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24 de maio de 2024
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15:00

Nível do Guaíba volta a subir rapidamente nesta sexta

Por
Luís Gomes
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Imediações do Cais na terça-feira (21). Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Imediações do Cais na terça-feira (21). Foto: Isabelle Rieger/Sul21

O nível do Guaíba voltou a apresentar tendência de elevação rápida ao longo desta sexta-feira 24). De acordo com os dados captados no Cais Mauá, em Porto Alegre, pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), divulgados no painel da Agência Nacional de Águas (ANA), o Guaíba atingiu a marca de 4,11 m por volta das 14h15, o que representa 25 cm em relação ao nível mais baixo atingido nesta sexta, 3,86 m.

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Diante da rápida elevação, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) informa que está monitorando a situação, mas que ainda não decidiu fechar as comportas, uma vez que a água que que está dentro da cidade continuaria a sair pelos espaços entre o muro. Em caso de necessidade, o DMAE informa que as comportas serão fechadas.

Em coletiva realizada nesta quinta-feira (23), ex-diretores do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) e do DMAE criticaram a decisão de abrir as comportas do sistema de proteção contra inundações da cidade, decisão tomada no dia 19. “Eu não teria aberto a comporta do muro. Quando se abre a comporta do muro, perde-se o controle da relação lago-cidade”, afirmou o engenheiro Augusto Damiani.

Em boletim divulgado nesta sexta, professores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS) informam que a previsão de momento é de manutenção dos níveis elevados do Guaíba nos próximos dias, mantendo-se acima da cota de inundação ao longo da próxima semana inteira.

“A principal preocupação do momento é como será a descida, duração em níveis elevados e potencial subida, devido ao vento forte de hoje e a resposta a precipitação ocorrida esta semana na bacia”, diz o boletim.

Os professores destacam que, após o repique da semana passada, os rios afluentes ao Guaíba apresentavam redução dos níveis, sendo os baixos Taquari e Cai já em recessão em níveis moderados a baixos, e Sinos e Jacuí elevados a moderados com redução lenta. Contudo, desde terça-feira (21), houve elevado acumulado de precipitação, chegando a mais de 100 mm no sul do Estado, principalmente na quarta-feira (22). Na quinta-feira ocorreu forte chuva na região central, pegando a bacia do Jacuí e causando alagamentos Na Região Metropolitana de Porto Alegre. Esta chuva causou nova elevação nos rios Jacuí, baixo Taquari, Sinos e Gravataí.

A previsão para as próximas 24h é de precipitação de até 30 mm em partes do Estado, mas também há expectativa de vento sul forte durante a tarde e noite desta sexta, chegando até 50 km/h, e persistindo durante o final de semana. O vento sul propicia o aumento do nível do Guaíba. Também há previsão de até 70 mm de chuva entre segunda (27) e terça-feira (28) no leste do Estado.

Já o boletim do monitoramento hidrológico divulgado pela Sala de Situação da Sema e Defesa Civil do Estado afirma que, em função desses volumes de chuva registrados nas últimas 24h, observa-se novas elevações na Região Hidrográfica do Guaíba, podendo atingir cotas acima da inundação nos deltas das bacias do Caí e Jacuí, assim prolongando as cheias do Guaíba e a lenta propagação para a Laguna dos Patos.

“Os rios Taquari, Sinos e Gravataí apresentam novas elevações, com níveis elevados em cotas de alerta nas regiões mais baixas. O nível do Guaíba apresentou lento declínio nos últimos dias, mas segue em níveis elevados e com prolongamento da cheia, no momento com uma pequena elevação do nível conforme os acumulados de chuva na região e da atuação dos ventos do quadrante sul que represam as águas. Quanto à Laguna dos Patos, ela continua variando em níveis elevados, com tendência de elevação também em função dos ventos sul. Com o cessar das chuvas, espera-se o declínio constante dos níveis em praticamente todas as bacias, mas com persistência de níveis elevados para a região da confluência com o Guaíba e da Laguna”, diz o boletim.

Durante a quinta-feira, manifestações de jornalistas e veículo, como a Metsul, apontaram uma discrepância entre o nível divulgado pela medição da Sema e o que se verificava presencialmente no Cais Mauá. A controvérsia ocorreu porque a medição oficial apontava que o nível do Guaíba estava próximo doas 4 m, enquanto a avaliação visual no Cais indicava que a água está próxima da cota de inundação, que é de 3 m. Na tarde desta sexta, por exemplo, a Metsul divulgou uma edição de 3,36 m, feita pela régua da empresa TideSat.

Ainda na quinta, a Sema divulgou uma manifestação sobre a controvérsia. Confira a seguir:

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), com auxílio do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), instalou, no início de maio, uma estação emergencial de monitoramento do nível do Lago Guaíba junto à Usina do Gasômetro, em Porto Alegre. A medida emergencial buscou garantir dados de referência sobre o comportamento do curso hídrico, diante da inoperância da histórica estação oficial localizada no Cais Mauá, nas proximidades da estação rodoviária.

Em 3 de maio, uma régua própria para esse tipo de medição foi posicionada onde o acesso era possível em meio à cheia, por profissionais do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS) do Estado e por técnicos do SGB.

O DRHS explica que a utilização de réguas manuais está prevista em casos emergenciais ou em pontos onde não há telemetria. Entretanto, o departamento alerta que o uso de recursos caseiros (trena, fita métrica etc.) para medir níveis de rios, sem um estudo técnico ou sem a atuação de um profissional capacitado, não é uma prática aceita como parâmetro para qualquer tipo de aferição.

Para fins de transparência, a metodologia adotada pelo corpo técnico está descrita e apresentada juntamente com os dados disponibilizados. O monitoramento emergencial tem sido acompanhado por profissionais da Sala de Situação do Estado e por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que emitem previsões a partir de modelos matemáticos.

Na quinta-feira (23/5), pesquisadores da universidade emitiram uma nota afirmando que uma possível diferença na referência de níveis não afeta o resultado das previsões emitidas pelo IPH/UFRGS e acrescentaram que, a cada rodada do modelo de previsão, é adotada a referência oficial atual da Sema, do SGB e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Segundo os pesquisadores, todas as variações relativas de subida e descida do Guaíba foram bem representadas.

Ainda que haja necessidade de ajustes futuros, o que é comum em hidrologia, inclusive com respaldo da literatura da área, as medições emergenciais na Usina do Gasômetro não impediram a adequada atuação das estruturas de resposta e disparo de alertas à sociedade, uma vez que a cota de inundação, fixada em 3 metros na estação histórica do Cais Mauá, já havia sido superada antes mesmo da instalação do ponto emergencial de monitoramento.

Para fins de registro histórico, a cota máxima do nível do Guaíba deverá ser avaliada detalhadamente quando houver condições técnicas para isso.


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