A confirmação dada pelo governo federal da retirada da Trensurb do Plano Nacional de Desestatização (PND) — que inclui estatais listadas para privatização –, no início do mês de março, reacendeu os esforços para garantir a inclusão de um projeto de expansão da operação do trem para a zona norte de Porto Alegre até Alvorada. O presidente da Trensurb, Fernando Marroni, e a deputada estadual Stela Farias (PT), presidente da Frente Parlamentar pela Implantação da Linha Nordeste, estiveram nesta semana em Brasília para tratar, entre outras coisas, da possibilidade de expansão.
Em conversa com o Sul21, Marroni pontua que o grande avanço concreto recente é a retirada da empresa do PND, mas ressalta que essa decisão passa a permitir que o projeto de expansão seja apresentado no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) do governo federal como uma demanda para o Rio Grande do Sul. “A grande notícia é a possibilidade dessa expansão, que estava sem nenhuma perspectiva com a empresa no PND”, diz.
Ele explica que o projeto para expansão da operação ainda está em fase de estudo de demanda no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e que também será necessário realizar o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambienta (EVETEA). Marroni acredita que o BNDES deve concluir o estudo de demanda, no mais tardar, até o final de junho. Em seguida, se poderia fazer um pré-projeto para apresentação no PAC e, uma vez concluídos todas as etapas necessárias, realizar o projeto executivo.
O projeto de expansão tem como ideia estender 16 km no sentido noroeste de Porto Alegre, saindo da estação Aeroporto ou Farrapos com direção a Alvorada — a ser definido na fase de estudos. Também prevê a construção de 11 novas estações. “Seria mais ou menos a mesma extensão que ocorreu em 2014, com a expansão para São Leopoldo”, diz.
Em Alvorada, a ideia seria construir uma estação de integração com outros modais de transporte para quem vem do Vale Gravataí. “A gente teria uma demanda de 100 mil passageiros somando a demanda dessa região e de Alvorada.
Marroni pontua que a estimativa de custo para a obra é de R$ 5 bilhões, mais cerca de R$ 1 bilhão para a troca de trens que seria necessária para a nova operação. “A estimativa total é de cerca R$ 6 bilhões, mas vai depender do traçado, se vai ser de superfície, se vai ter uma parte subterrânea, o que encarece bastante”, diz.
A deputada Stela Farias lembra que a ampliação da operação para a zona norte de Porto Alegre já estava prevista quando da inauguração da Trensurb, há quase 40 anos. “Isso daria, obviamente, um efeito de transporte importante para uma população de baixa renda que habita essa região, tanto na zona norte de Porto Alegre, como em Alvorada, que segue sendo um dos piores índices de desenvolvimento per capita do RS, uma cidade eminentemente dormitório, que consegue empregar cerca de 15% de sua população. O restante da população economicamente ativa de Alvorada se desloca buscando trabalho e renda fora da cidade”, diz.
Stela afirma que a instalação da frente parlamentar, ainda em 2023, ocorreu porque os deputados se deram conta de que seria preciso travar uma batalha dentro do governo Lula para a retirada da empresa do PND e, como um segundo desafio, promover a retomada das discussões sobre a expansão para a linha nordeste.
Na segunda-feira (18), a frente realizou uma reunião na Assembleia e, nesta terça (19), Stela viajou a Brasília, onde conversou sobre o tema com a secretária executiva da Casa Civil do governo federal, Miriam Belchior. “Ela disse que é uma obra que poderá acontecer, claro, mas que ainda está em passos anteriores de chegar a ser uma realidade”, diz.
Stela pontua que um dos passos necessários é garantir os recursos para a realização do EVETEA, estimados em R$ 5 milhões. A deputada diz que o senador Paulo Paim (PT-RS) e a deputada federal Reginete Bispo (PT-RS) estão trabalhando com a pauta no Congresso Nacional e a ideia, segundo Stela, é de que a bancada federal gaúcha como um todo atue em prol do projeto. Paim, como senador, pode propor a inclusão de obras no PAC. De forma mais imediata, Stela está pleiteando que o senador trabalhe para garantir os cerca de R$ 5 milhões necessários para garantir a realização do EVETEA.
Para a deputada, o processo atual está ainda em fase de organização do sonho e de articulação do apoio político para que ele possa se transformar em realidade, mesmo que a longo prazo. “Eu não tenho ilusão de que teremos notícias alvissareiras, por exemplo, até o pleito eleitoral. Não teremos. Não estamos aqui para criar expectativas falsas ou parecer oportunismo eleitoral, a gente está buscando exatamente saber que tipo de narrativas fazer sobre a possibilidade real disso acontecer. E tem, mas não é uma coisa para hoje ou para amanhã. Nós precisamos ter os projetos prontos, para aí disputarmos como vamos captar esse recurso, da ordem de R$ 5 bilhões. É, portanto, uma obra de magnitude orçamentária”, afirma.
Já Marroni avalia que o emprego dos esforços pelas bancadas estadual e federal junto à União terão resultado positivo. “A nossa expectativa é muito grande, mas, com a força desta frente parlamentar da Assembleia e da nossa bancada federal, eu tenho certeza que vamos conseguir conquistar esse objetivo de ampliar a Trensurb”, diz o presidente da estatal.
