Desde a noite de domingo (30), após o anúncio da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), grupos insatisfeitos com a derrota do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), se organizaram para bloquear total e parcialmente rodovias por todo o país. Ao longo da segunda (31) e da terça-feira (01), os bloqueios se intensificaram, causando transtorno para quem precisava se locomover entre cidades e estados e para o transporte de cargas.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou o uso das polícias militares estaduais em estradas federais para desobstruir o que chamou de “movimento ilegal”. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) disse, em nota, que é “veemente contrária a qualquer manifestação antidemocrática que prejudique o país e a sua população”.
Nas redes sociais, as discussões sobre as eleições presidenciais foram fortemente pautadas pelos bloqueios bolsonaristas. Em 48 horas, 191.500 publicações foram feitas no Twitter, com um pico de registros no início da tarde, segundo dados obtidos pela reportagem através da plataforma de monitoramento de redes sociais Trendsmap.
A repercussão, apesar de grande, não foi positiva. Os perfis com maior engajamento em comentários sobre os atos são, majoritariamente, antibolsonaristas. Liderando a lista está André Janones (Avante), deputado federal e grande aliado da campanha de Lula.
Com menos de 24 horas, a postagem de Janones, alegando que a manifestação não tem apoio de lideranças da greve dos caminhoneiros de 2018, obteve mais de 70 mil curtidas. Nos comentários e citações do tweet, as palavras que mais se repetiram foram “terroristas” e “cadeia”.
Falei agora com as lideranças da greve dos caminhoneiros de 2018. Segundo eles os bloqueios não tem o apoio da categoria e são orquestradas por Bolsonaro, através de alguns infiltrados. Caso isso se confirme nas investigações, Bolsonaro pode ser preso antes de deixar o governo.
— André Janones (@AndreJanonesAdv) 1 de novembro de 2022
João Amoedo, fundador do Partido Novo e histórico opositor da esquerda, também repudiou as ações e atribuiu sua continuidade à omissão de Bolsonaro. O presidente só se manifestou publicamente 48 horas depois de confirmada a sua derrota no segundo turno. Na tarde desta terça-feira, fez um discurso curto no Palácio Alvorada. No entanto, não reconheceu formalmente a derrota e não condenou os bloqueios, somente pediu que não fossem empregados “métodos da esquerda” e que não comprometessem o direito de ir e vir da população.
Um provável pronunciamento de Bolsonaro, somente após o fracasso dos bloqueios criminosos, expõe o caráter golpista e covarde do presidente.
Mais uma evidência para aqueles que, em 46 meses de governo, não perceberam isso.
— João Amoêdo (@joaoamoedonovo) 1 de novembro de 2022
Segundo uma investigação da Agência Pública, as redes foram palco da organização dos bloqueios, semanas antes da votação do dia 30. “Preparem as barracas, o povo nas cidades vai para os quartéis os caminhoneiros e o agro irão parar às rodovias”, diz uma mensagem que circulou no Telegram bolsonarista. O chamado foi disparado no dia 14.