Opinião
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11 de agosto de 2021
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11:20

Banrisul é o noivo desejado da agiotagem privada (por Jeferson Fernandes)

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jeferson Fernandes (*)

Olhando em retrospectiva para os últimos 25 anos da história política do Brasil, é possível compreender claramente porque o PSDB, partido do governador Eduardo Leite, é o preferido da banca privada de agiotagem. Os senhores que ocupam luxuosos edifícios da Avenida Faria Lima, coração financeiro de SP e do país, serão gratos pelo resto da vida. 

Afinal, durante os governos de Fernando Henrique Cardoso se apropriaram de nada menos que 12 bancos públicos estaduais com alta rentabilidade ou saneados pelo Banco Central. É o capitalismo de risco zero e lucro máximo para o setor privado, onde não existe a lógica do ganha-ganha, tão propagada pelos arautos da economia de mercado. Ao contrário, é uma via de uma única mão, através da qual escoam patrimônio e recursos públicos da sociedade, que passam a ser propriedade de alguns poucos.

O Banespa, privatizado em 2000 e adquirido pelo espanhol Santander, é um exemplo marcante dessa selvageria neoliberal contra o interesse público. Com um patrimônio líquido avaliado à época em R$ 11 bilhões, foi vendido por R$ 7 bi e os compradores ainda levaram de brinde uma isenção fiscal de R$ 5,15 bilhões. Três anos depois, o Santander já havia lucrado R$ 10 bilhões com o banco. Se tem algo que possa ser chamado de “Negócio da China”, é isso.

É pelo histórico de negociatas bem-sucedidas como essa que o Banrisul é o noivo desejado da banca privada. Com uma herança avaliada em R$ 8,3 bilhões de patrimônio líquido em 2020, que é a riqueza total da instituição já descontados seus débitos, é o mais lucrativo dos únicos 5 bancos estaduais que ainda sobrevivem. Não é por acaso que a colunista de economia do jornal Zero Hora, Marta Sfredo, espécie de porta voz informal do setor, destacou em letras garrafais: “Aprovação da PEC que dispensa plebiscito também para privatizar Banrisul assanha mercado”

Esse tal mercado, um ser abstrato endeusado pela mídia conservadora como uma entidade onipotente e de humor instável, nada mais é do que o sistema financeiro privado e suas ramificações. É o poder atual de fato. Seu sonho de uma noite de verão é se apossar totalmente da rede bancária do país e ser o dono absoluto do balcão. Afinal, são os milhares de clientes individuais e representantes de pequenas e médias empresas que asseguram a maior parte dos lucros obtidos pelos bancos comerciais.

E para lograr êxito nesses propósitos infames, seus agentes precisam que instituições públicas como o Banrisul sejam liquidadas e submetidas ao domínio e orientação privados. Ao governo gaúcho restaria o BADESUL Desenvolvimento – Agência de Fomento – RS, com quase nada de dinheiro em caixa e sem a capacidade mágica que os bancos comerciais têm de multiplicar cifrões. Para traduzir em números o quadro que está sendo desenhado, em 2020 o Banrisul obteve de lucro líquido a quantia de R$ 727,5 milhões, enquanto o Badesul lucrou a insignificância de R$ 13,1 milhões. 

A privatização dos bancos públicos é um dos pilares da teoria neoliberal de Estado mínimo, que jamais produziu desenvolvimento econômico e social em lugar algum. Ao contrário, onde foi implementada deixou um rastro de crises econômicas, desemprego e miséria. E nesse contexto, a ideia republicana do poder público como agente central na indução do desenvolvimento nunca passará do estágio da declaração de intenções. Afinal, quem dará ouvidos às concepções e projetos de desenvolvimento priorizados por governos se estes não têm dinheiro para financiar o que defendem?

Paradoxalmente à perversa lógica dominante, as possibilidades de um novo projeto de desenvolvimento para o Rio Grande passam necessariamente pela existência de um banco público para subsidiá-lo. Contudo, após a base parlamentar de Eduardo Leite derrubar a necessidade de plebiscito para vendê-lo, O Banrisul ficou com as defesas a descoberto e sob ameaça permanente. Dos desdobramentos dessa guerra desigual e injusta resultará o ambiente que o povo gaúcho terá para construir seus sonhos de futuro.

(*) Deputado estadual (PT/RS)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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