamento precoce combate à Covid 19 e enfatizou seu desejo de acolher refugiados afegãos. Mas, pasmem! Desde que sejam cristãos!

Junto a tudo isso, ficou ainda a imagem da comitiva non grata em Nova Iorque nas pessoas do Ministro da Saúde Marcelo Queiroga ao lado de seu colega, o Chanceler brasileiro Carlos França (o moderado) “saudando” euforicamente manifestantes em Nova Iorque. O primeiro mostrando seus dois dedos do meio e o segundo fazendo arminha com a mão (gestual bolsonarista).

Não resta dúvida de que, no futuro, pesquisadores irão se referir a este triste momento de nossas vidas como a diplomacia da fuleiragem presidencial ou algo nesse sentido. “Fuleira” é, hoje, o adjetivo que melhor define a diplomacia brasileira.

(*) Robson Coelho Cardoch Valdez é pós-doutorando em Relações Internacionais IREL/UnB, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais (UFRGS) e pesquisador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos/IREL-UnB. Autor dos livros Política Externa e a Inserção Internacional do BNDES no Governo Lula (Appris, 2019) e Subindo a Escada – a internacionalização de empresas nacionais no Governo Lula (Appris, 2019). Contato: [email protected]m.

***

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora