Coronavírus
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12 de agosto de 2023
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15:18

Bairros com maior população negra tiveram menor isolamento social na pandemia

Por
Duda Romagna
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Protesto, em junho de 2020, contra a falta de políticas para o isolamento social diante da Prefeitura de Porto Alegre | Foto: Luiza Castro/Sul21
Protesto, em junho de 2020, contra a falta de políticas para o isolamento social diante da Prefeitura de Porto Alegre | Foto: Luiza Castro/Sul21

Um estudo feito por Tiago da Silva Silveira, mestre em Planejamento Urbano e Regional, e André Coutinho Augustin, mestre em Economia e pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), apontou que, em Porto Alegre, bairros com maior população negra tiveram menores índices de isolamento social durante a pandemia. O índice de isolamento também foi impactado pelo fator de renda, com pessoas economicamente vulneráveis tendo mais exposição ao contágio.

As estatísticas foram retiradas de dados calculados a partir da localização de telefones celulares enviados pelo Google e por outros aplicativos para os governos estaduais. Essas informações, então, foram comparadas com dados do Censo Demográfico do IBGE, de 2010.

Neste cruzamento de dados, o estudo definiu coeficientes de determinação e correlação entre o isolamento social e os perfis de raça e renda. “O mapa da renda é quase um espelho do mapa racial”, apontam os autores. A pesquisa concluiu, também, que fatores como gênero e idade são melhor distribuídos espacialmente e não se mostraram determinantes quanto as diferenças na taxa do isolamento.

 

Além da questão de planejamento urbano da cidade, a inserção de cada grupo populacional no mercado de trabalho definiram as condições do isolamento. “Olhando esses dados, eu vi que os maiores níveis de isolamento eram nos bairros mais ricos e os menores níveis nos bairros mais pobres. O que já era esperado, porque nem todo mundo pode trabalhar em home office. Algumas profissões acabaram tendo mais acesso a isso e, principalmente, as pessoas com nível superior, pelo tipo de trabalho, por ter condições de casa, computador, internet”, relata Augustin.

O estudo ainda considera dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) apresentados no Atlas Brasil, de 2020, que mostram diferenças marcantes entre as áreas mais ricas da cidade – Moinhos de Vento, Chácara das Pedras e Jardim Isabel, com IDH-M DE 0,958 – e as mais pobres – Sarandi, Humaitá e Restinga, com IDH-M de 0,593. As principais desigualdades estão na infraestrutura urbana, na qualidade ambiental dos espaços, na disponibilidade e qualidade dos serviços, incluindo os de saúde, acessibilidade e mobilidade.

Um exemplo prático dessa desigualdade é o transporte público, aponta Augustin, que se tornou um vetor do vírus para quem dependia dele para chegar ao trabalho. “Esse planejamento urbano, que historicamente favorece a população mais rica e a população branca em vários aspectos, na pandemia foi mais uma forma de expor mais algumas pessoas ao risco de contágio do que outras”, explica.


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