Geral
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21 de novembro de 2023
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19:46

Embaixo d’água, operação da Trensurb entre Mercado e São Pedro não tem data de retorno

Por
Luciano Velleda
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Nível da água deixou trilhos submersos. Foto: Luiza Castro/Sul21
Nível da água deixou trilhos submersos. Foto: Luiza Castro/Sul21

Do alto do elevado na Avenida Voluntários da Pátria, esquina com a Avenida Sertório, Giuliano Boeck observa a linha da Trensurb completamente submersa nas águas do Guaíba. O olhar do chefe de segurança da empresa de trens urbanos é um misto de incredulidade e calma. Do muro de contenção que separa o trilho da avenida ao lado, com cerca de quatro metros de altura, resta só a ponta de fora.

O trecho inundado é responsável pela interrupção da circulação dos trens entre as estações São Pedro e Mercado Público desde a tarde de segunda-feira (21). E assim deve permanecer pelos próximos dias. Boeck conta que a inundação do trilho aconteceu de forma muito rápida. “Foi coisa em torno de 10 minutos. Estávamos monitorando com câmeras, foi muito rápido.”

Segundo o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), a comporta de número 13 (dentre as 14 comportas que protegem a região central de Porto Alegre da cheia do Guaíba), localizada bem no cruzamento das avenidas Voluntários da Pátria e Sertório, estava fechada há anos de forma permanente e cedeu com a força das águas.

 

Alagamento impede circulação até o Mercado, no centro da Capital. Foto: Luiza Castro/Sul21

A cena impressiona o chefe de segurança da Trensurb e outros colegas ao lado. Apesar do impacto, ele afirma que as medidas de segurança foram todas adotadas. Ali perto, atrás da Igreja dos Navegantes, há uma subestação de energia da Trensurb que garante a interrupção de energia elétrica entre a estação São Pedro e o Mercado Público. O sistema elétrico do trem de superfície é controlado por trechos, o que permite mantê-lo em funcionamento da estação Farrapos até Novo Hamburgo, enquanto outra parte está desligada.

Desde a segunda-feira (20), a Trensurb colocou à disposição dos passageiros uma linha de ônibus emergencial com início no Mercado Público e destino à estação Farrapos. A linha é direta e não faz paradas durante o percurso. Em reunião entre Prefeitura, Metroplan e Trensurb nesta terça-feira (21), ficou decidido que a partir de amanhã (22), entre 6h e 20h, seis veículos das empresas que operam o transporte metropolitano irão reforçar o atendimento entre as estações, sendo um deles um ônibus articulado. No horário de pico, a população terá 16 coletivos para os deslocamentos.

Boeck não arrisca prever quando o trecho será liberado. Assim que a comporta rompida for consertada, o que se espera que aconteça ainda nesta terça-feira (21), a Trensurb colocará em operação a Casa de Bombas, com três potentes motores que bombearão a água que inundou o trilho de volta para o Guaíba.

 

Luis Pelet, de blusa vermelha, ao lado do genro Edson, aguarda a água baixar para reabrir a oficina. Foto: Luiza Castro/Sul21

Há duas quadra dali, na esquina da avenida Voluntários da Pátria com a rua Dr. João Inácio, Luis Pelet aparenta tranquilidade, sentado à sombra na calçada, na companhia de seu genro. Ele é o dono da Vulcanizadora Trevo, oficina mecânica que as águas do Guaíba inundaram na noite passada. Salvou-se o que foi possível salvar. Um determinado motor fixo no chão, usado para consertar pneus de caminhão, provavelmente foi perdido.

Há 22 anos com o negócio na mesma esquina, Pelet conta estar acostumado com alagamentos, mas não como o ocorrido agora ou em setembro. Antes das inundações deste ano, lembra da enchente de 2015. A experiência deve ser a resposta da sua aparente tranquilidade.

“Agora não tem o que fazer, tem que esperar a água baixar”, explica.

Aos prejuízos materiais com a enchente na oficina somam-se os dias perdidos de trabalho. A Cootravipa é a principal cliente de Pelet. Os tratores, carros e dezenas de caminhões da frota da empresa responsável pela limpeza urbana da Capital, são todos consertados e com manutenção feita na oficina de Pelet. A oficina fechada significa cliente não atendido, ou seja, prejuízo. Além da Cootravipa, outros clientes também estão sendo informados de que a oficina não tem dia certo para reabrir.

A incerteza é acrescida da previsão do tempo. O retorno da chuva deve atingir Porto Alegre a partir desta quarta-feira (22).

Enquanto Pelet espera a água baixar para reabrir a oficina e o chefe de segurança da Trensurb planeja liberar o trilho do trem, na mesma esquina da Voluntários da Pátria com a Sertório, um grupo de crianças aproveita a inundação para mergulhar no asfalto, se refrescando na improvável “piscina natural” formada pela maior enchente do Guaíba desde 1941.

 

Foto: Luiza Castro/Sul21

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