Geral
|
23 de maio de 2024
|
18:16

Melo diz que Prefeitura ‘não foi pega de surpresa’ com as chuvas que voltaram a alagar a Capital

Por
Luciano Velleda
[email protected]
Com a cidade em novo dia de caos, o prefeito Sebastião Melo concedeu entrevista coletiva para falar sobre o enfrentamento da enchente. Foto: Julio Ferreira/PMPA
Com a cidade em novo dia de caos, o prefeito Sebastião Melo concedeu entrevista coletiva para falar sobre o enfrentamento da enchente. Foto: Julio Ferreira/PMPA

O alagamento de ruas e regiões que não costumam sofrer com tal problema foi uma das principais situações enfrentadas pelos porto-alegrenses nesta quinta-feira (23). Na Zona Sul, na Restinga ou no Parque da Redenção, o que se viu foram cenas da rápida elevação do nível d’água causada pela chuva que atinge a cidade desde a madrugada. Apesar dos avisos e análises dos institutos de meteorologia, o prefeito Sebastião Melo (MDB) declarou que a Prefeitura não cometeu erros ao não ter alertado a população sobre o que poderia acontecer.

Leia mais:
Bairros alagam depressa e diretor do Dmae diz que chove ‘além do que os modelos previam’
Engenheiros do Dmae alertaram sobre riscos no Centro, Menino Deus e Sarandi em novembro
Mathias Velho: o bairro onde cresci no epicentro do fim do mundo
Marketing ou impacto social? Empresas ajudam de formas diferentes na tragédia das enchentes no RS
Capital tem 100 mil imóveis vagos, mas Melo diz que não há unidades para todos os desabrigados
Tragédia histórica expõe o quanto governo Leite ignora alertas e atropela política ambiental

Em coletiva de imprensa, o prefeito disse que a intensidade das chuvas superaram as previsões – ainda que os institutos de meteorologia já falassem em chuvas entre 60 mm e 100 mm. As causas dos alagamentos em áreas não habituais também seria consequência do entupimento da rede de escoamento da Capital, com bueiros e bocas de lobo cheias devido ao excesso de lixo e entulhos nas ruas, consequência da enchente que atingiu diversos bairros de Porto Alegre nas últimas semanas.

Melo disse compreender a dor dos porto-alegrenses e pediu união. “A Prefeitura não foi pega de surpresa, mas a chuva intensa caiu concentrada. A quantidade de chuva foi excessivamente forte pela manhã”, justificou. Desde que a água começou a baixar, nos últimos dias, em alguns dos bairros mais atingidos pela histórica enchente, o prefeito explicou que o governo municipal concentrou esforços nos “30%” da cidade mais afetada pela enchente, enquanto os outros 70% não puderam ser atendidos da mesma forma.

“As causas da inundação não são uma só”, conjecturou Melo, procurando dividir responsabilidades pelo que aconteceu em Porto Alegre ao longo do mês de maio. Sem se referir às inúmeras denúncias de sucateamento do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) e à falta de manutenção do sistema de defesa que protege a Capital de enchentes, o prefeito optou por envolver o governo federal e municípios do interior e da região metropolitana nas causas da inundação.

“Sou um estudioso em cidades. Posso afirmar que esse tema não se resolve só com a proteção de cheia em Porto Alegre”, defendeu. Ao abordar o entupimento de bueiros e bocas de lobo, Melo então reconheceu que o trabalho rotineiro de limpeza talvez possa melhorar, ao mesmo tempo em que criticou a existência de lixo nas ruas. “Tem problema sim de bueiro, muitos entupidos, mas porque o lixo chega.”

Diversos bairros da Capital estiveram inundados durante metade do mês de maio e somente nos últimos dias a água começou a baixar em algumas regiões, como Menino Deus, Cidade Baixa e 4º Distrito, trazendo à tona toneladas de entulho e lixo. Em algumas localidades, inclusive, a Prefeitura pediu para os moradores colocarem os dejetos nas calçadas para ajudar no processo de limpeza da cidade.

Durante a coletiva, o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, anunciou que as comportas 3, 11, 12, 13 e 14, que protegem a cidade do Guaíba, serão novamente fechadas. A razão é a expectativa de que o nível do Guaíba possa subir até 50 cm, a partir desta sexta-feira (24), com a chegada das águas trazidas pelos rios Jacuí, Sinos, Gravataí e Caí após também chover na cabeceira destes rios.

Loss explicou que a abertura das comportas ajudou a escoar a água dos bairros alagados de volta para o Guaíba, porém, com a previsão de nova subida das águas, agora elas serão novamente fechadas.

Questionado sobre o funcionamento das casas de bomba, que escoam a água dos bairros, o diretor-geral do Dmae tentou explicar as dificuldades encontradas pelas equipes técnicas. Durante o pico da enchente no começo de maio, das 23 casas de bombas, 19 pararam de funcionar, seja por alagamento ou corte de luz. No momento, 10 casas de bombas estão em operação, ainda que não plenamente.    

“Pessoal, nem todas estão aptas a funcionar, mas não foi por falta de esforço, pessoal”, declarou. “Seguimos sempre atuando, pessoal”, continuou, ao explicar a situação das casas de bombas 12, 15 e 16, que escoam a água dos bairros Cidade Baixa e Menino Deus, além da 13, ainda fora de operação. “As redes estão muito assoreadas por conta de todo o alagamento. Uma água muito barrenta que começa a se decantar e tira a capacidade de fluir pelas redes até chegar as estações de tratamento”, explicou.

Cálculos da Prefeitura estimam que 1.081 km de redes tenham sido afetadas pela histórica enchente. Para esta sexta-feira (24), a previsão é que a chuva continue, porém mais fraca, e que o vento sul sopre bem mais forte – o que dificulta o escoamento das águas do Guaíba. A partir de sábado, a previsão é de que não haja mais chuvas por alguns dias.


Leia também