Eleições 2022
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22 de agosto de 2022
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22:50

JN: Em meio a ufanismo e mentiras, Bolsonaro evita compromisso com resultado da eleição

Por
Sul 21
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Bolsonaro foi o primeiro entrevistado da semana no JN. Foto: Reprodução
Bolsonaro foi o primeiro entrevistado da semana no JN. Foto: Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro (PL) evitou assumir um compromisso público com o resultado da eleição de outubro em entrevista ao Jornal Nacional, que, nesta segunda-feira (22), abriu a série de sabatinas com os quatro candidatos mais bem colocados na pesquisa Datafolha. Provocado pelo âncora William Bonner a se comprometer com a escolha dos eleitores, “ao vivo para milhões de pessoas”, Bolsonaro disse que respeitará o resultado das urnas “desde que as eleições sejam limpas e transparentes”.

Também disse não se arrepender de sua conduta no combate à pandemia de covid-19, que já causou a morte de quase 700 mil brasileiros. “Lamento as mortes. Mas não poderia ter tratado [a pandemia] de outra forma. Fizemos a nossa parte. A mídia, a Globo inclusive, é que desestimulou os méritos do tratamento precoce. Isso é que foi errado”, disse ao ser confrontado com as estatísticas da pandemia. Bolsonaro classificou como uma “figura de linguagem” sua afirmação de que quem tomasse a vacina poderia se transformar em jacaré.

A entrevista, de 40 minutos, abriu a série que terá ainda Ciro Gomes (PDT) na terça-feira, Lula (PT) na quinta e Simone Tebet (MDB) na sexta. Morna do início ao fim, sem perguntas incisivas em relação a questões estratégicas do governo, a sabatina mostrou um Bolsonaro à vontade num ambiente de pressão – em apenas um momento, quando falou de meio ambiente, ensaiou perder o controle com os entrevistadores.

Sobre as eleições, o presidente insistiu na tese de que vem sendo perseguido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e que é vítima de inquérito ilegal. “A [ex-procuradora da República] Raquel Dodge deu parecer contrário à investigação. Hoje parece que está pacificado, na posse do ministro [na última terça-feira] houve um contato amistoso entre nós. A garantia [da eleição] são as Forças Armadas, que foram convidadas a participar do processo”, disse.

Questionado sobre medidas antidemocráticas defendidas por seus apoiadores, como fechamento do Congresso e do STF, Bolsonaro voltou a minimizar os atos que marcaram o ápice da crise institucional em meados de 2021. “O senhor não os desautoriza? Não é uma sinalização ruim de sua parte?”, perguntou Bonner. “Nossas manifestações ocorreram sem uma lata de lixo virada. Essa história do artigo 142 [que autoriza a intervenção das forças armadas no caso de instabilidade institucional] é liberdade de expressão. Não levo para esse lado [de crime], faz parte da democracia. Não posso eu defender volta do AI-5 ou o fechamento do Congresso. Nem o STF. Mas querer punir por uma faixinha numa multidão?”, minimizou.

Bonner e Renata Vasconcelos se revezaram nas perguntas, que foram do compromisso com a democracia até as promessas não cumpridas de inflação, dólar e juros em baixa. Segundo o presidente, o compromisso não pôde ser concretizado devido à seca, à pandemia de covi-19 e à guerra da Ucrânia. Bolsonaro abusou de versões ufanistas do seu governo, sem lastro com a realidade, em questões econômicas, ambientais e sanitárias. Além disso, mentiu sobre a compra de vacinas para a covid e ao negar ter disparado xingamentos contra ministros do STF.

“Os dados de hoje nos mostram como um dos únicos países do mundo com deflação. Temos índices menores que Inglaterra, menor que Estados Unidos. Os números da economia são fantásticos. O desemprego está caindo, temos um saldo de 3 milhões de vagas criadas. Isso é competência da política econômica”, sustentou.

Sobre o apoio do chamado Centrão, Bolsonaro disse que não pode governar sem a maioria dos deputados e acusou Bonner de estimulá-lo a ser um “ditador” se não levasse em consideração os votos de mais de 300 parlamentares. “No meu tempo não era Centrão. O importante é somos um governo sem corrupção. E que adotou critérios técnicos para a escolha dos ministros. “Temos um Marcos Pontes [Ciência e Tecnologia], Tereza Cristina [Agricultura], um Gilson Machado no turismo, um Onyx [Lorenzoni], meu coringa. No padrão [Ricardo] Salles, excepcional”, listou.

Na questão ambiental, Bolsonaro voltou a defender a política do ex-ministro Ricardo Salles, que classificou como “fantástico”, e a atacar o Ibama que, segundo ele, abusa de suas prerrogativas ao destruir maquinário apreendido de garimpeiros e desmatadores. “Há abuso por parte do Ibama sim, porque a lei manda queimar maquinário apreendido só se não for possível retirar. Trator tem que tocar fogo só se não puder retirado. Mas o Ibama toca fogo antes de retirar. Não desautorizo [o Ibama], apenas mando cumprir a lei. E a lei diz para não destruir se puder retirar”, justificou.

Também classificou como “mentira” as notícias de que o Brasil acelerou a destruição da Amazônia durante seu governo. “É uma mentira, ninguém quer destruir por livre e espontânea vontade. O Brasil não merece ser atacado dessa forma. Se o nosso agronegócio não produzir, o mundo passa fome”, disse.

Em outro momento, Bolsonaro também disse que era “mentira” a informação de que o governo demorou a fornecer oxigênio, em março de 2021, para amenizar a crise de fornecimento que atingiu Manaus (AM). “Em menos de 48 horas estavam chegando cilindros de oxigênio. Foi uma coisa atípica, mas fizemos a nossa parte. Raros países tiveram resultado como o nosso”, afirmou. A âncora Renata Vasconcelos corrigiu Bolsonaro e disse que Manaus ficou nove dias sem receber apoio logístico do governo. “Não é verdade”, retrucou o presidente.

Durante a entrevista, concentrada no primeiro bloco do jornal, houve panelaços esparsos em Porto Alegre.


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